Dois antigos ministros do Governo português integram agora o comité consultivo da Savannah Resources, empresa que lidera o controverso projeto da mina de lítio do Barroso, no concelho de Boticas, distrito de Vila Real. A nomeação de Luís Mira Amaral e Luís Amado foi anunciada esta segunda-feira, juntamente com a inclusão de Carlos Caxaria e Astrid Karamira, numa tentativa de reforçar o apoio estratégico à implementação da mina a céu aberto.
A Savannah Resources obteve, em 2023, uma Declaração de Impacte Ambiental (DIA) condicionada e tem como meta iniciar a produção de lítio em 2027. Este projeto tem sido alvo de duras críticas por parte de movimentos ambientalistas e da população local, mas conta com o estatuto de “projeto estratégico” atribuído pela Comissão Europeia.
Segundo Emanuel Proença, presidente executivo da empresa, o novo comité consultivo “enriquece o debate estratégico e ajuda a antecipar os vários desafios e oportunidades que se apresentam ao nosso projeto e a todos os parceiros nele envolvidos”. O comité terá como função principal fornecer análises, recomendações e orientações para garantir a viabilidade e a sustentabilidade da mina do Barroso. A sua composição poderá evoluir e prevê-se que reúna regularmente com a liderança da Savannah.
Perfis dos membros do comité
Luís Mira Amaral, antigo ministro do Trabalho e da Indústria, tem uma longa carreira no setor energético e tecnológico. Leciona no Instituto Superior Técnico e presta atualmente consultoria em inovação tecnológica. Luís Amado, por sua vez, ocupou pastas como a da Defesa Nacional e dos Negócios Estrangeiros, além de ter desempenhado cargos em instituições financeiras e ser membro de vários conselhos consultivos nacionais e internacionais.
Carlos Caxaria traz uma vasta experiência no setor mineiro, tendo presidido à Empresa de Desenvolvimento Mineiro (EDM) e exercido funções na Direção-Geral de Energia e Geologia. Já Astrid Karamira destaca-se pelo seu conhecimento técnico em cadeias de abastecimento minerais e no mercado do lítio, com enfoque em práticas de fornecimento responsável.
Polémica continua a marcar o projeto
Apesar do reforço institucional da Savannah Resources, a mina do Barroso continua a gerar divisões profundas. A associação Unidos em Defesa de Covas do Barroso, a MiningWatch Portugal e a organização ambientalista internacional ClientEarth apresentaram recentemente uma queixa à Comissão Europeia, contestando o apoio atribuído ao projeto. As organizações afirmam que a Comissão “falhou na correta avaliação dos riscos ambientais e sociais”.
A empresa refutou as críticas, acusando os opositores de “espalhar mentiras” e de “reciclar argumentos já refutados”. Sublinhou ainda o potencial estratégico do projeto para a transição energética europeia, apontando que o lítio extraído será suficiente para abastecer anualmente mais de meio milhão de baterias para veículos elétricos – três vezes o total de automóveis vendidos em Portugal num ano.
Futuro incerto
Com o calendário a apontar para o início das operações em 2027, a Savannah Resources aposta na credibilidade e influência dos novos membros do comité consultivo para consolidar o seu plano. No entanto, a contestação local e internacional mantém-se ativa, exigindo maior escrutínio sobre os impactos ambientais, sociais e económicos do que poderá tornar-se uma das maiores minas de lítio da Europa.