O consumo mundial de petróleo deverá começar a recuar a partir de 2030, marcando uma viragem histórica no uso do combustível fóssil mais poluente do planeta, segundo revelou esta terça-feira a Agência Internacional de Energia (AIE). Esta será a primeira queda estrutural no consumo global desde o ano excecional de 2020, dominado pelos efeitos da pandemia da Covid-19.
De acordo com o relatório agora divulgado pela AIE — organismo que integra a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) —, a procura global por petróleo atingirá o seu ponto máximo no final desta década, situando-se em cerca de 105,5 milhões de barris por dia. A partir daí, espera-se uma ligeira mas sustentada diminuição, refletindo mudanças profundas nas tendências económicas e tecnológicas mundiais.
Nos Estados Unidos, maior consumidor de petróleo do planeta, esta viragem deverá ocorrer já em 2026. Na China, segunda maior economia e consumidor global, o declínio começará em 2028. Estes dois países são vistos como termómetros da evolução do mercado global de energia, e o seu recuo antecipa a tendência que se deverá generalizar nos anos seguintes.
Apesar de contextos de tensão geopolítica, como o conflito entre Israel e o Irão, manterem o foco nos riscos imediatos para a segurança energética, a AIE defende que a oferta mundial de petróleo continuará a crescer de forma mais acelerada do que a procura, criando um novo equilíbrio no mercado.
Entre 2024 e 2030, a procura mundial de petróleo ainda aumentará cerca de 2,5 milhões de barris por dia, atingindo o seu pico em 2029. Contudo, o crescimento anual desacelerará de forma significativa, passando de cerca de 700 mil barris por dia em 2025 e 2026, para um crescimento quase nulo nos anos seguintes, até entrar em declínio já em 2030.
Para a AIE, esta inversão não é um acaso, mas sim o reflexo de várias dinâmicas simultâneas. Por um lado, destaca-se o abrandamento do crescimento económico mundial, influenciado por tensões comerciais persistentes e desequilíbrios fiscais. Por outro lado, ganha força a substituição do petróleo por fontes de energia alternativas, especialmente no setor dos transportes, onde os veículos elétricos estão a conquistar terreno de forma consistente. Também no setor da produção energética se nota um movimento claro de afastamento dos combustíveis fósseis.
As previsões da AIE contrastam fortemente com as da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que rejeita qualquer cenário de declínio na procura. Em setembro de 2024, a OPEP considerou a eliminação progressiva dos combustíveis fósseis uma “fantasia”. Esta segunda-feira, durante a conferência Energy Asia, em Kuala Lumpur, o secretário-geral da OPEP, Haitham Al-Ghais, reafirmou a sua posição, garantindo que “a procura de petróleo atinge novos recordes todos os anos” e que a ideia de um pico de consumo “foi provada errada vezes sem conta”.
Apesar do ceticismo da OPEP, a AIE mantém a sua projeção: o mundo está prestes a entrar numa nova fase energética. Ainda que a descida prevista para 2030 seja ligeira, ela poderá marcar o início de uma mudança de paradigma com implicações profundas para a economia global, o ambiente e a geopolítica do século XXI.