O Conselho de Redação da RTP manifestou sérias reservas quanto à legalidade e legitimidade da recente reestruturação editorial promovida pela administração da estação pública. Em comunicado emitido após uma reunião extraordinária, os membros eleitos deste órgão denunciam ter sido completamente afastados de decisões que afetam diretamente o funcionamento da redação e a orientação editorial da empresa.
Os representantes dos jornalistas acusam o Conselho de Administração de ter comunicado a exoneração da direção de informação, liderada por António José Teixeira, sem qualquer consulta prévia. Este procedimento, afirmam, viola princípios legais fundamentais que impõem a participação do Conselho de Redação em decisões estruturantes para o jornalismo da RTP.
“Os MECR-TV [Membros Eleitos do Conselho de Redação da televisão] manifestam a sua profunda preocupação com a forma como este processo foi conduzido. A sua exclusão do processo de reestruturação levanta sérias dúvidas quanto à transparência e legitimidade da decisão tomada”, lê-se no documento.
Segundo os MECR-TV, o afastamento da direção de informação, a definição de uma nova estrutura editorial e a apresentação do novo organograma ocorreram sem diálogo ou acesso prévio à proposta. Esta atitude, afirmam, compromete a confiança entre a redação e a administração da RTP.
A principal inquietação prende-se com a ausência de uma explicação clara sobre a mudança de direção editorial. “Qual é a visão editorial que o Conselho de Administração pretende implementar?” e “qual a razão da perda de confiança na anterior direção de informação, agora afastada?”, questionam.
Os membros exigem agora a apresentação detalhada do novo projeto de reestruturação editorial e a garantia de que terão participação efetiva em todas as decisões futuras com impacto na linha editorial da RTP.
A polémica surge na sequência da nomeação do jornalista Vítor Gonçalves como novo diretor de informação. Com 33 anos de carreira na RTP, Gonçalves assume a direção de informação linear e digital, além da RTP3, substituindo António José Teixeira, que liderava a redação desde janeiro de 2020.
As mudanças não se limitam à informação. Teresa Paixão (RTP2), Nuno Galopim (Antena 1, RDP África e RDP Internacional) e Isabel Marques (comercial, digital e rádio) também deixam os respetivos cargos. A nova estrutura reduz o número total de direções de 39 para 28, organizando-se em quatro grandes áreas: corporativa, operações, conteúdos temáticos e conteúdos programáticos.
Apesar da nova configuração organizativa, o descontentamento dos jornalistas da RTP lança uma sombra sobre a legitimidade do processo e coloca sob escrutínio público as decisões do Conselho de Administração, numa altura em que a confiança e a transparência são cruciais para o serviço público de comunicação social.