Quando o poder se serve do povo como pasto — Do socialismo ibérico à decadência da moral pública Baseado da obra “Os Deuses Têm Sede”, de Anatole France

A sede dos deuses modernos
Em Os Deuses Têm Sede, Anatole France conduz-nos aos corredores sombrios da Revolução Francesa, onde o terror político se mascarava de virtude, e a guilhotina era o instrumento da justiça social. Mas o verdadeiro desespero não vinha da lâmina: vinha do olhar vazio dos que julgavam em nome do povo. A mesma sede de justiça, de pureza ideológica, de redenção social, leva hoje os povos da Península Ibérica a submeterem-se — mais uma vez — à tirania dos seus próprios salvadores.
É neste contexto que devemos compreender o presente: os últimos redutos do socialismo tradicional europeu — nomeadamente o PSOE de Pedro Sánchez em Espanha e o Partido Socialista de António Costa em Portugal — mostram-se como os últimos deuses sedentos, embriagados pelo poder, sustentados pela manipulação mediática e corroídos por escândalos de corrupção, tráfico de influências, e até prostituição financiada com dinheiro dos contribuintes.
Espanha e o governo da mentira: o preço do poder
O que se passa em Espanha não é apenas uma crise governativa. É o colapso de uma ética. Pedro Sánchez chegou ao poder com promessas de estabilidade, progresso e respeito pelas instituições democráticas. No entanto, para lá chegar, e sobretudo para lá se manter, fez pactos com tudo aquilo que outrora dizia combater: independentistas catalães, nacionalistas bascos e até o EH Bildu, herdeiro político da ETA — um grupo com sangue de inocentes nas mãos.
A comunicação social, amplamente dominada pela esquerda, assiste impávida. O escândalo que envolve alegações de uso de serviços de prostituição pagos com fundos públicos, sob investigação judicial, seria manchete mundial se o protagonista fosse o PP. Mas como é o PSOE, reina o silêncio cúmplice, a omissão estratégica. O duplo padrão é evidente. E assim se consome o espírito da justiça.
Este é o verdadeiro “banquete dos corruptos”: onde ministros se deliciam com privilégios e a imprensa serve à mesa como criada de luxo. O povo, esse, continua a pagar a conta — em impostos, em inflação e em dignidade.
O espelho português: da geringonça ao colapso moral
O paralelismo com Portugal é inevitável. A “geringonça” de 2015 foi a primeira mesa montada para este banquete. Com o apoio do Bloco de Esquerda, do PCP e outros partidos antissistema, António Costa construiu uma maioria artificial com base em alianças ideológicas contraditórias, unidas apenas pelo apetite voraz pelo poder.
O resultado foi previsível: ministros e secretários de Estado sucessivamente envolvidos em casos de corrupção, negócios obscuros, tráfico de influências e compadrios. A cereja no topo do bolo foi a maioria absoluta de 2022 — um voto de confiança dado a um governo já em acelerado estado de decomposição moral. Meses depois, o governo caía, atolado em investigações criminais, buscas policiais e demissões em catadupa. A História, como dizia Marx, repete-se: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa.
O povo português acordou tarde, mas acordou. Nas eleições de 2025, o PS caiu para terceira força política. Um sinal claro de que o povo já não acredita nas promessas de um socialismo que há muito deixou de ser idealismo e passou a ser clientelismo puro.
A comunicação social como braço armado do regime
Tal como no tempo da Revolução Francesa, quando os jacobinos usavam os panfletos e os jornais para difamar, acusar e silenciar, também hoje os grandes meios de comunicação social tornaram-se meros altifalantes da narrativa dominante. O comentário que um cidadão anónimo escreveu nas redes sociais é, por si só, um retrato fiel do que se vive:
“Imagine-se o que seria, se em vez dos socialistas do PSOE, fosse o PP, o que não iria para aí de reportagens e diretos a toda a hora…”
Tem razão. Se o escândalo de corrupção e prostituição em Espanha envolvesse a direita, teríamos diretos televisivos, indignações em horário nobre e protestos organizados em frente aos parlamentos. Mas como são socialistas, reina o silêncio. A esquerda tornou-se especialista em camuflar os seus crimes sob a capa da virtude moral.
O fim do socialismo europeu: uma inevitabilidade histórica
Portugal já deu o primeiro passo: o PS foi reduzido a um papel secundário. Espanha caminha para o mesmo destino. O socialismo europeu — na sua versão ibérica — perdeu a alma, perdeu a ética, perdeu o povo. É uma ideologia que já não propõe caminhos: apenas se ocupa em manter o seu lugar à mesa. Alimenta-se da culpa histórica, do medo do passado, da chantagem emocional e da perpetuação de desigualdades que diz combater.
Mas os povos estão a acordar. E quando acordam, têm memória. Recordam os favores aos amigos, as empresas-fantasma que recebem milhões, os ministros que frequentam bordéis com dinheiro do Estado, os jornalistas que vendem a verdade por um jantar em São Bento ou La Moncloa.
O fim está próximo. Não por vontade da direita, mas por autodestruição da própria esquerda. A implosão do PS e do PSOE é o reflexo natural de décadas de promessas não cumpridas e de valores traídos.
Quando os deuses caem da mesa
Em Os Deuses Têm Sede, o terror termina quando o povo já não teme. Quando percebe que os deuses não têm sede de justiça, mas de sangue — e que o seu trono é de papel.
Hoje, os deuses socialistas da Península Ibérica enfrentam o mesmo destino. As suas sedes de poder, luxúria e privilégio correm agora o risco de ser saciadas com a água amarga da verdade. Em Portugal, o povo já puxou a toalha. Em Espanha, os copos ainda tilintam, mas o vinho já está a acabar.
O verdadeiro “banquete dos corruptos” está a terminar. E desta vez, os deuses beberão sozinhos.
Quem é José de Alenquer?
Observador atento da realidade, apaixonado por palavras e pelo seu poder de revelar o que muitas vezes é deixado nas entrelinhas. Partilha ideias, reflexões e ensaios sobre o que nos rodeia — a sociedade, a cultura, os desafios do nosso tempo.
Escreve para questionar, para despertar consciências, para recordar que o pensamento não deve ser conduzido, mas sim cultivado com liberdade e responsabilidade. Não procura consensos fáceis. Procura fidelidade à verdade, mesmo quando ela incomoda. Acredita que a escrita pode e deve iluminar zonas sombrias, abrir janelas num país onde tantas portas se mantêm fechadas.
Cada palavra é escolha, cada texto é convite à reflexão. José de Alenquer convida a pensar livremente e a ler com atenção. Apenas deseja que cada um construa o seu próprio caminho.
José de Alenquer é um cidadão que se recusa a viver calado, num país onde o pensamento livre se tornou perigoso. Acredita que o verdadeiro perigo não está em dizer o que se pensa — mas em aceitar o silêncio imposto por medo de represálias.
Nos seus textos não existem filtros, mas sim factos. Não há slogans vazios, há análises fundamentadas. Escreve por ele próprio — mas talvez também com cada um de vós.
Porque ainda há quem não se conforme. Ainda há quem lute. E Portugal merece mais do que a mentira confortável de quem vive do sistema.
José de Alenquer
Quem observa em silêncio, escreve com verdade.