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António Borges Coelho Um amigo, um irmão

O meu amigo, Professor Doutor Jorge Rezende, acaba de me telefonar dando a triste notícia do falecimento de uma pessoa muito querida, que marcou sobremaneira a minha existência. Sei que não somos eternos, estamos aqui de passagem, mas dói quando os irmãos partem, a começar com os de sangue, depois os do peito, deixando um vazio por preencher e o coração a sangrar.

No dia 20 de Agosto de 2025, quando telefonei ao meu querido amigo, Professor Doutor António Borges Coelho, informou-me que estava na Casa de Professores, Avenida Pedro Álvares Cabral, 150, Carcavelos.

Chocado, visitei-o no dia seguinte. Custou-me vê-lo sentado na cadeira de rodas. Apesar de estar debilitado e naquela situação pouco cómoda, quando me viu, brindou-me com um largo sorriso fraterno e carinhoso, que jamais esquecerei. Ofereceu-me o seu livro Poemas, colectânea dos seus poemas, editado pela Caminho, em Agosto de 2025, que iria ser lançado na Festa do Avante, no mês seguinte, com a seguinte dedicatória: Ao Valentino Viegas Um amigo de verdade Com um abraço do fundo do coração. António Borges Coelho, Carcavelos, 21 de Agosto de 2025. Chorei em silêncio, contendo as lágrimas por derramar, quando me leu, de forma sentida e pausada, o seu poema “Cravo Branco”, escrito no dia em que casou com a sua mulher Isaura, no forte de Peniche, em 3 de Janeiro de 1959, onde se encontrava preso.

A primeira e a última quadra rezam assim (p.72): Como está pronta a terra para a semente Assim estavas debaixo do meu braço Os nossos corações estavam tão juntos Que não havia entre eles o menor espaço As gaivotas pelo céu piavam Voltei para a cela só olhando o mar A tua falta era um cravo branco cortado No meu peito a sangrar. Naquela sala da Casa dos Professores, onde era tratado com esmero, mais uma vez provou que era um verdadeiro poema vivo, pois mesmo sentado na cadeira de rodas, com dificuldades para se movimentar sozinho, olhando para a árvore frondosa, que tinha diante de si, disse-me, poeticamente, que queria abraçá-la, da copa até as suas raízes mais profundas. É essa a grandeza da alma de Borges Coelho.

Ele não viveu para si, mas para o mundo, lutando pela liberdade e contra as injustiças, com as suas armas mais poderosas: a prosa e a poesia. A nós, seus alunos na Faculdade de Letras de Lisboa, deixou-nos uma vasta obra para ser lida, relida e estudada por nós e pelas gerações vindouras. Foi ele quem me abriu a mente, que estava ancilosada por falta de informações, ensinou-me a respeitar a opinião dos outros, a olhar para o mundo sob perspectivas mais diversificadas e a entender que, em História, a verdade está em permanente construção.

Com ele percebi que é fácil e vantajoso tomar o partido dos mais fortes, e compreendi que só quem luta, em prol dos mais fracos, é que concorre para a coesão social e para o engrandecimento equilibrado da sociedade. São pessoas com a grandeza de António Borges Coelho, que marcam a diferença, e comprovam que vale a pena nascer, pois deixam sementes frutuosas que enriquecem a humanidade. Valentino Viegas

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Valentino Viegas
Valentino Viegas
Historiador e Escritor

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