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A Jóia Escondida de Castelo-Branco

Nem todos sabem que Portugal tem histórias para contar no que respeita ao fabrico de veículos motorizados. Nos anos 50 e 60 multiplicaram-se fábrica de motorizadas (Famel, Casal, EFS e tantas outras) e mesmo nos automóveis basta lembrar os mais recentes TT Portaro e UMM. Todavia, há duas jóias que marcaram uma época, em Albergaria A Velha o Alba e em Castelo Branco o A.R, ambos carros desportivos.

Ambos fazem parte do grupo muito restrito de veículos desenvolvidos e construídos em Portugal, geralmente de forma artesanal ou semi-industrial. Tanto os ALBA como os A.R. nasceram com objetivos competitivos, usando componentes mecânicos (motores, transmissões, etc.) de outras marcas, normalmente europeias, adaptados à estrutura própria dos veículos. Eram carros fabricados à mão ou com recurso a oficinas especializadas, com poucos exemplares construídos. Na década de 1950, surgiram em Portugal vários pequenos fabricantes de automóveis com o intuito de participar nas provas organizadas pelo Automóvel Club de Portugal… grande criatividade mas poucos recursos para a indústria automóvel nacional! Para já contemos agora a história do A.R.

A fotografia foi retirada do site Motor24. O carro está em Gavião do Ródão, na posse de João Mota Guedes, que o comprou em muito mau estado. Assumindo a sua restauração o mais próximo possível do original, passaram 23 anos até terminar a complicada tarefa. O A.R fora construído em Castelo Branco pela junção de vontades de dois albicastrenses, Joaquim Nunes Ribeiro, dono de uma empresa de camionagem, e António Alcobia, representante da Peugeot nessa cidade, em 1955.

Equipado com um motor Peugeot e adoptando um chassis tubular com carroçaria em alumínio, resultando num peso inferior a 600 kg, alcançava a velocidade máxima aproximada de 200 km/h. Embora revelando enorme potencial, sem apoio financeiro robusto ou financiamento institucional, o A.R. logrou participação efémera no automobilismo desportivo. Competir com grandes marcas como a Mercedes-Benz exigia desenvolvimento tecnológico, logística e estrutura difíceis de manter para um projeto independente e regional.

Na prova de estreia, a 7.ª Volta a Portugal, em 1955, o bólide foi conduzido por Júlio Grilo, piloto também albicastrense, tendo obtido o primeiro lugar na sua classe e o segundo lugar absoluto, apenas atrás de um Mercedes Benz 300 SL “asa de gaivota”. Penso que Júlio Grilo, embora não fazendo parte integrante dos sócios fundadores da Escuderia de Castelo Branco, pertencia ao grupo de amigos que se juntava no Hotel Turismo, para falar de automóveis. Na altura, este clube foi fundado com o propósito de criar um local onde os apaixonados pelo desporto automóvel se pudessem juntar, mas posteriormente organizou diversas competições de perícia, o I Rally Castelo Branco e o Rallye Centenário, entre muitas outras provas.

Nos dia de hoje, a Escuderia de Castelo Branco continua a promover e fomentar o desporto e o turismo na região. Fundado em 21 de maio de 1964, é atualmente um dos clubes portugueses mais antigos, enquanto titular de alvará de organização de eventos de competição automóvel, associado da Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting Ambos estes carros, Alba e A.R, estiveram pela primeira vez em exposição em Castelo Branco em 2006 no II Salão do Veículo Antigo e Clássico da Beira Baixa, único certame do género realizado no interior do país. Promovido pelo Clube de Automóveis Antigos de Castelo Branco (CAACB), o certame, também denominado “Albimotor Clássico” ou Fundão Motor Clássico, tem contado com a participação de expositores de diversos pontos do país e uma dezena de clubes, responsáveis pela mostra de cerca de meia centena de veículos antigos e clássicos e automobilía (compra, venda e troca de automóveis, peças, miniaturas, publicações). O CAACB foi fundado em abril de 1998 com o objetivo de promover atividades culturais, históricas, desportivas e de lazer relacionadas com veículos clássicos.

Ao longo dos anos, o Clube organizou centenas de eventos de relevância regional, nacional e até internacional, contribuindo também para questões patrimoniais e certificação patrimonial, em colaboração com o Museu do Caramulo. Em 2022, foi lançado o livro “O Bólide de Castelo Branco”, da autoria de José Barros Rodrigues, apoiado pelo Clube de Automóveis Antigos de Castelo Branco (CAACB) e pela Câmara Municipal.

Se estiver interessado num panorama mais abrangente da indústria automóvel em Portugal, vale também considerar o livro Automóveis Portugueses, um trabalho coletivo de José Barros Rodrigues, Salvador Patrício Gouveia e Teófilo Santos, lançado pelo Museu do Caramulo: trata-se de uma publicação de cerca de 40 páginas, ricamente ilustrada, que abrange modelos históricos como Alba, DM, Edfor, Felcom, Lusito, Marlei, MG Canelas, Olda, Portaro, Sado e UMM, entre outros.

Castelo Branco tem tradição na área do automobilismo e da Indústria Automóvel. A Aptiv (antiga Delphi Cablesa) tem presença significativa na região, sendo a maior empregadora, com mais de 1.000 trabalhadores, fabricando componentes automóveis para marcas como Ferrari, PSA ou John Deere. A cidade também participa em eventos inovadores como a Formula Student, onde centenas de estudantes universitários constroem carros de corrida protótipo, juntando-se em Castelo Branco para mostrar talentos promissores no setor automóvel.

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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