Mário Sin é natural de Macau com nacionalidade Chinesa, bem representativo da
vitalidade dessa comunidade que torna Macau um lugar único no mundo. E é um
bom amigo!
Durante muitos anos foi presidente do Automóvel Clube de Macau colaborando na
organização do Grande Prémio de Macau, chegando a formar comissários para
diversas as tarefas no GPM. Treinou Iaido, arte marcial japonesa com espada
(Katana) e pratica diariamente piano, como forma de a memória e exercitar as mãos
e os olhos. Viaja frequentemente à China com amigos e família.
Foi companheiro de viagem e grande responsável pela organização do Raide
Macau Lisboa, mas é também detentor de brevet de Piloto Particular de Aeronaves
e Licença de Piloto de Ultraleves Motorizados (Terrestres) – tendo exercido em
Macau funções de instrutor de voo e nomeado examinador aos candidatos a
obtenção da Licença de Ultraleve – tendo em julho de 1993 voado desde Lán Zhōu,
Jiā Yì Guān a Dōng Huáng, percurso que já fizermos, por terra, no Raide Macau
Lisboa.
Tantas histórias para contar! Sempre amou a vida e agora continua igualzinho!
Vamos à Rota da Seda feita de avião…

Mário Sin, Samurai na terra e nas alturas, conta como tudo se passou:
O dia nasceu soalheiro, mal sabíamos nós o que aí vinha! Desmontámos os
ultraleves que foram enviados para Lán Zhōu via comboio, o pessoal foi de Macau
até Zhuhai para apanhar o avião (carreira doméstica). No aeroporto de Lán Zhōu,
montámos os ultraleves e testámos logo a operacionalidade dos mesmos, para
ficarem prontos para a viagem a Jiā Yì Guān no dia seguinte.
Por volta das cinco horas da madrugada, demos início à viagem para Jiā Yì Guān,
para participar num Festival Aeronáutico.
Durante a viagem apanhámos uma chuvada intensa, pelo que tivemos de apear e
só conseguimos continuar a viagem no dia seguinte.
De acordo com o ditado popular, “os azares nunca vêm sozinhos” e desta vez fomos
apanhados no meio da viagem por uma tempestade de areia, que nos obrigou a
mais uma paragem, só conseguindo continuar a viagem no dia seguinte. Devido às
especificidades naturais daquela zona, chegamos a Jiā Yì Guān com um dia de
atraso, altura em que o Festival Aeronáutico já tinha terminado.
Enquanto permanecemos em Jiāyíguān fizemos vários passeios aéreos, e foi
quando voámos de Lánzhōu para Jiāyíguān que notei uma diferença enorme
daquilo que tínhamos visto quando percorremos de carro aquele troço: a visão
horizontal das paisagens é muito diferente do ambiente panorâmico visto de cima,
existe uma extensão visual muito mais vasta quando voamos em ultraleve.
Lembremos que, durante a nossa viagem sobre este troço, tínhamos ideia que
conduzimos em retas enormes, que pareciam sem fim, quando observadas
horizontalmente de dentro dos carros. Mas, afinal, estas retas imensas eram curvas
enormes, o que muito me surpreendeu ao ver de cima, a mil pés de altitude
(sensivelmente 300 metros)! Afinal não íamos a direito e nem dávamos por isso,
embora virássemos levemente o volante!
Quando passámos por algumas partes da antiga muralha da China, só podíamos
ver do lado de fora, enquanto que de ultraleve conseguíamos distinguir o seu
interior! Lá dentro existiam trincheiras de formato quadrado, com pequenos muros
de separação, presumo que para serem utilizados pelos soldados. São pormenores
muito interessantes, de que não nos apercebemos durante a viagem de carro.
Que diferenças de perceção panorâmica, entre viagens terrestres e aéreas!
O último destino do nosso voo foram as dunas de Dōnghuáng, local onde alguns
raidistas tinham caído dos camelos…
Dunhuang está bem próxima da fronteira de Gansu com Qinghai e Xinjiang e foi a
cidade central do comércio da China com os vizinhos ocidentais. A região faz parte
do caminho da milenar Rota da Seda, onde até hoje é possível refazer os passos
dos comerciantes que transportavam o produto através das dunas de areia do
deserto de Gobi.
Devido à importância religiosa do local – por causa das Grutas de Mogao – a cidade
também está na rota de peregrinação que vai do Tibete até o Monte Wutai, um dos
mais sagrados para os chineses.
Chegámos a Dōnghuáng muito tarde, quase sem luz do dia, apesar do pôr-do-sol no
Dōnghuáng ser por volta das 22h15. Este pôr-do-sol tão tardio não é nenhum
fenómeno natural, apenas consequência da uniformização do fuso horário para toda
a China Continental.
Não mais que três anos tinham passado desde que o II Raide atravessara a região,
mas de ultraleve notei uma grande diferença no desenvolvimento daquela zona. Em
1990, Dōnghuáng estava muito pouco desenvolvido; no entanto, quando ali estive
três anos mais tarde, o tal sítio por onde tinham andado de camelo estava
totalmente modificado, já com um hotel edificado e muitos outros acessórios
turísticos. Eu até pensava que me tinha enganado no local!
Planar sobre as dunas do deserto de Dōnghuáng foi maravilhoso, com o sol forte a
cobrir-nos por cima e a frieza da enorme extensão das dunas a brilhar lá em baixo!
Entretanto, depois de voar mais ou menos dez minutos, tive uma sensação de
medo, um arrepio, pelo que fiz 180º e voltei para o ponto de onde descolei o
ultraleve. Ainda agora não encontro explicação para essa estranha vibração
negativa!

O deserto e seus enigmas…








