O ex-presidente da KPMG, Sikander Sattar, revelou ontem, durante o julgamento do caso BES/GES, que acusou diretamente o antigo contabilista Machado da Cruz de fraude nas contas do Grupo Espírito Santo (GES). A sua declaração ocorreu no Juízo Central Criminal de Lisboa, onde Sattar explicou a relação da auditora com o GES e o processo que levou ao colapso do Banco Espírito Santo (BES) em agosto de 2014.
Em seu testemunho, Sikander Sattar comentou sobre as várias etapas até ao desfecho do BES, enfatizando o momento crítico em que a KPMG detectou um “buraco” significativo nas contas da ES International (ESI), holding que abrangia as áreas financeira e não financeira. A auditoria inicial da KPMG, que não foi forense mas sim uma revisão limitada, revelou que nem a própria ESI tinha acesso às informações sobre os seus investimentos, levando a suspeitas sobre a gestão da empresa.
Durante a inquirição, Sattar descreveu uma reunião datada de 14 de janeiro de 2014, onde confrontou Machado da Cruz sobre a explicação do erro nas contas, que foi justificada por supostas responsabilidades excessivas do contabilista no grupo. Sattar expressou a sua incredulidade em relação à justificativa apresentada, considerando-a não verosímil e insistiu que a falha nos dados financeiros era repetitiva e sistemática.
O ex-presidente da KPMG não hesitou em acusar diretamente Machado da Cruz de fraude, um momento que gerou tensão na sala de tribunal. A sua acusação foi recebida em silêncio por outros arguidos presentes, incluindo Ricardo Salgado, principal figura do caso, que responde a um total de 62 crimes alegadamente cometidos entre 2009 e 2014.
Além de Salgado, o julgamento envolve mais 17 arguidos, entre eles Amílcar Morais Pires e Manuel Espírito Santo Silva. O Ministério Público estima que a derrocada do GES causou prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros, destacando a gravidade das acusações e a relevância do caso para a esfera financeira nacional.