“Músicos em harmonia, compositores maçons” é o título do novo livro do escritor, ator, cantor lírico e encenador de teatro e de ópera Carlos Otero. A obra será lançada em várias cidades portuguesas e terá uma palestra do autor sobre o tema: “Porque sou Maçon”? Otero nasceu em Lisboa, tem 81 anos, e vive em Paris, França, há mais de 62 anos. Licenciado em Musicologia pela Sorbonne, dedica-se à investigação musical e à encenação.

As sessões públicas, que terão o apoio da Union Maçonnique Libéral International de Portugal, Grande Loja Simbólica de Portugal, Grande Loja Simbólica da Lusitânia e Grande Ordem Egípcio de Portugal, serão focadas, segundo o seu responsável, “unicamente no ser humano que tem preocupações espirituais e que está (quase) ciente que as possui e as pratica”.
Na opinião de Otero, que pretende com a obra “dar a conhecer uma centena de compositores de música que eram maçons”, a música tem um significado espiritual, seja ela religiosa, maçónica ou outra. Tudo depende de quem a ouve”.
Com o intuito de perceber os contornos do seu mais recente livro, conversamos com Carlos Otero, que explicou o que o motivou a dar vida ao tema que pode ser encontrado nas páginas de “Músicos em harmonia, compositores maçons”.
Fale sobre o seu novo livro. Qual a temática abordada?
A finalidade é dar a conhecer uma centena de compositores de música que eram maçons. Assim nasceu este livro para relembrar os esquecidos, diria mais, os ignorados da música clássica.
Qual a agenda de apresentações do livro?
Por agora, estão previstas cinco cidades em Portugal para receber as conversas. 15 de março, Porto; 16/03, Coimbra; 17/03, Castelo Branco; 20/03, Lisboa; e 21/03, Faro.
Quais as suas expetativas sobre estas apresentações?
Como é fácil de compreender cada cidade tem a sua especificidade e o seu público. Sempre diferente, com a necessária adaptação da minha parte. Cada um possui a sua aptidão de absorver a informação dada. Cada um a seu ritmo, mas cada um encaminha a sua pedra para a construção da sessão. À escuta: as perguntas que serão feitas pelo auditório serão fundamentais para uma boa sessão. Estou certo de que será esse o caso.
O que pretende com esta obra?
Reavivar os muitos compositores de música clássica ignorados pelo público em geral e pelos musicólogos em particular. Compositores que tiveram o seu tempo de glória e que foram esquecidos, ao longo do tempo pelas orquestras e pelas casas de edição musical. E, por conseguinte, o público deixou de “os” ouvir nos concertos e esqueceu-os pouco a pouco.
O que o público pode esperar do seu trabalho neste livro?
É para todos os “públicos”. Todos os que sentem uma certa curiosidade em descobrir novos nomes da música. No livro falo em temáticas diferentes do habitual. Certos detalhes da vida de uns ou de outros. Como contribuíram eles para a evolução da música. Como inspiraram certos compositores com as suas ousadias contrapontísticas ou de harmonia. Algumas notícias ignoradas em relação a certos compositores, sobre a sua vida, os seus encontros com os outros compositores da época, certas histórias de rivalidades. Daí, também, o benefício de servir de inspiração para os que estão encarregues da Coluna de Harmonia nas respetivas lojas. Aliás, o título do livro a isso convida.
Que outras obras tem publicadas?
Carta Aberta a Amadeus. Le Parthénon des Musiciens. O Creme dos Natas. E, agora, os Músicos em Harmonia e O Que Ainda Faltava.
Para si, o que significa ser Maçom?
O Compositor Mozart tinha como ambição legar-nos uma música sublime ao mesmo tempo que o seu pensamento como homem e maçom. De facto, tendo vivido isso do interior cheguei à conclusão de que não prestemos a atenção suficiente ao ser humano que se refugiou no interior de cada um de nós. Por conseguinte, devemos fazer-lhes a pergunta sem rodeios! Quais são as suas ambições para a Ordem? Para os seus irmãos? Para si próprio! Poderíamos ir ainda mais longe: “O que veio fazer em Loja”, “Por que veio?” “Qual é o sentido de vir em Loja?” Sonho em ouvir a resposta: venho porque sinto essa necessidade. Talvez certos membros não tenham compreendido tudo sobre a maçonaria. Limitaram-se a copiar clivagens típicas e, tácticas prejudiciais à fraternidade maçónica. Outros, demasiado preenchidos com o seu próprio conhecimento ou o seu jeito, têm dificuldade em deixar os metais à porta. A sua auto-importância repele os irmãos e limita as relações entre eles. Falta de Fraternidade ou falta de Tolerância, ou ambas. Gosto de citar uma reflexão: hoje nós somos os únicos herdeiros das civilizações mortas. O pensamento dos sábios levou as nossas habitações para o asilo. Ainda somos nós os mesmos Seres Humanos do antigamente? Vejo que os seres humanos mudaram completamente. Em poucas décadas já não somos os mesmos. A vida moderna é um relaxamento inquieto de preocupações. Negociamos com o ritmo da vida. Mudamos de empregos, de países, de vida e o mais grave é que não temos consciência disso. Estamos anestesiados, embarcados nesta galé, nesta enroscada para sempre. A minha observação é uma consequência das conversas ouvidas nos locais públicos. Tão indigente como antes. Somos uma sociedade que vive cada vez mais viciada em imagens e redes sociais. A imagem permite inocular uma mensagem complexa num piscar de olho. Sem leitura, sem esforço para pensar. Fora da imagem não há salvação! Só que, em loja, na há só palavras, há símbolos e vivência.
Durante o evento, que temas vai colocar sobre a mesa?
Desta vez, será unicamente focado o ser humano que tem preocupações espirituais e que está (quase) ciente que as possui e as pratica. A luz ilumina a obra, ajuda a vê-la e a compreendê-la. Ter a coragem de usar o seu próprio entendimento e tratar a humanidade como um fim, e nunca como um meio. Inspira-se também uma visão, onde o “homem iluminado” se opõe à massa daqueles que permanecem na escuridão. Através deste ascetismo o Franco Maçom não pretende ser melhor do que os outros, apenas esforça-se por ser melhor do que ele próprio. Por que eu iria então em busca do tempo perdido? Aquele que passou e nos deu a oportunidade de ter uma memória. Memória de um tempo. Memória do tempo vivido. Porque é através e, com esta experiência, que podemos ir às profundezas do nosso ser em busca do outro lado da moeda. A construção do templo interior continua a ser um empreendimento de longo prazo. Não podemos fazê-lo sozinhos. Se se pensa ser superior aos outros porque se julga saber algo que os outros não sabem, está-se no caminho errado. E a vida mostrará a sua fatuidade de forma brutal. E a música em tudo isto? Mais uma vez, tenho a ideia de uma provocação. Existe uma música maçónica? Tudo depende de quem a ouve! É a espiritualidade que deve ser colocada ao ouvir a música, e especialmente, (vindo da minha parte, não deve surpreender) a de Mozart para quem a música é tanto a harmonia dos sons como a do silêncio. Como é dito em “certo” sítio, num ritual, a música é: “a harmonia do silêncio”. Mozart definiu-a de forma diferente: “A música é reunir as notas que se amam”. O concerto para clarinete do mesmo Mozart, executado na catedral da Sé invocaria sem dúvida uma obra religiosa. Num templo Maçónico uma obra maçónica e, na Casa da Música, seria simplesmente uma música sublime! É a nossa concentração e a nossa interioridade que acomoda a música na “caixa” maçónica.
A missão da música é permitir-nos ir ao mais profundo no nosso interior, naquele lugar onde todas as emoções são guardadas, enterradas! É a nossa sensibilidade que nos acompanha ao ouvir música ao mesmo tempo que nos escutamos a nós próprios. Como diria “o” poeta Pessoa; escutar a nossa alma. Então, surge a pergunta “podemos reivindicar uma espiritualidade maçónica?”. A espiritualidade é a vida do espírito humano. Uma espiritualidade do homem livre em busca do conhecimento de si mesmo, do mundo pelo único meio de acesso ao símbolo: Símbolo parte visível de uma realidade invisível. Qualquer abordagem maçónica baseia-se no simbolismo, a sua linguagem e eficácia também nos ajudam no que é mais precioso, a transmissão.
Por fim, quem é Carlos Otero?
Carlos Otero nasceu em Lisboa e vive em Paris há mais de 62 anos, onde desenvolveu a sua atividade como ator, cantor lírico e encenador de teatro e de ópera. Apresentou-se como cantor nos festivais de: Aix en Provence, no Théâtre Montansier, no Fes-tival de Avignon, Théâtre du Châtelet, Théâtre de la Ville em Paris, Théâtre du Vieux Colombier, em mais de 3200 apresentações públicas. Como actor apresentou-se no Théâtre National Populaire, Paris; Théâtre de L’Athénée, Paris; Théâtre de la Ville, Paris; e no Festival d’Avignon, com peças de Molière e Shakespeare. Trabalhou ao longo da sua carreira com nomes como a atriz Edwige Feuillère, o ator e encenador Georges Wilson, ou, ainda, Jérôme Robbins, produtor, realizador e coreógrafo da Broadway, onde apresentou, em 1969, no Théâtre Marigny, a comédia musical Violino no Telhado. Realizou e encenou no Théatre des Champs Elysées, de Paris, o drama “Thamos” de Mozart, assim como a ópera “A Flauta Mágica”, representações que foram saudadas pela crítica como “tendo conseguido transmitir o essencial do aspecto sobrenatural e maravilhoso das obras-primas de Mozart”. No cinema participou em produções para cinema e televisão com realizadores como; J. P. Mocky; M. Dugonson; R. Polanski; M. Ritchie; Peter Sellers; C. Pinoteau, entre outros. É ainda autor de uma biografia do compositor A. Salieri, de um argumento cinematográfico sobre opereta francesa, de uma curta-metragem com música de Rossini, diversos livros que versam sobre músicos e compositores, bem como, de três peças de teatro.