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Carnaval ou Carnaval? O Grande Desfile de Hipocrisia Municipal

Ah, o Carnaval! A época do ano em que tudo se veste de cores, risos e… dinheiro. No distrito de Castelo Branco, de Belmonte a Vila de Rei, já não se celebra como antigamente. Só o município de Castelo Branco, liderado pelo socialista Leopoldo Rodrigues, decidiu cortar o “cordão umbilical” que ligava a cidade ao famoso corso de carros alegóricos. Antes, o Carnaval era a alegria nas ruas e uma injeção de economia para o comércio local. Agora, o município optou por erradicar esta festividade, como quem apaga uma má memória. Claro, o autarca não explicou por que o corte, mas, quem sabe, o desfile não era compatível com a “saudável austeridade” que alguns autarcas tanto pregam, não é?

Entretanto, mais a sul, os municípios fazem a festa e abrem os cordões à bolsa. Isto, claro, em plena campanha para as eleições autárquicas. Porque, afinal, quem não gosta de um bom Carnaval para dar aquele “empurrãozinho” na imagem política? Municípios de Torres Vedras a Ovar, passando pela Madeira, investem milhões na folia – a mesma que, ironicamente, custa aos munícipes no resto do ano. Como não há crise para o riso e a máscara, os orçamentos explodem enquanto a inflação se impõe em todos os outros setores da vida pública. Não é à toa que se gasta mais, afinal, quem não investe no Carnaval perde “muito mais” do que um desfile, perde votos! A mais alta cúpula do poder local já sabe que é preciso dar espetáculo. E o povo, como sempre, agradece a farsa.
O exemplo mais evidente desta farsa carnavalesca está em Torres Vedras, com um orçamento de 1,15 milhões de euros, que é, em si, um espetáculo mais grandioso que muitos desfiles de rua.

A autarca Laura Rodrigues, do PS, justifica o aumento em relação a 2024 como uma “necessidade de cobrir os custos decorrentes da inflação”. Ah, sim, a inflação. Não há crise que não seja usada como desculpa para aumentar os gastos públicos. Mas, segundo a mesma Laura Rodrigues, o Carnaval traz, entre aspas, “retorno económico superior a 10 milhões de euros”. Com a ajuda de cerca de 500 mil visitantes, isso seria uma excelente operação de marketing… se, claro, o retorno económico não fosse apenas uma projeção colorida. Afinal, alguém precisa justificar o porquê de se gastar mais de um milhão de euros para dar vida à festa.

E lá temos a rainha do investimento carnavalesco, Ovar. Com um orçamento de 1 milhão de euros, o município, liderado pelo social-democrata Domingos Silva, parece seguir o mantra do “quanto mais, melhor”. A inflação que encarece os serviços e os materiais também justifica a fatia extra no orçamento. Mais 50% de apoio aos grupos, mais segurança, mais festa, mais votos! Porque o que não falta são promessas de retorno económico, que, de forma mágica, parecem sempre superar o valor investido. Quem dera que a fórmula fosse tão simples também para outras áreas, como a saúde ou a educação.
E que dizer de Estarreja, com o seu orçamento de 550 mil euros e a “culpa” da guerra na Ucrânia e da pandemia? Pois é, para o Carnaval até a guerra serve de desculpa.

A vereadora da Cultura, Isabel Simões Pinto, fala com orgulho sobre o incremento do evento em relação a 2024. E, claro, o retorno económico também promete ser astronómico, ao ponto de quase dobrar o que foi obtido no ano passado. Não podemos esquecer, naturalmente, que isso tem de ser feito com a ajuda do “carrossel da inflação”, que vai encarecer tudo, desde as bancadas até os cachês dos artistas. A qualidade é sempre um fator importante, e o Carnaval de Estarreja não desilude: folia, figurinos e votos, claro. Porque o Carnaval, como sabemos, é uma excelente forma de fortalecer a identidade local – o que, convenhamos, não deixa de ser uma identidade política.
E, no topo da cadeia carnavalesca, temos a Madeira, com um orçamento de 511 mil euros, mantendo-se fiel a 2024, mas com o entusiasmo de sempre.

Lá, o Carnaval está para o turismo como o pão está para a manteiga. Com uma taxa de ocupação hoteleira a rondar os 90%, o evento promete ser um sucesso para o bolso dos empresários locais e uma vitrine da competência do governo regional. A taxa de ocupação pode até ser alta, mas será que o retorno económico será realmente “fantástico”? A verdade é que ninguém se importa muito com os números quando a festa é boa, e os turistas não se importam de gastar alguns euros a mais para dançar ao som das marchas e ver as sátiras políticas locais, que nunca deixam de fazer rir.

Mas se a festa no continente tem tudo para ser um sucesso, o mesmo não se pode dizer de todos os municípios. Em Loulé, por exemplo, o orçamento de 470 mil euros segue fiel à tradição, com o desafio de reduzir os custos e, ao mesmo tempo, “reciclar” carros alegóricos e bonecos. O presidente Vítor Aleixo, sempre em sintonia com o ambientalismo, tenta minimizar os custos enquanto mantém a folia. “O Carnaval não é uma seca”, é o lema. E quem vai dizer que não é um bom tema, especialmente quando as secas de água são, de fato, uma preocupação legítima?

Por último, em Vila Nova de Famalicão, o Carnaval se tornou um evento turístico com um orçamento de 175 mil euros. Um valor modesto comparado com as grandes cidades, mas suficiente para garantir uma noite de festa que, para muitos, é sinónimo de lucros para os bares e restaurantes locais. Mais uma vez, a festa rende aos comerciantes, mas será que a população sente que está a obter o mesmo retorno nas áreas essenciais, como a saúde ou a educação? Porque, no final das contas, o Carnaval passa e os autarcas desaparecem para o gabinete. E, se há algo que podemos aprender com toda esta folia, é que o único desfile realmente garantido é o da hipocrisia política, que se mascara de alegria, enquanto vai atrás de votos e dinheiro.

Ah, mas, no fim, é Carnaval e ninguém leva a mal, certo?

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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