Em Castelo Branco, a política não é uma simples gestão pública, mas um ritual ensaiado, uma liturgia falida onde as promessas se acumulam como ossos de um passado que se recusam a desaparecer. Não há milagres, mas há sempre uma promessa: “este é o ano!” E o ano seguinte, claro, traz consigo a mesma promessa vã
Ali, onde o povo deveria ver o progresso, encontra apenas uma miragem empoeirada que se afasta à medida que tenta alcançá-la. O que parecia ser uma promessa de mudança transforma-se, com o tempo, numa sombra fugidia, sempre à vista, mas eternamente distante. As ruas, os projetos, as obras inacabadas são o reflexo de uma cidade que se ilude com um futuro que nunca chega.
O altar político da cidade é o Templo de Santa Engrácia, onde sacerdotes de aspirações políticas se alternam, adornados com a pureza de discursos vazios, enquanto os habitantes de Castelo Branco assistem, incrédulos, ao espetáculo.
Prometem fábricas, investem em promessas de desenvolvimento, mas o que se vê são ruas afundadas em poças de asfalto, cicatrizes de obras inacabadas e projetos eternamente adiados. O futuro está sempre à vista, mas o horizonte parece fugir, qual uma ilusão que se dissolve assim que se tenta tocá-lo. A cidade, que poderia ser um modelo de prosperidade e inovação, permanece enclausurada numa repetição monótona de promessas não cumpridas. A cada ciclo eleitoral, as palavras tornam-se mais vazias, os discursos mais insípidos, e o progresso, sempre prometido.
Em cada ciclo eleitoral, os mesmos proprietários sobem ao palco, mas o enredo, esse, permanece incólume. A cidade assiste ao funeral da esperança, onde cada discurso, como uma vela acesa no vento, se apaga antes de ter a chance de iluminar o caminho.
As promessas tornam-se uma rotina de palavras que, ao chegar à curva da realidade, se dissipam como folhas secas ao vento, perdendo-se na indiferença do tempo. Cada discurso, antes inflamado de esperança, apaga-se na verdade crua da inação, deixando apenas o eco vazio de um futuro que nunca se concretiza. O povo, cansado de esperar, vê os mesmos ciclos repetirem-se sem fim, como um filme antigo em que os personagens mudam, mas o enredo permanece o mesmo. E assim, as promessas, que um dia foram sementes de transformação, tornam-se apenas fragmentos de um sonho que nunca floresce.
E o que deveria ser uma construção vibrante de futuro se transforma numa sucessão de ações, como se o tempo fosse um luxo que só os políticos podem se permitir. Enquanto os cidadãos esperam pela modernidade prometida, o cenário é de um teatro de sombras, onde a “quase” nunca se materializa.
O ciclo de promessas e frustrações é uma cerimónia solene, mas sem fé. Os políticos, como sacerdotes de um culto à inação, continuam a realizar seus rituais eleitorais. A cidade, condenada a viver em um funeral eterno, continua a assistir a cada campanha como quem assiste a um espetáculo de palavras vazias.
Cada discurso é uma pregação que se perde na indiferença coletiva, enquanto o povo, cansado de promessas que nunca chegam a ser cumpridas, já não sabe se deve chorar ou rir. A esperança, que antes incendiava os corações, apagava-se lentamente, como uma chama que se extingue na falta de vento. O desgaste da fé torna-se visível nos rostos que, ano após ano, testemunham a repetição de um ciclo de falsas expectativas. A cidade, que deveria viver o fervor da transformação, vê-se aprisionada num eterno adiamento, onde o “amanhã” é sempre uma ilusão.
E assim, o Templo de Santa Engrácia permanece de pé, como mausoléu das esperanças falhadas de Castelo Branco. Ano após ano, o ciclo se repete, com promessas que se dissolvem na poeira da história. O que poderia ser a cidade da modernidade e do progresso, permanece perdida na escuridão de um teatro de sombras, onde os atores, já cansados, repetem os mesmos papéis, mas o espetáculo nunca avança.
O verdadeiro espetáculo da cidade é o eterno ciclo de “quase”, onde tudo está prestes a acontecer, mas nunca acontece.
Na realidade, as ideologias não são mais do que ecos de um passado distante que se negam a morrer, mas que não passam de fantasmas presos à cidade, arrastando-se sem propósito. Cada nova promessa é apenas uma reencenação de velhos sonhos desfeitos, uma repetição sem fim de um enredo que nunca avança. O futuro, sempre prometido, continua a ser uma ilusão distorcida, uma linha do horizonte que se afasta à medida que tentamos alcançá-la.
As promessas de mudança e progresso são embaladas em discursos eloquentes, mas, tal como o vento, se dissipam rapidamente. Em Castelo Branco, as palavras se tornam orações vazias, proferidas em rituais eleitorais que se sucedem como funerais da esperança, sem nunca conseguirem ressuscitar o espírito do progresso.