A crise política que envolve o Ministério da Saúde intensificou-se esta semana, com o relatório preliminar da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) a revelar falhas graves de comunicação que impediram o Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) de definir serviços mínimos durante a greve dos técnicos de emergência. As conclusões do relatório impulsionaram uma onda de pedidos de demissão da ministra da Saúde, Ana Paula Martins, por parte de vários partidos da oposição, que consideram insustentável a sua continuidade no cargo
PAN exige demissão imediata da ministra
A deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, foi categórica ao afirmar que Ana Paula Martins não tem condições políticas para permanecer à frente do ministério. “O relatório da IGAS vem deixar claro que a ministra da Saúde faltou com a verdade ao país. E, com isso, há uma responsabilidade política que tem de ser assumida”, declarou Sousa Real. A parlamentar salientou que a ausência de comunicação atempada do ministério sobre os pré-avisos de greve teve um impacto direto na capacidade do INEM de garantir a resposta de emergência.
Inês de Sousa Real defendeu que a demissão da ministra deve ser independente do desfecho das investigações sobre as mortes ocorridas durante as paralisações. “A responsabilidade política é imediata e não pode estar condicionada a investigações futuras”, frisou.
PCP critica falta de medidas para reforçar o INEM
A líder parlamentar do PCP, Paula Santos, reforçou a gravidade da situação, sublinhando que o relatório da IGAS é inequívoco ao evidenciar os problemas estruturais do INEM, como a escassez de profissionais e a sobrecarga dos serviços. “O Governo tem de assumir a responsabilidade por não ter atuado a tempo de proteger os interesses dos trabalhadores e das populações”, afirmou. Questionada sobre a continuidade da ministra, Santos considerou que essa decisão cabe ao primeiro-ministro e à própria governante, mas sublinhou que o essencial é implementar medidas urgentes para corrigir as falhas.
Chega fala em “cadáver político” e acusa Governo de falta de integridade
André Ventura, líder do Chega, adotou um tom particularmente duro, afirmando que manter Ana Paula Martins no cargo é “adiar um cadáver político”. Em conferência de imprensa, Ventura acusou o Governo de estar “em queda livre de integridade” e de tentar resistir aos factos. “Esta ministra demonstrou incompetência e ineficácia. A sua permanência enfraquece ainda mais a credibilidade do executivo”, afirmou.
O Chega anunciou que pretende convocar Ana Paula Martins ao parlamento para prestar esclarecimentos sobre o relatório da IGAS. Apesar de reconhecer que o documento ainda é preliminar, Ventura considerou que já existem elementos suficientes para justificar a demissão da ministra.
BE insiste na demissão e alerta para caos no SNS
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, reforçou a posição do partido, declarando que “não há quaisquer condições para a ministra se manter no cargo”. Mortágua apontou para o agravamento das dificuldades no Serviço Nacional de Saúde (SNS), referindo-se a situações como o colapso do Hospital Amadora-Sintra e o encerramento recorrente de urgências.
O BE quer ouvir os responsáveis da IGAS no parlamento e, embora não tenha ainda convocado a ministra, espera que a governante se demita por iniciativa própria. “O que estamos a assistir é a um SNS que se desmorona, enquanto a ministra permanece inerte”, criticou Mortágua.
Livre critica gestão do Ministério da Saúde
O deputado Paulo Muacho, do Livre, destacou que o relatório da IGAS comprova uma falha de gestão grave. “O Ministério da Saúde falhou na comunicação com o INEM, comprometendo a segurança das populações”, afirmou. Embora o Livre não tenha por hábito pedir demissões, Muacho sublinhou que a ministra e o primeiro-ministro precisam de refletir sobre as suas responsabilidades políticas.
O parlamentar criticou ainda o que chamou de “instabilidade crónica” no setor da saúde, responsabilizando o atual e o anterior governo pela falta de soluções estruturais para problemas como a carência de profissionais e o subfinanciamento do SNS.
Reação do Governo: Ana Paula Martins admite falhas, mas descarta demissão
Apesar da pressão crescente, a ministra da Saúde rejeitou retirar ilações políticas imediatas, afirmando que aguarda a versão final do relatório da IGAS. Ana Paula Martins reconheceu a necessidade de melhorar os procedimentos internos de comunicação, mas defendeu que o foco deve estar na resolução dos problemas do setor, e não em mudanças de liderança.
O primeiro-ministro Luís Montenegro, por sua vez, tem mantido uma postura cautelosa, evitando comentários públicos incisivos sobre a situação. No entanto, fontes do executivo indicam que a posição da ministra será reavaliada após a conclusão do relatório final.
Este episódio agravou a tensão política, fragilizando ainda mais um Governo que já enfrenta desafios significativos noutros setores. A permanência de Ana Paula Martins tornou-se um símbolo da resiliência — ou teimosia — do executivo, que parece disposto a resistir à tempestade política. Resta saber até quando.
Enquanto os partidos de oposição intensificam as exigências de responsabilização, a população assiste a um SNS cada vez mais pressionado, onde as falhas administrativas se traduzem em risco real para a vida dos utentes. O desfecho desta crise poderá ser determinante não só para o futuro da ministra, mas para a própria estabilidade do Governo.
