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Diga “Boa Noite”, Marcelo!

Há qualquer coisa de errado com o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Ou é de um relógio que o pai lhe deu e já não funciona, ou daquela mania de se deitar às quatro da manhã, mas a verdade é que ficamos todos, assim, a encolher os ombros. O senhor Presidente faz comunicações ao país, como ainda este dia um. E, terminado o sermão, Marcelo olha para os lados, a catar por onde irá sair e, de repente, vira-se como um feirante a quem gamam camisas — e foge.

A malta, em casa, continua à espera que o senhor diga “boa noite”, já ele se enfiou no Mercedes a caminho de Cascais. Ou do Estoril. O povo fica ali de beiça à banda, os da televisão e da rádio com os microfones apontados ao púlpito vazio. E se o púlpito também não disser “boa noite”, ninguém se apercebe se já acabou a sentença.

Pode ser que lhe tenham rezado um olho gordo. Pode ser que o sector do Palácio de Belém que trata da Astrologia o tenha avisado:, se ele se despedir, se transforma num Luís Montenegro. Passa a ser um homem rural, aparecendo imediatamente o capote, o cajado e duas ovelhas — uma dela com óculos e mais barbicha a lembrar o Paulo Rangel.

Eanes dizia “boa noite””, mas não se ouvia. Dizia para dentro. Falava, falava, e no fim dizia “bnte”. É de Alcaíns, o sotaque não perdoa. Mas Eanes foi o primeiro a derrubar a barreira sexual. Nem dizia “portugueses” ou “portuguesas”. No início do discurso dizia: “Prtgxzz”, e pronto, estava a cama arrumada.

Soares, completamente irritado antes de cada discurso, vinha lá de dentro a gritar com o José Manuel e com o Carlos Ventura, aditando que o discurso era uma grande estopada, sentava-se ou não, e dizia: “Portugueses e Portuguesas”, mais para o fim. Lá lia metade do que lhe escreveram e inventava a outra metade, que achava bem pastelões os discursos de Estado. Então os Natais, Quaresmas, Anos Novos, Carnavais, esses obrigatórios, valha-o o Deus, que não lhe entrava na cabeça ser obrigado a falar quando não queria. E queixava-se.

Ar fresco, do bom, chegou quando Jorge Sampaio foi eleito, contra D. Aníbal — já lá vamos. Sampaio vinha todo contente falar de coisas graves, mas, ao começar as emissões rádio-televisionadas, berrava: “PORTUGUESAS e portugezs”. Era a revolução de género que acabara de aterrar em Belém. As senhoras primeiro, como no bom preceito machista, mas desta vez contra o machismo. Sampaio, o único Presidente da República estrangeiro que Portugal teve, era um cavalheiro e um homem, como se diz, de Estado. De Estado líquido, pois fartava-se de chorar. Cantavam o Trovante, chorava. Via fome em Moçambique, chorava. Falecia a Pintasilgo, chorava. Acabavam-se os rissóis de leitão, chorava. O Fernando Mamede desistia, numa repetição do 10 mil metros, chorava. E chorava sempre que o Mamede desistia, em todas as repetições. O Santana era nomeado, chorava. O Santana era dissolvido, chorava… Mas ao menos, Sampaio dizia “Boa Noite”.

Até que chegou o Inverno. O sol foi morar para outro lado e o calor desapareceu.

Era eleito Aníbal I, o Inútil.

Este Algarvio, perdoai, não ma lembra se chorava, se cumprimentava, se fazia alguma coisa. Apenas me lembro de dois episódios. O primeiro, quando convocou todos os jornalistas nacionais, espanhóis e estrangeiros para uma comunicação que devia ser de arromba. Mal começa a falar, a baba, o cuspe, amontoa-se-lhe nos cantos da boca. Ao princípio é só uma espécie de baba branca, imóvel. Mas Aníbal continua e aquilo começa a borbulhar, como o pus faz se muito irado. Mal acabava uma frase, caia-lhe um fiozinho de cuspe de um dos lados que, amiúde, caía-lhe no maxilar inferior e ficava ali como uma caganita de pombo, sabendo nós que, se ele continuasse, outra igual iria aparecer do outro lado. A comunicação que fez sobre “os estatutos dos Açores” foi entregue pela Força Aérea àquele grego com o cabelo em pé, dos programas dos OVNIS, porque ninguém percebeu nada.

A segunda memória de D. Anibal I, o Inútil foi quando se queixou que a reforma não lhe dava para os gastos. Ah! Carago! Tivesse ele sido primeiro-ministro e teria feito qualquer coisa para remendar isso.

Por isso, querido Dr. professor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa: diga “boa noite” à gente. É como se nos aconchegasse, já que a cada discurso que faz demite o Montenegro — mas o homem não percebe.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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