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E que tal uma história de mistério?

Corria o ano de 1980. A cena passa-se numa aldeia perdida na Serra da Estrela, onde um casal com quatro filhos se refugia nos arredores e raramente desce à povoação. Ninguém sabe porquê, consta que estarão a fugir de um passado sombrio ou a proteger um dos filhos, que sofre de deficiência psicológica grave.

Acresce que o casarão, um antigo palacete, irradia um forte perfume a incenso e, por vezes, gritos e uivos parecem ser ouvidos. Será apenas o vento dançando e cantando entre as árvores das redondezas?

Num dia de tempestade, um grupo de caminhantes, onde se incluem um franzino jovem de 12 anos e o seu irmão mais velho, pede abrigo até o tempo acalmar. Pouco depois surge, numa mota de neve, o detetive privado Artur Varatojo, avisando que um assassino pode estar nas imediações, depois de ter morto uma tal Maria Valentina, de 22 anos, conhecida como “Tina”, em Lisboa.

A tempestade piora, corta os acessos à casa e as linhas telefónicas colapsam. O local fica isolado, nem o rádio funciona. Dois dias passaram e os involuntários reclusos tentam ambientar-se à desconfortável situação. Quando João, o pequeno forasteiro de 12 anos aparece morto, esquartejado com uma faca no lúgubre e escuro sótão, todos temem que o assassino já esteja entre eles. Junto ao corpo é encontrado um papel com a frase “A verdade não é descoberta — é lembrada”. A suspeita cai, em princípio, sobre um dos recém
chegados, Francisco Antunez, um jovem hippie espanhol, com aparência mística e desleixada, semelhante à descrição feita do criminoso pelo detetive. Porém, após acaloradas discussões, logo fica claro que o assassino pode ser qualquer um deles,
inclusive o casal e restantes filhos… segredos e incongruências não faltam!

A tensão aumenta, todos desconfiam de todos. Entre Carla, a anfitriã, e Antunez, parece emergir uma ligação estranha, com frequentes troca de olhares enigmáticos. Na verdade, Antunez confidenciara-lhe lembrar-se de um acontecimento perturbador. Meses antes, já em viagem, encontrara um rapaz num acampamento de férias, um miúdo lourinho e aparentemente frágil que se aproximara dele com ar sério e lhe dissera, apontando discretamente para um homem à distância: “Aquele senhor deu-me rebuçados e disse para não contar nada… mas mostrou-me fotografias de crianças quase despidas.” Na altura, achara a história estranha, mas não deu grande atenção. Agora, ao reconhecer João como aquele mesmo miúdo e encontrar no detetive leves parecenças com o tal suposto pedófilo, tudo parece bater certo.

Essa repentina memória torna-se a peça final da misteriosa morte. Sem contar a mais ninguém — ainda sem saber ao certo em quem pode confiar — o espanhol monta uma armadilha. Fingindo querer conversar sobre o assassinato de Tina, leva Varatojo até ao armazém abandonado ao lado da casa, partilhando um cigarro salpicado de erva aromática. No gira-discos toca o tema “Rats” da banda The Kinks.

Ao ser confrontado, o impostor tenta reagir, mas é dominado por Antunez… com a ajuda de Carla e dos proibidos fuminhos. A tempestade acalmara, a policia é alertada, vindo a descobrir na bagagem de Varatojo fotografias comprometedoras e documentos falsos.

O suposto detetive sempre insiste na sua inocência, clamando que tudo fora inventado por Antunez, ele mesmo tendo lá colocado as fotografias e os documentos falsos. Desconhece quem o encarregou de descobrir o que acontecera a Tina, tudo fora combinado telefonicamente. Na verdade, o autor do crime de Maria Valentina nunca foi descoberto, mas Varatojo acabou por ser condenado. Antunez torna-se o herói improvável. Com ar descontraído e distante, Antunez logo que pode parte, como se nada tivesse acontecido, “procurando algo íntimo e secreto”, conforme afirma.

Nos dias que se seguiram, a aldeia nunca mais foi a mesma, com jornalistas e repórteres a invadirem a calma serrania. Todavia, o casal e seus filhos continuaram a viver como reclusos, até que um dia desaparecem. Anos depois, um dos filhos é encontrado morto algures perto da Serra Nevada, nas Alpujarras, no sul de Espanha. O povo local chamava-lhe El Loco Visionario. O corpo foi descoberto, segundo a imprensa, por um monge, antigo hippie, que vivia em Sel Ling, centro de retiro budista situado a 1600 metros de altitude, “ en el municipio de Soportújar, uno de los pueblos con más encanto de la Alpujarra Granadina”. Junto ao corpo encontrava-se um livro, bordado a linha de ouro, com o título “A erva daninha é o pensamento selvagem do jardim”, de Hermann Hesse

Este argumento é uma pequena homenagem à peça de teatro A Ratoeira (inglês: The Mousetrap). Mistério e assassinato bem ao estilo de Agatha Christie, famosa por ser o conto há mais tempo encenado na história do teatro, com mais de 25 mil apresentações desde sua estreia, em Londres, em outubro de 1952. O texto nunca foi publicado em livro e, no final, pede-se aos espectadores que não divulguem quem é o assassino… caso tenha alcançado a resposta certa. Nomes e enredo são fictícios, apenas com ligeiras ligações à peça A Ratoeira. E sim, tive uma pequena ajuda da IA

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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