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Grande Vale do Côa no Centro de Estudo Internacional para Combate a Incêndios Florestais no Mediterrâneo

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Estudo destaca a reintrodução de herbívoros selvagens como solução essencial para reduzir o risco de incêndios florestais catastróficos

Uma investigação internacional, liderada por especialistas de Inglaterra, Canadá, Holanda e Nova Zelândia, com o apoio da ONG Rewilding Portugal, centrou-se no Grande Vale do Côa, no Noroeste de Portugal, para identificar estratégias mais eficazes contra os incêndios florestais que assolam a região mediterrânica. Publicado na revista científica Fire Ecology, o estudo apresenta uma abordagem inovadora, baseada na renaturalização dos ecossistemas e na sensibilização das comunidades locais, como resposta à crescente ameaça dos fogos florestais, agravada pelas alterações climáticas e o abandono das áreas rurais.

Herbívoros Selvagens: Uma Defesa Natural Contra os Fogos

Os resultados da investigação destacam que a reintrodução de herbívoros selvagens, como veados, corsos, cavalos selvagens, cabras-montesas, tauros e até o auroque – antepassado selvagem do boi –, pode desempenhar um papel crucial na gestão sustentável das paisagens. Estes animais, ao consumirem vegetação inflamável, como matagais densos e material lenhoso seco, reduzem significativamente a vulnerabilidade das florestas aos incêndios.

Grande Vale do Côa no Centro de Estudo Internacional para Combate a Incêndios Florestais no Mediterrâneo
Foto: Pixabay

Conhecidos como “bombeiros de pastoreio”, os herbívoros selvagens contrastam com o gado doméstico, que se alimenta apenas de vegetação verde e tem um impacto reduzido na prevenção de fogos. O estudo critica as políticas governamentais que têm privilegiado o pastoreio tradicional como estratégia de combate aos incêndios.

“No Grande Vale do Côa, os resultados mostram que o gado domesticado não consegue abordar os maiores riscos, deixando de lado o material mais inflamável. Os herbívoros selvagens podem preencher esta lacuna e contribuir para a regeneração das paisagens”, afirma um dos autores do estudo.

Mudanças Climáticas e Despovoamento Aumentam os Riscos

As alterações climáticas estão a transformar os padrões dos incêndios florestais, tornando-os mais frequentes, intensos e duradouros. Com temperaturas mais altas e períodos prolongados de seca, os fogos naturais que outrora contribuíam para a biodiversidade e a regulação dos habitats transformaram-se em fenómenos devastadores.

Em 2023, por exemplo, mais de meio milhão de hectares arderam na União Europeia – uma área equivalente ao dobro do Luxemburgo. Países como Itália, Grécia e Portugal estiveram entre os mais afetados pela vaga de incêndios que varreu a região mediterrânica.

No entanto, os fatores climáticos não são os únicos culpados. O despovoamento rural, que levou ao abandono de muitas terras agrícolas, resultou na proliferação de vegetação inflamável. Com aldeias despovoadas e menos pastoreio, os matagais e espécies como pinheiros e eucaliptos, altamente inflamáveis, tomaram conta da paisagem.

Dados apresentados pela investigação revelam que 98% dos incêndios no Grande Vale do Côa são causados por atividade humana. Dois terços resultam de negligência, como queimadas descontroladas de resíduos agrícolas, uso de maquinaria em condições perigosas e fogos para fertilização de pastagens.

Educação e Sensibilização: Ferramentas Indispensáveis

A investigação sublinha que o combate aos incêndios deve incluir uma abordagem holística, que vá além das soluções imediatas. Medidas como a sensibilização das comunidades locais para práticas agrícolas sustentáveis, restrições de acesso a zonas propensas a fogos durante o verão e educação ambiental são essenciais para reduzir a frequência e gravidade dos incêndios.

“O envolvimento das comunidades é deveras importante. A renaturalização com herbívoros selvagens só será bem-sucedida se for acompanhada por programas que promovam a adoção de práticas sustentáveis e uma gestão consciente do território”, defende outro investigador.

Renaturalização: Caminho para a Resiliência

A recuperação de ecossistemas danificados pelos incêndios não depende apenas da redução do risco. A renaturalização com herbívoros selvagens é também uma forma de aumentar a biodiversidade e criar paisagens mais resilientes às alterações climáticas.

Estudos anteriores já demonstraram que ecossistemas mais equilibrados, com fauna e flora diversificadas, recuperam mais rapidamente de desastres naturais. No Grande Vale do Côa, os investigadores estimam que os grandes incêndios ocorrem, em média, a cada seis anos – um intervalo insuficiente para que a paisagem se regenere naturalmente.

A presença de herbívoros selvagens ajudaria a acelerar este processo, ao mesmo tempo que diminui a carga de vegetação inflamável, reduzindo o risco de novos fogos catastróficos.

O Futuro das Florestas Mediterrânicas

Com um cenário de alterações climáticas cada vez mais severo, as conclusões do estudo representam um apelo urgente à mudança. Os autores defendem que a integração de soluções baseadas na natureza, como a renaturalização, aliada a políticas públicas mais eficazes e programas de sensibilização, é essencial para proteger as florestas mediterrânicas.

A investigação deixa uma mensagem clara: apenas uma abordagem integrada, que aborde as causas sociais e os desafios ecológicos, pode garantir um futuro sustentável para as paisagens e comunidades do Mediterrâneo.

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