Apesar do convite de Marcelo a Macron já ter sido realizado há bastante tempo, as circunstâncias políticas internacionais já transformaram a visita de estado do Presidente da República francesa numa grande vitória da diplomacia portuguesa e de Marcelo Rebelo de Sousa que, desta forma, poderão ter contribuído para uma liderança europeia mais forte. Simbolicamente, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu Macron de braços abertos no Mosteiro dos Jerónimos. E depois, ao sair de Belém, Macron deu a mão ao Presidente da República após uma audiência privada, onde Marcelo provavelmente terá dado o seu apoio à ambição de Macron de assumir a liderança da U.E. no combate às políticas de Trump
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Na terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa expressou dúvidas sobre se os EUA ainda são “aliados” ou são “antigos aliados” e se a NATO ainda é para ser levada a sério. Quarta, leu as mais recentes regras para os jornalistas na Casa Branca como um sintoma da rampa deslizante “da democracia para a ditadura”. Para esta quinta-feira, o Presidente da República promete explicar melhor o que pensa sobre os EUA e sobre Donald Trump no discurso que fará no Palácio da Ajuda, onde vai oferecer um jantar a Emmanuel Macron, o Presidente francês que vem a Portugal para uma visita de dois dias.
O presidente francês deu início esta quinta-feira a uma visita de dois dias a Portugal. O itinerário abrange as cidades de Lisboa e Porto. Além de diferentes reuniões de alto nível, espera-se a assinatura de acordos bilaterais nos capítulos político, económico e cultural e uma carta de intenções em matéria de armas.
A visita de Macron, a convite do Presidente português, é a primeira de Estado de um Presidente francês a Portugal em 26 anos. A última aconteceu em 1999 com Jacques Chirac. No entanto, Macron já tinha sido convidado para a celebração dos 50 anos do 25 de Abril, em que acabou por dirigir uma palavra aos portugueses, com quem a França partilha uma relação histórica.
Em Junho de 2022, Macron esteve em Portugal para participar na Conferência dos Oceanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Lisboa, já Marcelo Rebelo de Sousa esteve pela última vez em França em Junho do ano passado, para assistir à cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris.
A visita oficial de Emmanuel Macron a Portugal arrancou debaixo de uma carga de chuva intensa em Lisboa, que não demoveu os Presidentes francês e português de ouvirem, no exterior do Mosteiro dos Jerónimos, A Marselhesa e A Portuguesa a céu aberto, em solidariedade com os militares que prestaram as honras militares aos dois chefes de Estado.
Sem guarda-chuvas ou outra proteção, os dois chefes de Estado seguiram para a revista à guarda de honra e acabaram por estar vários minutos expostos ao clima adverso, com Macron a pingar. Já no interior do Mosteiro dos Jerónimos, Macron, acompanhado da primeira-dama francesa, Brigitte Macron, depositou uma coroa de flores no túmulo de Luís Vaz de Camões.
A visita ao monumento não foi demorada, com a necessidade de recuperar do atraso matinal, e dali os dois presidentes seguiram para a segunda paragem da manhã: o Palácio de Belém. Poucos minutos antes da 13h00 da tarde, o Presidente de França chegou à residência oficial do Presidente da República.
Os atos protocolares habituais sucederam-se com rapidez. Primeiro Marcelo e Macron tiraram a fotografia oficial e, logo depois, o Presidente francês assinou o livro de honra da Presidência da República.
Ainda no Palácio de Belém, o Presidente da República condecorou Emmanuel Macron com o Grande-Colar da Ordem da Liberdade, o mais alto grau da Ordem que é concedido pelo Presidente da República a chefes de Estado estrangeiros. Brigitte Macron também foi condecorada — recebeu a Grande Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique.
Depois de uma curta audiência no Palácio de Belém, os presidentes francês e português saíram de mãos dadas da sala onde estiveram reunidos. O ponto seguinte na agenda de Macron foi o encontro com Luís Montenegro, no Palácio de São Bento, onde os dois tiveram um almoço de trabalho em que debateram a guerra na Ucrânia. O primeiro-ministro, Luís Montenegro, congratulou o Presidente francês Emmanuel Macron pela sua “postura e pelo trabalho muito notado nas últimas semanas” para “dar passos positivos para que possamos ter paz na Ucrânia”. Tanto Macron como Montenegro frisaram que o multilateralismo está em risco.
Após a passagem pelo Parlamento, onde houve uma sessão solene e troca de impressões com o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, e os vários presidentes dos grupos parlamentares portugueses, as autoridades portuguesas transferiram para Macron os poderes para a realização da terceira edição da Conferência da ONU sobre o Oceano (a segunda ocorreu em Lisboa em 2022), que decorrerá entre 09 e 13 de junho deste ano em Nice (sul de França).
À saída da Assembleia da República, numas declarações aos jornalistas que não estavam previstas, o Presidente francês sublinhou a importância e antiguidade da aliança entre Portugal e França, mostrando-se “muito feliz” pela assinatura do tratado bilateral de amizade.
“Num momento em que a Europa e o mundo estão a atravessar momentos difíceis, há alianças muito antigas que estão em causa”, afirmou Emmanuel Macron nos passos perdidos. “Há amizades que não se quebram” e os “laços entre Portugal e França são dos mais antigos da Europa.”
Sobre o encontro entre os Presidentes dos EUA e Ucrânia, previsto para esta sexta-feira, o chefe de Estado francês considerou que este é “um encontro importante porque poderá facilitar as coisas”. “É importante que o Presidente Zelensky possa explicar ao Presidente Trump o que se está a passar no país dele”, acrescentou.
Porém, sublinha: “para nós, a Ucrânia é um combate importante porque é um combate pelo direito internacional e pela segurança europeia”.
Com tempo para falar com Moedas
Com uma agenda super-preenchida, Macron “encontrou tempo” para uma conversa com o presidente da Câmara de Lisboa e antigo comissário europeu para a Investigação e Inovação, Carlos Moedas, no Beato Innovation District, um dos maiores centros de inovação e empreendedorismo da Europa, com a participação de atores franco-portugueses da tecnologia e da Inteligência Artificial (IA), como a Station F (centro de startups francês), na sequência da Cimeira de Ação sobre IA em Paris no início do mês.
A visita ao Unicorn Factory Lisboa ficou marcada por um debate entre Macron e o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, tendo sido abordados temas como os desafios atuais relacionados com a inteligência artificial, o impacto da tecnologia na democracia, e a competitividade da União Europeia frente aos EUA e à China.
“A Unicorn Factory é atualmente a maior incubadora de empresas tecnológicas no país. O projeto lançado em 2022 por Carlos Moedas já acolheu mais de 700 startups, lançou 5 novos centros de inovação em Lisboa e trouxe para a cidade 14 empresas “unicórnio” (de grande dimensão)”, lê-se na mesma nota.
Antes de Emmanuel Macron chegar à Unicorn Factory, em Lisboa, Carlos Moedas disse estar “muito feliz” por este momento ter sido incluído na agenda do presidente francês na sua primeira visita de Estado a Portugal. “É uma honra que o presidente francês tenha querido vir aqui à fábrica de unicórnios”, disse o autarca aos jornalistas elogiando a escolha de algo “informal” por parte do presidente francês.
Emmanuel Macron juntou-se a Carlos Moedas para um debate intitulado “Inovação na Europa” que contou com vários empresários franceses e portugueses na plateia.
Segundo o presidente da Câmara de Lisboa, o presidente francês queria “ver com os seus olhos” o trabalho feito nesta start-up onde existem “empresas de todo o mundo” incluindo “muitos franceses que cá criaram as suas empresas”.
Assinatura de vários acordos
A visita do presidente francês a Lisboa e ao Porto tem como objetivo a assinatura de um conjunto de acordos bilaterais políticos, económicos e culturais entre Portugal e França, avançou a Presidência francesa.
No segundo dia, na deslocação do chefe de Estado francês ao Porto para se encontrar com o primeiro-ministro, Luís Montenegro, deverá ser assinada cerca de uma dúzia de acordos bilaterais, incluindo “um acordo de amizade, um acordo de cooperação franco-portuguesa e uma carta de intenções no domínio do armamento.
Também serão assinados acordos de cooperação cultural, científica e técnica, polícia, coprodução cinematográfica, em particular com o Centre National de la Cinématographie, e um plano de ação a favor do ensino superior, da ciência e da inovação.
Macron participa também num fórum de negócios franco-português no Porto com Marcelo e Montenegro, com foco na cooperação económica e de investimento de França a Portugal, e os laços entre os dois países, bem como questões relativas à inovação, defesa e preservação da soberania na Europa.