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O Bochechas De Costaslargas

Há um ódio a Mário Soares que ainda não passou. O falecido fundador do Partido Socialista continua a ser zurzido como a fome, sendo que os zangões (e as zangôas) não têm bem uma origem única. Ora chegam da direita, ora da esquerda. A raiva ao homem é tal que já não bastava, alguns taxistas, agora os motoristas da Uber e semelhantes também, quando lhes foge a conversa para a política, pimba no “Marocas” ou “Bochechas”, duas das muitas alcunhas que granjeou ao longo da vida.

Enfim, lá pergunto a esta perigosa seita o que de mal fez o homem. Mas as respostas são, depois, tão disparatadas, que dá vontade de levar uma couve de Bruxelas e enfiá.la na boca do parlamentar. Mas façamos de conta que as críticas são uma espécie de Lego e tiremos uma a uma.

Primeiro: “Ele deu cabo disto com a descolonização”.

Esta é fatal. Aparece sempre. “Deixou tudo aos amigos”, prosseguem os magistrados do Ministério Púdico. Vamos aos factos: a descolonização, tardia e serôdia, deu-se nos governos provisórios de Vasco “companheiro” Gonçalves, um primeiro ministro próximo do PCP, à época. Quanto ao ter deixado tudo aos amigos, viu-se: Angola, Moçambique e Cabo Verde, por exemplo, foram entregues aos partidos “irmãos” do PCP. Portanto, nã! O Bochechas teve intervenção, sim, mas a decisão não foi dele nem ele é “culpado” da descolonização. Queriam o quê? Que Portugal, pobre e sem tino, ficasse com uma guerra colonial às costas? Curai-vos, digo eu.

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Outra: “Ele entregou isto aos americanos”:

Eu aqui ponho-me a pensar. Mas será que a pessoa à minha frente preferia que Soares tivesse feito força para deixar tudo a Moscovo? A Tóquio? A Madrid? Não percebo de que raio se trata, na frase. Soares, sim, optou pela democracia europeia e quem tinha carcanhol para sustentar essa coisa era a América do então presidente Jimmy Carter. Sigamos.

Terceira: “Ele agarrou-se sempre ao poder”:

Esta é estatística e nem sequer vale muito a pena. Soares foi primeiro-ministro durante quatro anos e 187 dias, somando tudo, com coligações com o CDS e outra com o PSD. Passos Coelho, por exemplo, foi PM durante quatro anos e 158 dias, mesmo chegadinho a Soares. Querem saber o campeão, que esteve mais tempo que o Caetano das andorinhas? Pois foi o inefável Aníbal Cavaco e Silva, com 9 anos e 356 dias. Arredonde-se. Dez anos. Conversa acabada.

Mais esta: “Ele roubou os trabalhadores”:

Bem, há um movimento infeliz de Soares com o PSD, sim, na famosa lei do lay-off, que mancha as mãos do PS e do PSD. Mas as medidas tomadas pelo primeiro Governo e depois pêlos outros dois,

onde Soares esteve, inventou o Serviço Nacional de Saúde, o apoio social, criou o Instituto de Obras Sociais (hoje seria a Segurança Social). Curiosamente, o SNS foi chumbado pelo PSD.

E, finalmente: “O Estado ainda lhe paga, lá para a Fundação”.

Aqui, já apetece sacar da arma (o pau da Marinha Grande) e dar com o dito na cabeça do falador. Ora porra, que já farta. O Bochechas já faleceu, homem! Só quem não conhece as contas da Fundação pode ter o despautério de dizer que está ali dinheiro mal gasto. Quem não ligue à História, à Liberdade, ao cuidado de ter o único diário português já digitalizado. Mas o melhor é que a obra está à vista e as contas também. Ide ver. Ah, e ide ver o que ficou, por exemplo, de Aníbal I, o Inútil, depois de ser Presidente.

Talvez assim comecem a ver melhor

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista, autor, (pré-agricultor).

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