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Pobre Catarina deu à ‘estampa’

A imbecilidade à solta é uma coisa normal, o que não é normal é que essa imbecilidade tenha chegado às notícias que nos entram pela casa dentro. Ainda ontem, uma jovem portuguesa (Catarina) terá sido morta na Suíça — e a notícia só dizia isto. Deixava milhões de dúvidas. Se a jovem foi morta na Suíça e se tinha um namorado que alertou a polícia, e depois foi-se deitar, com grande tranquilidade, queríamos saber se as autoridades suíças também foram dormir ou ao encontrar o corpo avisaram as autoridades portuguesas do país, ou se apenas o seu namorado. Se é só namorado? Se era comum esta descontração entre o casa? Caramba, se estávam de truces azuis para a passagem do ano…

Não se sabe muito bem o que aconteceu. Aliás, ninguém sabe o que aconteceu, nem os jornalistas que dão a notícia sabem o que aconteceu. Parecem não querer saber porque, segundo se vê e ouve, não fizeram um telefonema para o Consulado, para a Embaixada, para o Ministério dos Negócios Estrangeiros, para a Polícia suíça, para os moradores vizinhos da casa onde estava essa portuguesa que faleceu… Nada. Nem se sabe o nome do lago, da vila, da rua, é tudo no ar, nem uma segunda fonte a confirmar a morte da moça, que é uma das regras básicas do repórter: ou confirma, ou não dá a notícia. Há excepções que aqui não se aplicam.

E os “jornalistas” dão… Dão relatórios policiais. Aliás, no “jornalismo” há muito tempo que se dão relatórios policiais e não há investigação. Por exemplo, as fugas de informação do Ministério Público ou dos advogados nos megaprocessos são mais do que comuns. “É mato”, diria o povo. Isto é apresentado como “grande investigação”, não é? O verdadeiro jornalismo de investigação vai atrás das provas, tira as suas conclusões, fala com pessoas que a polícia fala e fala também com outras, e tenta compreender a razão, o comportamento, o entorno no qual o caso se deu.

Mas não. Neste país preguiça, onde as coisas vão acontecendo, os repórteres baseiam-se naquilo que está na acusação do Ministério Público, vazada sabe-se lá por que fonte, para um bocadinho de água que nos apresentam como o jornalismo de investigação.

Não é só triste, é também grave. Na abertura de um dos telejornais, também ontem, dava-se a notícia de que o INEM e o 112 perderam mais de 30 mil chamadas por socorro durante o ano de 2024. Contudo, não se apuraram responsabilidades.

A notícia foi dada, durou quatro minutos e a seguir não há um repórter atrás da ministra, um repórter atrás do primeiro-ministro, um repórter atrás do diretor do INEM, um repórter atrás do diretor do CODU, um repórter… Bom, um repórter, não há um repórter que faça 200 telefonemas que não deixe a notícia morrer. É que se o objectivo é sermos informados das conclusões de um relatório qualquer, basta a um de nós ir à ‘net’, clicar no Google e pesquisar “relatórios + conclusões + hoje”, e sabemos logo uma data de coisas.

Este é o chamado jornalismo administrativo, que quando entrámos nas redações há muitos anos, e que havia mestres ainda do jornalismo que nos batiam, que nos batiam, éramos impedidos de fazer. A notícia tinha de ser algo único, especial e próprio. Um jornal que não adiantasse mais do que tinha sido dito no dia anterior era um jornal pouco respeitado.

Hoje, na ‘net’, na televisão, nos jornais, nas rádios, aquilo que é de facto novidade e investigado, afinal é jornalismo administrativo. Para a administração estamos nós fartos de dar. Já demos em dinheiro, em paciência, em atenção e perda de tempo.

E, já que hoje é à bastonada, dizer apenas que “jornalismo” é uma carreira, com muitas coisas dentro. O ‘repórter’, que investiga e reporta ao jornal a informação. O ‘redactor’, que recebe do repórter e sabe escrever. O editor, que decide, na sua área, o que é importante e de interesse público. E por aí acima, até ao Chefe-de-Redacção. Sim, o Director de uma publicação não tem de ser “jornalista”. Não precisa de Carteira Profissional. Muitas vezes apenas dá o nome e o prestígio agarrado ao nome.

Mas cá se vai, cantando e rindo, como diziam os outros, no tempo que se queria reportar e não se podia.

Um abraço. Bom fim de semana.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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