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Espécies invasoras estão a tomar conta dos nossos rios

Os rios portugueses estão “ameaçados” por espécies invasoras devido a “perturbações prévias”. Os motivos são variados, mas quase sempre reflectem a mão do homem: agricultura, aquariofilia, plantas ornamentais, desportos aquáticos. Um facto é que os animais e as plantas invasoras são altamente resistentes e afetam as espécies nativas. Pouco ou nada está a ser feito para erradicá-las, alertam os investigadores

Os rios portugueses encontram-se “muito ameaçados” por espécies invasoras, quer animais, quer vegetais, devido a “perturbações prévias” que vão desde incêndios a cortes de vegetação, potenciadoras da sua propagação, segundo o ambientalista Paulo Lucas, da associação Zero.

Não damos por elas, mas as plantas invasoras reconfiguram a paisagem portuguesa e atacam a flora autóctone, colocando em causa a biodiversidade dos rios. Por exemplo, num dos braços secundários do Mondego, o jacinto-de-água (Eichhornia crassipes), planta invasora oriunda da América do Sul, prospera, ameaçando múltiplas espécies autóctones raras, naquela que é a região com maior diversidade de plantas aquáticas do país. Tem também sérias consequências para a agricultura e para os desportos náuticos.

Há cada vez mais exemplos de espécies invasoras que chegaram a Portugal e colonizaram vastas áreas do país, ameaçando a flora nativa e criando graves problemas ambientais e económicos. Os motivos são variados, mas quase sempre reflectem a mão do homem: agricultura, aquariofilia, plantas ornamentais, desportos aquáticos.

“A invasão normalmente é mais eficaz quando há uma perturbação prévia. Aquilo que nós sabemos é que quando há cortes de vegetação ou incêndios, digamos, os espaços ficam à mercê e disponíveis para que essas plantas se instalem. A verdade é que depois, a seguir, é a colonização”, explicou.

Se houver uma “vegetação natural bem instalada”, mais dificilmente haverá a propagação, pelo que a situação acontece mais “em áreas onde houve realmente perturbação”, que pode ser também, por exemplo, a instalação de uma barragem.

As alterações climáticas não estão diretamente relacionadas com o problema, mas podem potenciar as invasões.

Os rios, referiu o ambientalista, possuem, a norte ou a sul do país, mais ou menos correntes e, quando não chove, “a situação da falta de água pode traduzir-se num potencial perigo para as espécies endémicas, sobretudo de peixes de água doce”.

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Extração ilegal de água

Paulo Lucas alertou também para os problemas de extração de água ilegal e para a implementação das espécies invasoras animais, que “muitas vezes são colocadas pelos pescadores nos rios e são espécies de maior dimensão e muito vorazes”.

Em relação às plantas, nos rios localizados mais a norte do país está a verificar-se “uma substituição da vegetação por espécies invasoras, nomeadamente acácias e jacintos de água”, que não fazem habitualmente parte da vegetação ribeirinha.

Como uma das soluções para controlar, por exemplo, as acácias, há a técnica do descasque do tronco – “funciona relativamente bem porque cessa a produção de sementes” e, dessa forma, eliminam-se os indivíduos adultos nesses espaços, para que a invasão não continue.

O ambientalista da Zero lembrou ainda a necessidade de se “aproveitarem fundos comunitários” para um programa de controlo mais eficaz, com “alocação de fundos anuais” para impedir o avanço das espécies invasoras e não se limitar a resposta a avisos, como tem vindo a acontecer.

Paulo Lucas diz que se deve olhar para o problema não só pela parte dos custos e que podem mesmo vir a ser criados empregos localmente nesta área, com trabalhadores específicos para este tipo de função, aproveitando o Plano Nacional de Restauro da Natureza.

Na verdade, segundo alguns investigadores, temos de aprender a viver com as plantas invasoras, minimizando o seu impacte nos ecossistemas e o nosso na sua propagação. Em áreas prioritárias de conservação, é também fundamental gerir melhor estas espécies e controlá-las de forma a recuperar  a  biodiversidade que ameaçam.

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