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Postal do Brasil

Recebi uma mensagem de São Paulo, Brasil, enviada por uma amiga que levanta questões curiosas sobre o que é ter duas nacionalidades, sentir que se pertence a dois países, duas culturas. Reza assim:

Será fácil ter duas nacionalidades? Uma mistura de emoções, por vezes, mas é uma experiência interessante. Pelo menos é para mim.

Pai português, mãe nascida no Brasil, mas que viveu em Portugal até aos 20 anos, o que a fazia parecer-me portuguesa: seu sotaque era mais forte que o de meu pai. Ser imigrante há mais de 70 era muito diferente da imigração atual. Várias nacionalidades imigraram para o Novo Mundo em busca de melhores oportunidades. Todos foram acolhidos, mas não foi fácil. Algumas imagens estão guardadas na minha memória, que só muito mais tarde entendi ser preconceito. Nasci no Brasil, em São Paulo, onde cresci, estudei e desenvolvi-me profissionalmente.

Conheci Portugal aos 25 anos. Foi só depois de todo esse tempo que meu pai regressou à terra natal. Foi muita emoção para ele e para mim. Gostei de conhecer uma aldeia, lá para o Seixo da Beira, com gente trabalhando para retirar da terra seu sustento. Meu tio, irmão de meu pai, era guardador de ovelhas e eu o acompanhei várias vezes, quando ia levar-lhe o almoço. Foi uma aventura! Os anos passaram e construí minha vida, sempre com a presença de um pai que amava sua Pátria, suas tradições, mas era o “português mais brasileiro” que conheci. Foi muito grato à oportunidade que teve no Brasil.

Passaram-se os anos, construí minha vida e há mais de 20 anos dei-me conta, de verdade, que tenho sangue português e passei a ter um olhar diferente para mim mesma. Comecei a viajar pela Europa e Portugal passou a ser um destino frequente. De repente, peguei-me a lembrar dos ditos populares que meu pai usava e comecei a registrá-los. Minha
filha ajuda nessa tarefa. Ela, desde cedo, criança, quase adolescente, mostrava orgulho por ser de origem portuguesa. Eu nem conseguia entender direito, mas era algo dela. Depois de muito tempo, comecei a entender e a sentir minha alma portuguesa. Levou muitos anos até que se solidificasse esse sentimento. Hoje está claro para mim. Tive contato com literatura portuguesa, devido a minha formação acadêmica, mas hoje o contato ampliou-se para cultura em geral: música atual, eventos, o dia a dia e por que não, política, parte difícil atualmente.

Sou grata ao meu país de nascimento por tudo que me proporcionou até hoje, mas seguramente posso afirmar que sou a “brasileira mais portuguesa” que conheço!

Depois de ler a missiva da Teresa Nunes, fiquei a pensar que há países onde poderá vir a existir opção obrigatória, acabar com a dupla nacionalidade! Por mero acaso estava a ouvir um tema musical que me fez voltar a sonhar com um mundo sem fronteiras…

Imagine there’s no countries
It isn’t hard to do
Nothing to kill or die for
And no religion, to

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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