Sexta-feira,Maio 16, 2025
20.1 C
Castelo Branco

- Publicidade -

Bolsas de Nicotina: O Sucesso Sueco que Preocupa Portugal

A Suécia alcançou o estatuto de país livre de fumo, mas o consumo de nicotina persiste através de bolsas sem tabaco que se tornaram moda. Este fenómeno preocupa autoridades de saúde em Espanha devido ao vício entre jovens, gerando um debate regulatório na União Europeia e dividindo opiniões sobre a redução de danos. Os saquinhos de nicotina têm ganho popularidade entre a juventude portuguesa. Apresentados como alternativa ao cigarro, escondem, porém, um perigoso vício com consequências para o bem-estar. Embora sua venda seja ilegal no país, continuam disponíveis em bancas de jornais, escapando à fiscalização… E vendem-se livremente na Internet.

Tratam-se de pequenos sacos porosos contendo nicotina em pó ou em forma de sais, obtida através de extracção tabaqueira ou produção laboratorial. Comercializados em embalagens metálicas (com preços entre seis a nove euros), cada caixa contém 18 a 22 unidades para uso sublabial.

Suécia “Livre de Fumo”, mas enganada

A Suécia celebrou em Novembro de dois mil e vinte e quatro a sua conquista do estatuto de “país livre de fumo”, ao reduzir a taxa de fumadores adultos para menos de cinco porcento. Este marco coloca Estocolmo dezassete anos à frente da meta estabelecida pela União Europeia, onde a média ronda os vinte e quatro porcentos. O chamado “caso sueco” é frequentemente associado a uma das taxas mais baixas de cancro do pulmão no continente europeu. No entanto, o consumo de nicotina entre os suecos mantém-se elevado, com um em cada quatro adultos a consumir diariamente, alinhado com a média europeia.

Essa via é, primariamente, o uso de “snus” e bolsas de nicotina, pequenas saquetas colocadas sob o lábio. Através das mucosas bucais, a nicotina é absorvida directamente na corrente sanguínea, proporcionando uma sensação característica. As bolsas, especialmente as “snus branco” sem tabaco, existem em variados sabores (de fruta a café) e concentrações, visando atrair diferentes perfis de utilizadores. Para Samuel Lundell, da Associação Sueca de Consumidores de Snus, a colocação da primeira bolsa de manhã é «a melhor altura do dia».

Uma História com Raízes Suecas Profundas

A origem remonta ao século dezassete, evoluindo do rapé inalado pelo nariz – popular na corte francesa – para um consumo discreto e prático sob o lábio. Esta adaptação era ideal para as necessidades dos suecos, fosse na caça à baleia ou na mineração em climas frios. O snus tornou-se economicamente vital, impulsionando fortunas como a da família Ljunglöf e chegando a ser nacionalizado em mil novecentos e quinze para financiar os militares e um sistema de pensões. A sua relevância cultural foi tamanha que a Suécia assegurou uma isenção da proibição na UE em mil novecentos e noventa e cinco, após um voto apertado, num episódio ainda hoje recordado pelo autocolante “UE? Não sem o meu snus”.

A Ascensão das Bolsas “Brancas” e a Conquista de Mercados

Embora o cigarro tenha ganho proeminência no século XX com Hollywood, a consciencialização crescente para os riscos do tabaco, impulsionada por relatórios como o do Cirurgião-Geral dos EUA em mil novecentos e sessenta e quatro, levou a uma inversão da tendência na Suécia. A indústria inovou, colocando o snus em saquetas e, mais tarde, lançando as bolsas (às vezes pastilhas) de nicotina sem tabaco – o “snus branco” – há cerca de dez anos. Produtos como a Zyn, da gigante Swedish Match (entretanto adquirida pela Philip Morris), foram criados para atrair novos públicos, incluindo mulheres, e conquistar mercados externos, como o americano. Nos EUA, a Zyn e similares tornaram-se um fenómeno juvenil, com vendas a subir exponencialmente (seiscentos e quarenta e um porcento entre dois mil e dezanove e dois mil e vinte e dois). O perfil de utilizador diversificou-se, incluindo profissionais urbanos que as usam em diversos contextos, apelidando a sensação de “nicokick” – “pedrada de nicotina”.

O Alarme

A visibilidade destas bolsas aumentou com referências de figuras públicas e desportistas – um estudo em Inglaterra indicou que um em cada cinco jogadores de futebol usa estes produtos, crendo que auxiliam no foco e relaxamento. Em Espanha, as bolsas de nicotina estão à venda e, apesar de ainda serem um “nicho”, preocupam as autoridades de saúde. Em Portugal também se alerta para um “risco significativo para a saúde pública”, especialmente entre jovens, visíveis em redes sociais como o TikTok associadas a melhoria de desempenho e concentração. Escapando a regras mais estritas do tabaco por não conterem a folha, os Governos querem limitar a nicotina a zero vírgula noventa e nove mg por saqueta e proibir substâncias estimulantes.

O caso das bolsas de nicotina sublinha a tensão entre estratégias de redução de danos – que as vêem como alternativa menos prejudicial ao tabaco queimado – e a protecção da saúde pública, sobretudo juvenil, face aos riscos de vício e efeitos cardiovasculares da nicotina. O debate regulatório na União Europeia, impulsionado pela iniciativa espanhola e pela oposição de vários Estados-membros, incluindo a Suécia, reflecte esta clivagem e mantém o foco no “caso sueco” como uma referência singular, mas controversa, na luta contra o tabagismo tradicional.

- Publicidade -

Não perca esta e outras novidades! Subscreva a nossa newsletter e receba as notícias mais importantes da semana, nacionais e internacionais, diretamente no seu email. Fique sempre informado!

Partilhe nas redes sociais:

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Destaques

- Publicidade -

Artigos do autor

Não está autorizado a replicar o conteúdo deste site.