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A Esquerda “Fofinha”

Os resultados eleitorais ditaram uma forte descida da esquerda, principalmente do PS e do BE. Antes dizia-se que o PCP iria sair do Parlamento (a culpa era das
posições relativamente à guerra na Ucrânia), agora o discurso aponta para que
todas as forças progressistas se tornarão quase residuais…

Na verdade, pela primeira vez, a AD tem mais deputados que toda a esquerda junta
e poderá, conjuntamente com os restantes partidos de direita, avançar para uma
revisão constitucional, tornando o Estado numa componente diminuta (como propõe
a IL) ou apontando para a diminuição do número de deputados e alterações na
Justiça, como deseja o Chega. E desconfio que termos como “abrir caminho para
uma sociedade socialista” ou “os estrangeiros e os apátridas que se encontrem ou
residam em Portugal gozam dos direitos e estão sujeitos aos deveres do cidadão
português” se mantenham…

Aproximam-se tempos perigosos, estamos em altura de clarificação, “a coisa agora
tem de fiar mais fino”. Não basta assumir-se democrata, é preciso ser consequente
com essas ideias, criando algo parecido com uma “frente de esquerda”. Penso que
tal deverá, inclusive, ser considerado para as eleições autárquicas, que estão
próximas, conforme proposto pelo Livre.

Só uma esquerda consequente conseguirá resolver os problemas das pessoas!
Para já, o PCP apresentou uma moção de rejeição, que o BE apoiará (espero eu),
vamos ver como votam partidos como o Livre, PAN e JPP. Abstêm-se, como fará,
possivelmente o PS, e continuam nessa oposição “fofinha”, segurando o PSD?
Agora é altura para demonstrar onde está a coerência!

O cenário mais provável será uma viabilização do Programa do Governo com os
votos da AD, do PS e do Chega (votando contra ou abstendo-se). Mas a esquerda,
a verdadeira, aquela que quer mais que uma mera alternância com a dita direita
moderada, vai ter de o demonstrar desde já. A estratégia não é amolecer a luta,
antes intensificá-la! Estou para ver quem vai apoiar um orçamento que será, sem
dúvida, claramente de direita e até com laivos de extrema direita (com ou sem o
apoio do Chega)!

As pessoas vivem pior, há três décadas que os salários decrescem, o SNS não
funciona devidamente, a falta de habitação é um problema gravíssimo, existe alta
precariedade no emprego, a violência doméstica aumenta. Acresce que alguns
partidos, como o Chega, criaram a percepção de que os emigrantes e os ciganos
são causadores de muitos destes problemas, o que não é verdade, antes pelo
contrário, são necessários. Com a direita num poder estabilizado, passaremos a
viver ainda pior, com privatizações, desmantelamento do SNS, ataques à liberdade
de expressão.

Portugal tem sido governado em alternância entre PS e AD, portanto têm sido as
políticas destes partidos as razões para o país não estar a funcionar devidamente.
Um amigo meu afirma que “um dos principais responsáveis foi António Costa, que
teve maioria absoluta, teve milhares de milhões do PRR, teve tudo e não fez nada.
Dois anos depois arranjou um parágrafo para ir para o luxo da UE e entregou o país
ao Chega e à AD, “rebentando” propositadamente (?) com a a CDU e o BE.”

Concordo. É preciso que as pessoas deixem de ver o PS como única solução,
temendo alterações profundas na sociedade. Foi-lhes incutido esse medo.
Na Europa, algo de semelhante acontece.
Partidos como o Chega “vão buscar os ressentimentos todos”, como que substituem
os sindicatos nas reivindicações, cavalgando na mentira e prometendo resolver os
problemas do país. Garantem acabar com a corrupção que, na verdade, é baixa,
mas não propõem diminuir os lucros dos grandes poderes económicos. Gritam,
acusam, vitimizam-se, e isso faz com que estejam sempre presentes nas notícias. E
aqui encontramos outra causa para explicar o avanço da direita e da extrema
direita.

Repare-se que os comentadores das televisões são quase todos de direita em
Portugal e na Europa! A situação atual convém aos grandes poderes capitalistas,
que por sua vez dominam os meios de comunicação. Quem controla a informação
controla a situação. Diminui-se a consciência dos leitores, deixam de perceber a
diferença entre direita e esquerda. E em Portugal o Chega, diferentemente dos
outros partidos de extrema direita europeus (Orbon da Hungria,Simion na Roménia,
AFD na Alemanha, etc), não é contra a NATO e apoia a política europeia na guerra
da Ucrânia e o rearmamento, o que ainda cria mais confusão nas pessoas.

A este panorama (des)informativo, acrescem as redes socais e toda a panóplia de
algoritmos e IA que por lá populam. Um outro amigo meu, que viveu nos EUA e em
França, além de Portugal, sintetiza, à sua maneira, a situação:
“Os oligarcas compraram a maior parte dos jornais e quem não paga não pode ler a
maioria das notícias (notícias cada vez mais descomplexadamente reacionárias,
mas um pouco menos irracionais que as das redes sociais). O que leva a que a
maior parte das pessoas e principalmente os jovens tente – sem grande consciência
política – informar-se através das plataformas sociais da internet. Plataformas que
pertencem à máfia do Musk e seus amiguinhos, que financiam e fazem publicidade
às ideias dos movimentos de extrema direita mundiais. Portanto, a consciência
política está a ser moldada numa alienação propagandista de extrema direita. O
fascismo voltou a estar na moda. Essa moda, em geral, só desaparece com a
guerra…”. Eu acrescento que temos de apostar e ajudar o jornalismo livre e
independente, como o jornal ORegioes.

Não é por o povo ser atrasado, pobre ou inculto, seja em Portugal ou no resto da
Europa, que a direita avança. As pessoas estão desiludidas com o neo-liberalismo
das últimas décadas, e viram-se para salvadores da pátria. Mas aproximam-se
tempos que podem alterar tudo, designadamente o financiamento do rearmamento
e o perigo, real, dos nossos filhos e outros jovens, terem de entrar em guerra… não
esquecendo Trump e a sua imprevisibilidade e nacionalismo doentio (veja-se o caso
das tarifas, entre outras estranhas resoluções). Decisões importantes terão de ser
tomadas, neste mundo multipolar! A política externa poderá destabilizar o “status
quo” da governança, seja ela “fofinha” ou não.

É preciso reagir, fugir ao individualismo e apostar nos clubes recreativos, nas
associações desportivas, comissões de festas dos bairros, associações de
estudantes, actividades das juntas de freguesia, reforçar as lutas nos sindicatos e
nos movimentos sociais reinvindicativos. As redes sociais devem ser aproveitadas
como forma de divulgar ideias progressistas e mobilizar as pessoas.
Os ventos não sopram a favor dos trabalhadores, mas tudo mudará quando o povo
entender que não são as direitas que resolvem os seus problemas. E, sublinhe-se,
muito “desse povo trabalhador” acabou de votar no Chega, quando há três anos
haviam votado à esquerda! Nem todos os eleitores dos partidos fascisantes são
fascistas, são gente indignada, zangada e preocupada com o futuro. Só uma
esquerda consequente e lutadora conseguirá resolver os seus problemas!

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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