A polémica está Instalada em Idanha-a-Nova! A Fonte da discórdia!

Polémica em Idanha-a-Nova. Um estudo europeu divulgado no passado dia 6 de Setembro, que envolveu 12 países, revela que Portugal é “campeão” em termos de concentração tóxica para consumo humano do herbicida glifosato em cursos de água doce.

O estudo, feito pela organização Pesticide Action Network e pelo Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia, no Parlamento Europeu, recolheu amostras de água doce, em rios, ribeiros e lagos, em 12 países da União Europeia (UE) em Outubro de 2022 (período que se segue à campanha agrícola).

Em Portugal, as amostras foram recolhidas no rio Douro, na Herdade da Fonte Insonsa, em Idanha-a-Nova, e na Albufeira da Barragem do Roxo.

O estudo foi divulgado pela Plataforma Transgénicos Fora, organização que fez a recolha das amostras em Portugal, onde, a par de Áustria, Espanha e Polónia, foram detectadas concentrações de glifosato consideradas tóxicas para o consumo humano.

Uma das amostras em Portugal, recolhida em Idanha-a-Nova, continha 3 microgramas/litro (µg/L), isto é, 30 vezes mais que o limite legal, tendo sido a mais elevada concentração de glifosato detectada nas amostras analisadas no estudo. O limite de segurança para o glifosato na água potável é de 0,1 µg/L.

Em face dos resultados divulgados, o presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, Armindo Jacinto, apressou-se a vir a público, procurando desacreditar os números apresentados no estudo, afirmando estranhar o resultado do mesmo e pondo em causa os critérios para a escolha da Fonte Insonsa, como local de recolha de amostras. Com efeito, o Município de Idanha-a-Nova, pela mão do seu presidente, ao invés de procurar compreender a origem do problema, tentou ocultá-lo e lançar sobre ele uma cortina de fumo, e por isso desdobrou-se em esforços, numa tentativa de descredibilizar os números apresentados, apesar dos efeitos nocivos do glifosato nos ecossistemas aquáticos e na saúde humana, com a Organização Mundial da Saúde a classificá-lo como potencial carcinógeno.

Recorde-se que a Fonte Insonsa é uma área agrícola inserida no perímetro de rega beneficiado pela barragem Marechal Carmona, onde foram recentemente instalados diversos projectos de cultura super intensiva de amendoal, explorado em modo de produção convencional, não biológico, e que pode recorrer, por isso, ao uso de herbicidas, pesticidas, insecticidas e adubos de síntese em alta concentração.

Poucos dias depois da divulgação do estudo pela Plataforma Transgénicos Fora, viria a ser atribuído ao Centro Municipal de Cultura e Desenvolvimento, instituição que gravita na órbita financeira e de influência do Município de Idanha-a-Nova, o primeiro lugar num concurso de bio regiões europeias.

Tal classificação, foi atribuída antes de serem conhecidos os resultados acima mencionados, pois, se assim não fosse, o que verdadeiramente se estranharia era o facto de que a um município que é campeão na utilização de produtos altamente perigosos para o ambiente e para a vida humana fosse atribuído um prémio daquela natureza.

Fazendo disso tábua rasa, o Município de Idanha-a-Nova procurou, por todos os meios, divulgar a atribuição de tal prémio, em vista de fazer passar para segundo plano a realidade agrícola efectivamente instalada em Idanha-a-Nova, promovendo uma intensiva campanha de marketing. Ao mesmo tempo, Armindo Jacinto viria a utilizar toda a sua influência política, junto do Ministério da Agricultura, em vista de que este se envolvesse directamente numa acção de limpeza de imagem de Idanhha-a-Nova.

Assim, numa acção inusitada e não isenta de polémica e contradição, presidida pelo Secretário de Estado da Agricultura, viria a ser comemorado, a 23 de Setembro, o Dia Europeu da Agricultura Biológica na Herdade do Couto da Várzea, propriedade do Estado concessionada ao Município de Idanha-a-Nova, e que se insere agora no coração de uma das maiores manchas europeias de amendoal super intensivo da Europa.

No dia anterior, o Presidente da Assembleia Municipal, João Dionísio, quadro do Ministério da Agricultura, e apontado como sucessor de Armindo Jacinto, na corrida à autarquia pelo Partido Socialista, deixando escapar uma expressão reveladora do prévio conhecimento da atribuição do prémio europeu, ele próprio fizera um discurso sobre o estado da agricultura no concelho de Idanha-a-Nova, adiantando que existem mais de 80 agricultores biológicos naquele território.

Poucos dias depois, a 28 de Setembro, o presidente do Município de Idanha-a-Nova, a pretexto de uma visita de um grupo de jornalistas regionais e nacionais organizada por uma associação de produtores biológicos (Agrobio), alegadamente “dedicada a observar ‘in loco’ as boas práticas dos produtores desta Bio-Região, premiada pela União Europeia como a melhor do continente”, viria a envolver-se pessoalmente em mais uma acção de cosmética, para ocultar os resultados do estudo europeu sobre glifosato.

E é justamente em resultado desta visita que se pode perceber o porque da insistência de Armindo Jacinto em descredibilizar o estudo europeu sobre o glifosato, e em por em causa a escolha da Fonte Insonsa par recolher as amostras. É que Fonte Insonsa é uma marca explorada pelas empresas da mulher do autarca, para  comercializar carne de porco bio, e queijo de cabra bio, cuja queijaria se  localiza justamente na área onde foram colhidas as amostras com elevadíssimas concentrações do químico.

Indignada com aquilo que diz ser um aproveitamento de meios institucionais para promover as empresas familiares, a oposição na Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, assumida pelo Movimento Para Todos, já veio a público, em comunicado do vereador José Gameiro, manifestar o seu total repúdio pela escolha daquelas duas empresas, num universo de mais de oitenta produtores agrícolas biológicos existentes no concelho. «É caso para perguntar, porque razão a página do Município não divulga todos os outros? Que há muito facciosismo nesta matéria, já se percebeu.», afirmou José Gameiro.

A polémica está instalada!