Castelo Branco assistiu recentemente à inauguração daquilo que já muitos chamam, sem rodeios, de “o novo elefante branco da cidade”: uma fonte multimédia com som, luzes e jactos de água, orçamentada em 740 mil euros. Anunciada com pompa e circunstância, a obra foi concluída à pressa para estar operacional a tempo do festival “Sabores de Perdição”, evento promovido pela autarquia com intenções mais políticas do que culturais ou sociais.
O problema é que, para lá do espetáculo visual ocasional, esta fonte esconde uma realidade preocupante. Foi construída sobre a laje que cobre o parque de estacionamento subterrâneo municipal, estrutura que acumula há anos graves problemas de infiltrações e sinais de instabilidade. Em vez de resolver um problema estrutural sério, a câmara municipal decidiu adicionar-lhe uma carga ainda maior — em todos os sentidos.
A fonte só pode funcionar com todas as suas valências em ocasiões especiais, e mesmo nesses momentos depende da contratação de empresas externas para garantir som e sincronização com o espectáculo visual. A factura cresce, mas o retorno para a cidade permanece duvidoso. Acresce a isto o consumo intensivo de água e electricidade, factores que, num contexto de crescente consciência ambiental e contenção orçamental, deviam ser ponderados com rigor. Nada disto foi verdadeiramente explicado à população.
A falta de transparência, aliada à pressa da execução e à leviandade com que se apresenta a obra como símbolo de progresso, levantam sérias dúvidas sobre as reais motivações desta iniciativa. Será que esta fonte é um projecto estruturante para Castelo Branco, ou apenas um palco visual para alimentar campanhas eleitorais à porta de umas autárquicas marcadas para setembro de 2025?
A sensação de que se governa a cidade com foco na imagem, no curto prazo e no efeito mediático em detrimento de uma estratégia sólida e sustentável, torna-se difícil de ignorar. Obras de fachada não resolvem os problemas de fundo. Pelo contrário, disfarçam-nos. A cidade merece respostas concretas, não distrações vistosas.
O executivo liderado por Leopoldo Rodrigues optou por um investimento de alto custo e baixa utilidade. Optou por ocultar os riscos estruturais e os custos operacionais. Optou por não ouvir a população antes de decidir. Tudo isto num momento em que o município enfrenta desafios reais que exigem seriedade, visão e gestão responsável.
Este artigo não é um ataque pessoal. É uma chamada de atenção. Governar é assumir escolhas, e essas escolhas devem ser escrutinadas. A fonte está feita. Agora, que se faça também o debate. Castelo Branco merece essa clareza. E sobretudo, merece melhor.
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