Abu Mohammed al-Jolani, líder da Organização de Libertação do Levante (OLL), também conhecida como Hayat Tahrir al-Sham (HTS), emergiu como a figura central da recente ofensiva relâmpago na Síria, que resultou na queda do regime de Bashar al-Assad. Através de uma coalizão de facções rebeldes apoiadas pela Turquia, Jolani orquestrou a tomada de Damasco, com uma ação surpreendentemente rápida e sem grande resistência. O impacto desta ofensiva, que levou à fuga de Assad, marca uma viragem histórica no conflito sírio, que dura desde 2011.
Alto e de barba preta, Jolani, que inicialmente usava um turbante, abandonou essa imagem nos últimos anos, optando por um estilo mais sóbrio, com uniforme militar ou fato civil. Desde o seu rompimento com a Al-Qaeda, em 2016, ele tem tentado afastar-se da imagem de radicalismo, buscando se apresentar como uma figura moderada e pragmática. Contudo, analistas e especialistas continuam a vê-lo como um líder de uma organização considerada terrorista.
Thomas Pierret, especialista em islamismo, descreve Jolani como “um radical pragmático”. Durante os anos de maior radicalismo, nos primórdios da guerra, Jolani teve um papel central na luta contra o Estado Islâmico (ISIS), tentando se impor no campo da jihad como uma figura dominante. No entanto, ao longo do tempo, especialmente após sua ruptura com a Al-Qaeda, ele tem procurado moderar suas declarações e afastar-se de certos comportamentos extremistas, embora ainda mantenha uma forte base de apoio entre os grupos jihadistas.
Nascido em 1982 como Ahmed al-Shara, Jolani cresceu em uma família abastada e inicialmente estudou Medicina. A sua transformação para líder jihadista foi gradual, tendo começado após os ataques de 11 de setembro de 2001, quando se envolveu com o jihadismo, participando de reuniões secretas e frequentes discussões em Damasco. Após a invasão do Iraque em 2003, Jolani alistou-se nas forças da Al-Qaeda no Iraque, sob o comando de Abu Musab al-Zarqawi, e acabou preso por cinco anos.
Com o início da revolta contra o regime de Assad, em 2011, Jolani regressou à Síria, onde fundou a Frente al-Nusra, que mais tarde daria origem ao HTS. Em 2013, ele rejeitou a aliança com Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico, optando por manter a aliança com a Al-Qaeda, liderada por Ayman al-Zawahiri. Esse movimento foi, em parte, uma tentativa de distanciar-se da imagem de um grupo radicalizado, procurando ganhar apoio internacional, ao afirmar, em 2015, que não tinha intenções de atacar o Ocidente.
Apesar de seus esforços para moderar a sua imagem, Jolani continua a ser visto como uma figura de ambiguidade. Embora tenha tentado ganhar aceitação entre os sírios e a comunidade internacional, mantendo uma imagem mais responsável e até mesmo apelando à proteção dos cristãos em territórios controlados, há muitos que continuam a vê-lo como um produto de uma tradição religiosa fundamentalista.
Após a ofensiva bem-sucedida, que culminou na queda de Damasco e na fuga de Assad, Jolani tem tentado consolidar a sua posição, apelando à segurança nas regiões libertadas e tentando tranquilizar as populações locais. Especialistas como Aron Lund argumentam que a maior parte de sua estratégia é uma forma inteligente de suavizar a sua imagem, procurando afastar o medo que a sua figura desperta. Embora as suas intenções e sinceridade sejam questionadas, a sua habilidade política e a sua pragmática abordagem estão a torná-lo uma figura central no futuro da Síria.
A queda do regime de Assad representa uma mudança radical na dinâmica da guerra civil síria, um conflito que começou como uma revolta popular em 2011 e que, ao longo dos anos, se transformou numa complexa guerra entre várias facções e potências internacionais. O futuro da Síria permanece incerto, mas, com a ascensão de Jolani e a perda de poder de Assad, novos desenvolvimentos estão prestes a moldar a história recente do país.
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