Chegou à redação do ORegiões um alerta que expressa um descontentamento crescente entre comerciantes da cidade de Castelo Branco. Ao contrário do que se possa pensar, a crítica não se dirige à realização dos eventos — muitos deles de inegável valor cultural, gastronómico e turístico — mas sim à forma como são planeados e executados, particularmente no que respeita à circulação urbana e ao impacto direto no tecido comercial local.
“O problema não é o Festival dos Sabores de Perdição, nem qualquer outro evento promovido pela Câmara Municipal”, começa por referir um dos comerciantes ouvidos pelo ORegiões. “O que está em causa é a falta de planeamento e a ausência de uma estratégia coordenada entre a autarquia, a Proteção Civil, a ACICB (Associação Comercial e Empresarial da Beira Baixa) e os comerciantes afetados”, sublinha.
O exemplo mais recente aponta para o encerramento recorrente da Rua do Saibreiro, uma artéria com atividade comercial significativa. No fim de semana de 13 e 14 de junho, durante a realização do Rali de Castelo Branco e Vila Velha de Ródão, a rua foi encerrada ao trânsito. Apenas uma semana depois, no âmbito do festival “Sabores de Perdição”, voltou a encerrar no dia 21, pelas 19h30, e novamente no dia 22, pelas 18h30.

“Esta reincidência mostra uma total desconsideração pelas lojas e serviços que ficam fora da chamada ‘zona de evento’. Somos constantemente esquecidos, como se o resto da cidade pudesse parar sempre que há uma festa no centro”, lamenta um lojista da zona. “Não se trata de sermos contra os eventos. Pelo contrário, muitos de nós até participamos ou apoiamos. Mas é necessário que se pense na cidade como um todo.”
A falta de comunicação prévia, a ausência de rotas alternativas bem sinalizadas e a inexistência de diálogo prévio com os comerciantes afetados são algumas das críticas mais recorrentes. Os empresários locais apelam a uma maior sensibilidade por parte da Proteção Civil e da autarquia, para que cada iniciativa seja sinónimo de desenvolvimento — e não de frustração para quem luta diariamente pela sobrevivência do seu negócio.
“A cultura e o comércio não devem caminhar em paralelo, mas sim lado a lado. Um evento pode ser uma bênção para a economia local, desde que planeado com cabeça e com respeito por quem também contribui diariamente para o dinamismo desta cidade”, conclui um dos comerciantes contactados.
Fica o apelo à Câmara Municipal de Castelo Branco: que continue a dinamizar a cidade, mas com um planeamento mais inclusivo, justo e transparente. Porque eventos memoráveis também se constroem com respeito pelos que não têm palco, mas sustentam a plateia.