A XXIV Feira Raiana, que se realiza em Idanha-a-Nova entre 26 de julho e 4 de agosto, tem sido promovida como um dos maiores eventos culturais da região. Com o tema “Uma Saúde, Um Planeta”, a feira promete atrair 100 mil pessoas, oferecendo um programa diversificado que inclui mais de 67 concertos, apresentações gastronómicas de 50 chefes, um mercado de produtores locais e biológicos, artesanato, folclore, fado, flamenco e muito mais. No entanto, por detrás deste brilho cultural, esconde-se uma gestão municipal marcada por decisões questionáveis e uma situação financeira alarmante
Armindo Jacinto é Presidente de uma Câmara Municipal que enfrenta uma condenação do tribunal devido à sua recusa em pagar uma indemnização de cerca de 333mil euros à artista Cristina Rodrigues, o que já lhe valeu a penhora de saldos bancários. Os juros acumulados no âmbito deste processo elevam o montante devido a quase meio milhão de euros, fardo pesado para um município cujas contas de tesouraria deixam muito a desejar. Em resposta a esta situação, o presidente decidiu implementar bilhetes para o certame a partir de apenas 1 euro, numa tentativa de garantir a participação popular. Esta medida, contudo, gerou controvérsia e descontentamento, sobretudo entre os habitantes que vivem fora do concelho e que costumavam planear as suas férias para coincidir com a Feira Raiana.
A escolha de realizar um evento tão grandioso em tempos de dificuldades financeiras levanta várias questões. Será que a sustentabilidade e a celebração cultural justificam o desrespeito pelas decisões judiciais e o consequente agravamento das finanças municipais? A Feira Raiana, em vez de ser um símbolo de união e celebração, arrisca-se a ser vista como uma cortina de fumo, destinada a desviar a atenção dos reais problemas que afligem Idanha-a-Nova.
Além disso, o tema “Uma Saúde, Um Planeta”, embora relevante e atual, parece irónico quando se considera a forma como a câmara municipal tem gerido os recursos e as finanças públicas. A sustentabilidade não se aplica apenas ao meio ambiente e à alimentação; também deveria ser uma prioridade na administração pública e na gestão responsável dos fundos municipais.
A apresentação oficial da feira, realizada no palácio Y Torre de Carvajal, em Cáceres, contou com a presença de figuras proeminentes, como o Presidente da Deputação de Cáceres e o Presidente da Câmara Municipal de Moraleja. No entanto, a pompa e circunstância deste evento contrastam fortemente com a realidade financeira de Idanha-a-Nova, deixando um amargo sentimento entre muitos dos seus residentes e antigos habitantes que, revoltados, manifestam o seu descontentamento nas redes sociais.
Por fim, a XXIV Feira Raiana deveria ser um momento de celebração e união para Idanha-a-Nova e para a região raiana. No entanto, a insistência de Armindo Jacinto em ignorar as suas obrigações financeiras judiciais e a escolha de realizar um evento desta magnitude em tempos de crise financeira revelam uma liderança mais preocupada com a imagem pública do que com a verdadeira sustentabilidade e bem-estar da sua comunidade. Espera-se que os visitantes e participantes não se deixem enganar pelo brilho efémero dos concertos e das festividades e que reflitam sobre o verdadeiro custo deste evento para a população de Idanha-a-Nova.