Na política autárquica portuguesa, a geminação tem sido uma estratégia de “amizade internacional” que, em vez de unir povos e culturas de forma prática e eficaz, parece mais um disfarce para esconder a falta de ação. Quando observamos o caso dos presidentes das câmaras de Castelo Branco e Idanha-a-Nova, Leopoldo Rodrigues e Armindo Jacinto, somos levados a concluir que, em vez de estarem a construir pontes, estão a erguer paredes de promessas vazias e viagens que nunca chegam a ser traduzidas em benefícios concretos para as populações que dizem servir.
Comecemos por Leopoldo Rodrigues, o mestre do marketing político disfarçado de dinamismo. Este presidente de Castelo Branco tem feito da geminação internacional a sua bandeira. Com orgulho, ele e a sua equipa celebram parcerias com cidades em países distantes como Brasil, China, Angola e Polónia, como se isso fosse um atestado de competência. São mais acordos de geminação do que qualquer outra coisa, pois se olharmos para a cidade, as ruas continuam a clamar por soluções reais. A sua agenda de viagens internacionais parece mais uma desculpa para se ausentar de responsabilidades do que um verdadeiro impulso para o desenvolvimento local. Mais importante do que a cidade ter sido recentemente geminada com João Pessoa ou Petrolina, é perceber que não há obras significativas a beneficiar os cidadãos. O único desenvolvimento palpável é a retórica de parcerias, um espetáculo diplomático que ninguém vê a traduzir-se em benefícios concretos.
E, ao lado de Rodrigues, temos Armindo Jacinto, o presidente de Idanha-a-Nova, que segue o mesmo caminho: a geminação como uma forma de maquilhar a sua falta de ação política. Especialista em promessas que desaparecem mais rápido do que a névoa da Beira Baixa, Jacinto tem feito da “cultura” e do “património” as suas bandeiras de marketing político. À semelhança do seu homólogo de Castelo Branco, Armindo também se tem especializado em discursos sobre intercâmbios culturais com cidades como Vert-le-Grand, em França, mas a pergunta é sempre a mesma: quantos novos postos de trabalho ou investimentos resultaram desses acordos? Onde estão os resultados tangíveis? Em vez de criar um modelo económico sustentável para a região, o presidente de Idanha-a-Nova prefere a diplomacia de passeios e degustações gastronómicas, como se isso fosse o suficiente para enganar os cidadãos que, no final, continuam a viver na mesma inércia de sempre.
No entanto, o mais intrigante neste jogo de geminações é o facto de, mesmo com mais de 60 anos de história de amizade entre Idanha-a-Nova e Vert-le-Grand, pouco ou nada se tenha alterado na realidade local. A geminação, que deveria ser uma ferramenta para fortalecer laços e gerar desenvolvimento, transformou-se numa cortina de fumo que oculta a verdadeira falta de eficácia na gestão autárquica. Os empresários franceses podem até estar a degustar os queijos e vinhos da Beira Baixa, mas quantos empregos reais surgiram dessa troca de sabores? Quantos investimentos concretos para os jovens da região resultaram dessas visitas?
Leopoldo Rodrigues e Armindo Jacinto são, assim, os verdadeiros “viajantes do tempo” da política autárquica e os verdadeiros vendilhões de ilusões. Não viajam no sentido de trazer soluções para o futuro das suas cidades, mas sim no sentido de ficarem eternamente presos num presente que não avança. Eles promovem viagens e parcerias internacionais, mas os seus municípios continuam a languidecer no marasmo. Se o seu maior feito é movimentar-se entre discursos vazios, viagens e acordos internacionais, a verdade é que as suas cidades continuam a ser estagnadas. Eles “viajam”, sim, mas para onde nunca chegam.
A sua gestão transformou-se num espetáculo de palavras e promessas que nunca se concretizam. Mais uma vez, a política do Partido Socialista local, com estes dois protagonistas, mostra-se uma farsa, uma sucessão de ilusões que tentam vender aos cidadãos como se fossem verdadeiras vitórias. Rodrigues, prestes a enfrentar a incerteza das eleições autárquicas de 2025, e Jacinto, a terminar o seu terceiro mandato marcado por incoerências e processos em tribunal, são os maiores representantes desta geminação de incompetência. São mestres na arte de viajar sem nunca chegar a lugar algum, na política da ilusão, e no fim, deixam as suas populações à espera de um futuro que, como sempre, nunca chega.
Geminaram, sim. Mas geminaram na incompetência, no marketing político e nas promessas vazias, que se desvanecem antes de terem tempo de gerar qualquer impacto real nas vidas das pessoas que juraram servir.