Enquanto Cáceres assume, Plasencia avança e Portalegre investe, Castelo Branco continua na fila da frente… das fotografias
Na manhã de 1 de Julho, o presidente da Câmara de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, partilhou uma imagem emblemática sobre a ponte de Alcântara, que liga Portugal a Espanha. O enquadramento era bonito, o céu azul e a legenda poética:
“A alargar horizontes.”
Ora, de tanto repetir a frase, o autarca albicastrense talvez espere que os horizontes se alarguem por inércia ou fé. Mas se há coisa que o concelho continua sem ver… é obra.
O motivo da travessia? Uma reunião do TRIURBIR – Triângulo Urbano Ibérico Raiano, que une Castelo Branco, Portalegre, Cáceres e Plasencia numa espécie de condomínio transfronteiriço. Só que enquanto os vizinhos espanhóis avançam com projectos, lideranças e resultados, Castelo Branco continua a ser o inquilino que promete pintar as paredes… há quatro anos.
Mais uma reunião. Mais um anúncio. Mais um retrato.
Nesta sessão — decorreu em Cáceres, que agora assume a presidência da rede — falou-se de cultura, turismo, economia e espiritualidade. A cidade espanhola mostrou iniciativa, apresentou calendários, projectos e um plano de ação.

Já Castelo Branco fez-se representar por Leopoldo Rodrigues, a vereadora Patrícia Coelho e Susana Farinha, chefe da Divisão de Desenvolvimento Económico — um nome tão longo quanto os prazos para se ver algum “desenvolvimento”.

350 mil euros para actividades “conjuntas”
Aprovou-se um orçamento de 350 mil euros para “acções conjuntas”. Segundo os comunicados, estas abrangerão gastronomia, turismo, desporto, religião e natureza. Não se sabe ainda se incluirão também ressurreições de promessas antigas.
Para os próximos dois anos estão previstos dois eventos empresariais: um em Castelo Branco (outono de 2025) e outro em Cáceres (primavera de 2026). Vamos torcer para que, até lá, ainda existam empresários com sede na Beira dispostos a participar. E que não seja mais um evento com stands vazios e discursos em eco.
Espiritualidade ao serviço do turismo
Foi também apresentada uma candidatura europeia no valor de 3 milhões de euros para criar a Rede Cultural de Municípios Espirituais Transfronteiriços (CULMET). Sim, leu bem. Uma rede cultural e espiritual — porque, aparentemente, a solução para a estagnação económica é um centro de peregrinos e uma ermida restaurada.

Em Castelo Branco, está prevista a construção de um centro de acolhimento de peregrinos. Em Portalegre, a reabilitação da Quinta da Saúde. Em Plasencia, a recuperação do cemitério judaico como atracção turística. E em Cáceres, a renovação da Ermida de São Vito.
Se há espiritualidade nisto tudo, talvez esteja na fé com que os contribuintes continuam a acreditar que estas iniciativas vão mesmo concretizar-se.

O eterno IC31: prometer é fácil. Fazer é outro caminho.
Durante a reunião, reforçou-se a “importância estratégica” da construção do IC31 em perfil de autoestrada. Uma ligação entre a Extremadura e Portugal que já faz parte do folclore local — mencionada em todas as legislaturas, com a mesma regularidade com que se acendem velas a Santo António.
Continuar a insistir junto do Governo é o compromisso assumido. Falta saber se insistem com convicção… ou apenas com mais um comunicado de imprensa.

Cultura com sotaque espanhol?
Para terminar o encontro com solenidade, os membros do TRIURBIR assinaram um manifesto de apoio à candidatura de Cáceres a Capital Europeia da Cultura 2031. Um gesto diplomático que merece elogio. Mas também um símbolo claro: a cultura avança em Espanha, enquanto do lado albicastrense há mais fé na retórica do que nos resultados.
Para concluir: Atravessou-se a ponte. Mas ficou-se do lado de cá.
Leopoldo Rodrigues mostrou novamente o que melhor sabe fazer: aparecer em reuniões, prometer no futuro e anunciar sem executar. O horizonte alarga-se… mas só no Instagram. Em termos concretos, Castelo Branco continua onde estava: à espera da próxima ponte, da próxima candidatura, da próxima desculpa.
O TRIURBIR pode ser uma boa ideia. Mas boas ideias sem execução são como fotografias em pontes: bonitas, mas não levam a lado nenhum.

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