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Montenegro diz que “não fez nem mais nem menos do que faz qualquer português”

Luís Montenegro aproveitou o Dia Internacional da Mulher para falar da crise política que enfrenta no seio do seu Governo. Num almoço do PSD a assinalar a data, realizado na Maia, distrito do Porto, o primeiro-ministro fez um longo discurso em que, acima de tudo, reafirma manter a decisão de se submeter a uma moção de confiança no Parlamento e de avançar, assim, para eleições antecipadas. O que fez é o que qualquer português faz, argumentou. Mas Pedro Nuno acusa-o de querer “atirar o país para a lama”

O primeiro-ministro não recua na moção de confiança. Quem o garante é o próprio Luís Montenegro que, este sábado, garantiu que não tem alternativa. Num discurso durante um almoço de celebração do Dia da Mulher, na Maia, Montenegro assume que não lhe parece haver alternativa a eleições antecipadas, como forma de “evitar que Portugal seja um país envolto em lama”.

“A minha responsabilidade é evitar que as instituições portuguesas sejam corroídas pela irresponsabilidade de quem quer manter o espaço público permanentemente enlameado”, assegura, admitindo não ver alternativa a novas eleições.

“A minha responsabilidade – e parece que não há alternativa a isso, é devolver aos portugueses a capacidade que só eles têm de escolher o que querem para Portugal”, reiterou.

“Nunca foi o meu desejo, nunca foi e tenho a noção que os portugueses nem sequer percebem porque é que isso vai acontecer, mas eu tenho a obrigação, pela responsabilidade que me está confiada, de saber antecipar os problemas”, continuou, rejeitando a hipótese de que o país viva “um ano ou um ano e meio de instabilidade quando pode resolver a instabilidade em dois meses”.

Criticando o “oportunismo político”, diz-se escrutinado como ninguém. “O que não vejo ninguém dizer é que este país está hoje melhor do que estava há um ano”, assegura, avançando estar “pronto” para voltar a ser avaliado pelos portugueses. “Como eu não vejo ninguém dizer isso, eu vou dizer ao país e o país vai dizer se é isso que quer ou se é outra coisa que quer”, admite, em jeito de pré-campanha e com gritos de “PSD” a ecoarem pela sala.

“Eu respondo pelo trabalho que fiz e eu respondo pelo trabalho que estou a fazer”, remata, voltando a repetir que, na terça-feira, o Parlamento vai decidir se o Governo tem condições para governar e, se não tiver, “os portugueses serão chamados a intervir”.

Durante o discurso, o primeiro-ministro voltou a defender-se do caso Spinumviva, que originou duas moções de censura e uma de confiança, garantindo que assume “as responsabilidades” mas é um “cidadão igual aos outros”.

“Imputam ao primeiro-ministro alguma ilegalidade? Parece que não. Imputam ao primeiro-ministro algum comportamento ilícito? Também não. Parece que o primeiro-ministro tem a responsabilidade de ter trabalhado”, criticou.

“Não me parece que fique mal ao primeiro-ministro ter trabalho, que possa dizer em que é que trabalhou e que tenha decidido que uma parte do trabalho que lançou possa ser legado para membros da sua família. Acho que o primeiro-ministro não fez nem mais nem menos do que faz qualquer português”, assegurou o líder do PSD, que fala em “notícias que surgem enviesadas, com erros, com incorreções, muitas vezes até com falsidades”. “Em cima disso muito se apressam a replicar notícias, a fazer delas verdades absolutas”, lamenta, falando em “oportunismo político”.

Pronto para responder ao povo

Repetindo alguns dos argumentos que tem utilizado nas últimas semanas, considera “absurdo” que haja quem acredite que falhou na exclusividade pedida do cargo que exerce no Governo.

“Alguém imagina que o primeiro-ministro possa ter estado no Governo e a fazer outra coisa ao mesmo tempo? Como é que é possível alguém dizer, sem fundamento, que o primeiro-ministro esteve a ser avençado por quem quer que seja?”, questiona, garantindo estar “pronto” para responder aos portugueses.

“Estou pronto. Estou pronto para ir terra a terra, português a português, responder por tudo aquilo que tenho de responder. Estou pronto para explicar que jamais estive no Governo que não em exclusividade”, diz, lamentando que o escrutínio a que tem sido sujeito se foque nele e não no que o Governo está a fazer pelo país.

“Não me recordo de alguém que tenha sido escrutinado ao nível que eu já fui”, assegura, queixando-se de ser acusado de não responder à oposição.

“Tenho feito as minhas intervenções e tenho estado disponível para responder às questões que me são colocadas, dependendo dos respetivos contextos. Do ponto de vista político, foi comigo que regressaram os debates quinzenais”, reforçou, garantindo achar “insólito” que o acusem de falta de respostas, uma vez que, só nos últimos quinze dias, compareceu “no parlamento para responder a duas moções de censura”.

“Ouvir, como tenho ouvido, que o primeiro-ministro não responde aos partidos políticos é assim uma coisa estranha”.

Diz o mesmo sobre os jornalistas, garantindo que é “perfeitamente normal” optar, em “muitas ocasiões”, por “remeter posições para as intervenções políticas” que faz, em vez de responder diretamente. “Tenho muito respeito pelos jornalistas e tenho interagido em muitas ocasiões, mas em muitas outras também tenho optado por remeter as minhas posições para as intervenções políticas que faço e isso é perfeitamente normal”, assegura, numa intervenção onde se recusou a falar aos jornalistas antes e depois do evento.

Montenegro quer atirar o país para a lama, acusa Pedro Nuno Santos

À margem da apresentação da candidatura de Alexandra Leitão à Câmara de Lisboa, no Pavilhão Carlos Lopes, o líder socialista respondeu ao discurso realizado horas antes por Luís Montenegro, salientando que o primeiro-ministro foge ao apuramento da verdade “como o diabo foge da cruz” e quer “atirar o país para a lama”, acusou este sábado o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.

“O primeiro-ministro disse que queria evitar que Portugal estivesse na lama. Ora, não deixa de ser caricato porque quem criou a lama foi Luís Montenegro. Luís Montenegro está na lama, arrastou o PSD e o Governo para a lama e agora quer atirar o país para a lama”, contra-ataca Pedro Nuno Santos, em declarações aos jornalistas.

O secretário-geral do PS considera que o primeiro-ministro “só se pode queixar de si próprio”, porque “criou o problema e a crise política” com a falta de esclarecimentos sobre os negócios da empresa familiar Spinumviva.

“Tem que se deixar de vitimizar, assumir a responsabilidades, porque aquilo que nós precisamos é de um primeiro-ministro com coragem, com frontalidade, com transparência e não de alguém que se esconda atrás dos outros, responsabiliza toda a gente e revela ainda não ter percebido que nós infelizmente estamos nesta situação por causa dele e de mais ninguém”, sublinha.

O PS tenciona propor uma comissão parlamentar de inquérito aos negócios de Luís Montenegro. Na resposta, o Governo anunciou a apresentação de uma moção de confiança, que está marcada para terça-feira. Os socialistas já disseram que vão votar contra.

Neste cenário, Pedro Nuno Santos considera que “Luís Montenegro foge do apuramento da verdade como o diabo foge da cruz” e “tudo vale para evitar a comissão parlamentar de inquérito e um esclarecimento”.

“Já não basta dar respostas, é preciso conseguir convencer-nos a todos de que não tivemos um primeiro-ministro avençado durante quase um ano”, atirou o líder socialista.

Após estas declarações aos jornalistas, Pedro Nuno Santos subiu ao palco para discursar na apresentação da candidatura de Alexandra Leitão à Câmara de Lisboa e voltaram as críticas a Luís Montenegro.

O secretário-geral do PS acusou o Governo de ser incompetente, sem visão e de governar para uma minoria”, avisando que “nunca poderá ter a confiança” dos socialistas.

Pedro Nuno Santos centrou as suas críticas nas áreas da saúde e da habitação, apenas aludindo à situação de crise política.

“Eu não precisava de falar dos últimos 15 dias para ser claro para todos nós que um governo sem visão, um governo incompetente e um governo que governa para a minoria nunca, nunca terá a confiança do Partido Socialista”, disse.

Pedro Nuno Santos defendeu que o PS “é um partido sério que contribuiu no último ano para a estabilidade como mais ninguém em Portugal”.

“Temos sentido de responsabilidade, temos sentido de Estado. Mas nós queremos um país com transparência, onde os políticos assumem o que fazem e são transparentes perante o seu povo. Nós não somos causadores de instabilidade, não fomos nós que causamos instabilidade”, defendeu.

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