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Nasce uma nova esperança para a esquerda nos EUA?

“Os filhos da globalização”, jovens que vindos das ex-colónias e do chamado terceiro mundo, invadem a Europa e os EUA, contribuindo para um notório aumento da imigração. São cidadãos nacionais dos países onde decidiram constituir a sua vida, com plenos direitos e obrigações. De início apenas reivindicavam os seus direitos, manifestando-se nas ruas, mas agora intensificam a sua atividade política institucional, tentando aceder aos poderes instituídos. Vale a pena acompanhar a evolução destes políticos.

As políticas de Trump aumentaram a desigualdade nos EUA, reduziram o acesso a serviços básicos e enfraqueceram a proteção social, afetando diretamente os mais pobres, trabalhadores precarizados, imigrantes, negros, latinos e mulheres, além de ridicularizarem as questões de género.

O Partido Democrático está enfraquecido e parece ainda não ter encontrado o rumo certo para combater as ideias trumpistas. Sublinhe-se que, em muitos aspetos, a alternância entre democratas e republicanos pouco tem trazido de positivo para as classes mais desfavorecidas: desde há muito que a saúde e a educação são caríssimas, a habitação continua um problema gravíssimo, com muitos a viverem em roulotes, as violações ao Direito Internacional são constantes (Vietnam, Iraque, etc).

Lembremos que nos EUA os partidos pequenos enfrentam grande dificuldade para ter representação política efetiva, devido ao sistema eleitoral maioritário e bipartidário, o que dificulta o crescimento de outros partidos.

Há partidos que se assumem como de esquerda, como é o caso do Partido Comunista dos Estados Unidos da América, com ideologia marxista-leninista, que na primeira metade do século XX foi o maior e mais influente partido comunista do país, desempenhando um papel essencial no movimento trabalhista do país. Teve importante participação na organização dos sindicatos industriais e defendeu os direitos civis dos afro-americanos durante, tendo sobrevivido às perseguições políticas da época do macartismo e a várias tentativas de supressão por parte do governo dos Estados Unidos, na primeira fase de sua existência.

Com a dissolução da União Soviética em 1991, o partido passou a viver no ostracismo, sem conseguir eleger vereadores em qualquer cidade americana. Com a chegada do século XXI e o partido começa a ter uma nova onda de crescimento, ainda que pequena, e em 2019, o partido conseguiu um lugar no Conselho da cidade de Ashland, no Wisconsin.

Há outros partidos de esquerda, como o Partido dos Panteras Negras, mas que foram dissolvidos, embora vários antigos aderentes estejam ligados a movimentos sociais, como Black Lives Matter.

Os EUA é um país com uma estrutura social que favorece a direita e o conservadorismo, com algumas bolsas progressistas nos centros urbanos. Zohran Kwame Mamdani é uma das figuras emergentes mais promissoras da esquerda nos EUA. De origem multicultural — filho de uma diretora de cinema indiana-americana (Mira Nair) e de um académico ugandês-indiano (Mahmood Mamdani) —, foi criado na África do Sul e mudou-se para Nova Iorque aos 7 anos. Ao derrotar Andrew Cuomo (quando?), candidato democrata favorito à vitória nas primárias para o cargo de mayor (equivalente a presidente da câmara) de Nova Iorque, causou enorme desconforto nas elites políticas e económicas democráticas e republicanas, assustadas com a popularidade de uma campanha que tinha como principais medidas o congelamento das rendas e a criação de uma rede de supermercados públicos.

Os EUA continuam a ser um país dominado pelo racismo, de que são exemplo algumas das críticas feitas a Mamdani: Andy Ogles, republicano, membro da Câmara dos Representantes dos EUA pelo Tennessee, exigiu a «desnaturalização» e «deportação» de Mamdani, que se tornou um cidadão norte-americano em 2018, depois de se ter mudado com os pais para os EUA em 1998.

Brandon Gill, republicano eleito pelo Texas, mandou Mamdani «voltar para o terceiro mundo», em resposta a um vídeo em que o agora candidato democrático aparece a comer arroz com as mãos (um aparente sinal de inferioridade, que não se aplica a comer pizzas e hambúrgueres com as mãos, uma verdadeira tradição americana).

Donald Trump não aderiu imediatamente à campanha de ataques islamofóbicos da sua comitiva (que acusam Mamdani de ser «jihadista» e «apoiante de terroristas»), escolhendo a posição mais contida de ameaçar cortar qualquer apoio estatal à cidade de Nova Iorque e apelidar o agora candidato de ser um perigoso comunista. «Estou a lutar pelos trabalhadores que ele prometeu representar na sua campanha. Trabalhadores esses que, desde então, ele traiu», afirmou Mamdani. . Por que é visto como “a esperança da esquerda consequente”?

Bernie Sanders é um independente de esquerda próximo dos democratas, com quem Mamdani se identifica, influenciado pela sua campanha em 2016. Embora candidato pelo Partido Democrático, representa a nova esquerda urbana, mas não “preso” às questões woke. Defende medidas ambiciosas focadas na justiça económica e social, designadamente: congelamento das rendas para inquilinos; habitação social pública; transportes gratuitos (autocarros) e melhorias no metro; creches universais gratuitas; aumento do salário mínimo; aumento dos impostos a corporações e super-ricos para financiar serviços públicos.

Jovem, globalizado, enraizado nos movimentos comunitários e com propostas ambiciosas, a sua vitória nas primárias é sinal de que há espaço para políticas progressistas radicais, mesmo em locais tradicionalmente centristas, como NYC. Se vencer em novembro, poderá tornar-se o primeiro prefeito muçulmano e sul-asiático de Nova Iorque, redefinindo a política urbana americana. Entretanto, permanece o grande teste de transformar boas intenções em governação eficaz.

Licenciado em Africana Studies pela Bowdoin College, Rapper amador sob o alterego “Young Cardamom” e bailarino no filme Queen of Katwe (2016), trabalhou como conselheiro de habitação, ajudando pessoas a evitarem execuções hipotecárias. Ganhou atenção ao incluir referências Bollywood e mensagens em hindi em anúncios de campanha, mobilizando comunidades de imigrantes e jovens. Lembre-se que também no Reino Unido a escolha vai ser entre «o socialismo ou a barbárie». A deputada Zarah Sultana abandonou o Labour e anunciou a formação de um novo partido de esquerda, ao lado de Jeremy Corbyn. Em França, atenção à ativista franco-palestiniana Rima Hassan, de 32 anos, sétima na lista da coligação de esquerda França Insubmissa.

Vale mesmo a pena acompanhar a evolução destes políticos, bem representativos
de sociedades onde a supremacia e os costumes “ocidentais” abanam, fruto da
Nova Ordem Mundial

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Joaquim Correia
Joaquim Correia
“É com prazer que passo a colaborar no jornal Regiões, até porque percebo que o conceito de “regiões” tem aqui um sentido abrangente e não meramente nacional, incluÍndo o resto do mundo. Será nessa perspectiva que tentarei contar algumas histórias.” Estudou em Portugal e Angola, onde também prestou Serviço Militar. Viveu 11 anos em Macau, ponto de partida para conhecer o Oriente. Licenciatura em Direito, tendo praticado advocacia Pós-Graduação em Ciências Documentais, tendo lecionado na Universidade de Macau. É autor de diversos trabalhos ligados à investigação, particularmente no campo musical

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