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Política: O Teatro das Máscaras e o Reino das Promessas

A política, essa arte refinada de manipular os ventos da opinião pública e modelar o futuro da nação, surge das vastas da Grécia Antiga, onde as Pólis, essas cidades-estado, planejaram que o destino de seus cidadãos seria melhor conduzido por certezas e aristocratas . Mas, como é sabido, a sabedoria nem sempre se reflete na prática, especialmente quando o palco da política se torna um campo de batalha onde os mais espertos, e não necessariamente os mais sábios, me levam.

De Aristóteles a Maquiavel, a política foi desde cedo descrita como a arte de “conquistar, manter e exercer o poder”. E cá estamos, no século XXI, onde essa arte se transformou em um espetáculo grandioso de manipulação e cálculo, onde as promessas de mudança se desvanecem tão rápido quanto a última crise que mobilizou as massas. A política moderna não é apenas o conjunto de decisões sobre o governo de um Estado, mas um jogo de xadrez modificado, onde os peões – ou melhor, os cidadãos – são movidos com a leveza de uma pena em meio a um vento forte de promessas eleitorais.

No início, o conceito de política parecia ser algo elevado, uma ciência moral normativa que pretendia trazer o bem comum. Ah, como nos iludimos! A política, sob a ótica de compensadores como Hobbes e Russel, era uma busca pela obtenção de “qualquer vantagem”. E o que é uma vantagem, senão o que é bom para quem não tem poder? Como bem observa Maquiavel, a política não se importa com fins éticos ou morais, já que o poder seja alcançado, mantido e exercido. Nesse sentido, a política torna-se uma engrenagem onde o que é moral e ético está tão distante.

As ideias e os ideais da política, que um dia buscavam a igualdade, o bem-estar e a liberdade, são hoje como um manual de marketing político. Já não se faz política para melhor.

A teoria de Hobbes sobre a transição do estado de natureza para o estado civil, onde o poder é delegado a uma única entidade, encontra ecos em nossa realidade atual. O que mudou? Os cidadãos continuam a delegar o poder a esses representantes que, ao contrário de procurar o bem comum, procuram perpetuar-se no cargo e acumular mais poder. O sistema continua a ser viciado, e nós, meros espectadores, assistimos à repetição das mesmas falácias e promessas de sempre. Como diz o ditado, “só muda a folha, a árvore é a mesma”.

E em que ponto se encontra o conceito de ética política? A ética da política, que deveria ser a base da ação política, já foi corrompida pela lógica do poder. O político que deveria ser um guardião do bem comum, tem, na prática, sido mais um comerciante que chama de futuro, vendendo sonhos impossíveis a preços altíssimos. A ética da responsabilidade? Ah, essa é uma invenção para tempos de campanha, como os sorrisos impostos e os apertos de mão. Na prática, os dilemas morais são facilmente contornados com a mágica da conveniência política.

A política, como um campo de batalha de interesses, tem sido também um campo fértil para a vigilância de novas formas de poder. O poder econômico, ideológico e, claro, o poder político, com seu monopólio da força física, tornam-se as armas mais afiadas de um jogo onde os fins justificam os meios. Onde Aristóteles falava de um governo que deveria ser em benefício do bem comum, a política contemporânea exige, por sua vez, que o governo seja em benefício da permanência no poder. Nada mais, nada menos.

A crise política, por mais que nos pareça um episódio isolado, é na verdade uma consequência lógica de um sistema que funciona como um relógio, mas os ponteiros estão sempre atrasados ​​em relação às necessidades reais da população. E se a política é uma ciência moral normativa, como nos disseram os antigos, não podemos deixar de rir, ou melhor, chorar diante da realidade: a política é, muitas vezes enganadora.

Enfim, no teatro político em que somos todos figurantes, a única certeza que podemos ter é que a política, ao invés de servir aos cidadãos, serve aos interesses de quem domina. E como diria Maquiavel, “o príncipe deve ser como o leão e como a raposa”, ou seja, forte na aparência e astuto nos bastidores. E nós, cidadãos, continuamos aplaudindo as mesmas encenações, esperando que um dia, quem sabe, o espetáculo realmente mude, mas, na verdade, não falou de uma placaia entusiasta que não se cansa de repetir o erro. Acreditamos que, na próxima temporada, o enredo será diferente, que o protagonista, finalmente, fará uma reviravolta, que a trama será menos previsível e mais justa. Mas, no fundo, sabemos que os atores, com os seus discursos ensaiados e as suas promessas de mudança, não são mais do que fantoches manipulados por uma mão invisível que governa os bastidores. E nós? Continuamos aplaudindo, com a esperança cansada de que, em algum momento, uma peça se transformará. O problema é que, enquanto continuamos a olhar para o palco, ninguém pensa em sair da “cepa torta”.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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