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Castelo Branco

Por serras e montes

A montanha acaba sempre por fazer seus os apelos nossos. Antes de subir para o alto, o designado Caramulinho – que raio de diminutivo para uma montanha, ainda se fosse Caramulão, havia passagem por Campo de Besteiros.

A montanha de tão grande e dispersa, não proporcionava encontros amiúde, esses ficavam reservados para os dias de feira, ou para as solarengas tardes de domingo, quando se comprava gado, se vendia o tractor que já não prestava, ou que se adjudicava a força do trabalho. É que no Caramulo, para além do verde da floresta, havia toda uma força de trabalho agrícola.

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Laranjas, vinhedos, cerejas e claro os sacrossantos aviários. Criados no início da década, quando o dinheiro florescia e não se sabia o que lhe fazer. E foram os aviários que trouxeram a abundância e o emprego, uma nova vida para aquelas serras, que outrora haviam servido de cura a muitas doenças e que agora estão despencadas.

Subi à serra, e vila, do Caramulo pela primeira vez em 1990, para passar um fim-de-semana escolar no Centro Juvenil das Pedras Soltas.

A estância foi fundada pelos Irmãos Lacerda, a primeira terra do país a ter central telefónica. Muitos sanatórios tornaram-na apetecível para a cura de doenças.

Sete anos depois, já a subia no UM do Estado para ir mudar as baterias ao repetidor que o Serviço Nacional de Bombeiros tinha na serra.

Em 1999 filmei lá um documentário da Festa das Cruzes, para o curso do Politécnico.

Por lá andei estes anos todos, numa serra que tem das melhores laranjas do país, é ir por Campo de Besteiros. Mas não tem uma fábrica de sumo.

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No topo da montanha há um museu, com automóveis e pintura de nomeada. Picasso, Dali e o nosso Columbano.

Em 2013 passei lá 15 dias, em trabalho sem uma folga, das 6 às 2 horas da madrugada. Dias a fio a reportar a tragédia dos fogos.

Os sanatórios remoem-se de abandono, os eucaliptos substituíram as árvores ardidas e por mais que a suba, a alma dói-se-me de a ter visto verde na granja do Aniceto, na Ladeira, onde parava sempre para beber o ‘morangueiro’.

Em Souto Bom comi o melhor cabrito do mundo, tirando o da Manhosa, mas esse é grelhado.

Tem dias que me apetece rilhar queijo no Cabo da Vila e comer uma sopa seca, mas a profunda tristeza de um eucaliptal contínuo, de Mortazel à Castanheira, o abandono de uma estância telúrica, porém cosmopolita e o esquecimento a que votam a serra, impede-me a escalada.

Sucedem-se os dias às noites, as luas aos sóis e ninguém liga às serras.

Gralheira, S. Macário, Açor, ‘pi acima’, tudo vazado ao desprezo.

Uma consumição que não liberta maldades, prefere trajes tristes, escuras noites e luares geadeiros.

HOMEM DAS SERRAS
Foto DR

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Amadeu Araujo
Amadeu Araujo
Jornalista da imprensa escrita, web e rádio.

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