Tenho acompanhado, à distância e em silêncio, os desenvolvimentos dos sistemáticos cortes no abastecimento de água da freguesia de Ladoeiro, concelho de Idanha-a-Nova. E tenho-o feito à distância e em silêncio, mesmo sendo certo que sou um dos muitos interessados em que esta questão se resolva o mais prontamente possível, uma vez que foi nesta aldeia que estabeleci, desde há muito, a minha residência permanente. E por isso sou também um daqueles que sofre os incómodos impostos por esta indesejável situação
Certamente, todos sentimos já, nas nossas casas, num momento determinado, o desconforto causado por um corte pontual do abastecimento de água, e compreendemos que, por vezes, acidentes acontecem e é necessário consertar uma conduta, um tubo, um ramal, sendo inevitável, durante a intervenção, interromper o fluxo de água. Depois, a avaria é consertada, e retomamos a nossa vida com normalidade.
Não é este o cenário vivido nos últimos tempos na minha aldeia, onde constantemente o fornecimento de água é interrompido, quantas vezes sem aviso prévio, em virtude da completa obsolescência do sistema de distribuição.
Ontem, sábado, em plano Verão, depois de um dia tórrido, em que os termómetros ultrapassaram os 40º, registou-se mais um corte, pelas 21.00 h, e sem aviso prévio. Ao mesmo tempo, na vila de Idanha-a-Nova, fanfarras, luzes e aparelhagens sonoras faziam sentir a sua estridente presença em mais um dia de festança, na Feira Raiana.
Pelo que pude ler em notícias de jornal e em artigos de opinião, vindos a público recentemente, a propósito desta questão, há muito que o Município de Idanha-a-Nova tem perfeito conhecimento da ruptura do sistema de abastecimento que serve o Ladoeiro. E prova disso é o facto de que, no anterior mandato, igualmente liderado pelo actual presidente, o executivo foi autorizado a contrair um empréstimo de um valor aproximado a um milhão e oitocentos mil euros para o substituir. Porém, quatro anos se passaram e nada foi feito. Tudo continua como dantes!
A ligeireza com que a questão é tratada, sendo certo que afecta indiscriminadamente todos os ladoeirenses, diz muito da maneira de estar na vida pública de Armindo Jacinto, primeiríssimo responsável pelos cortes de água no Ladoeiro, enquanto presidente da Câmara Municipal de Idanha-a-Nova, a quem compete a distribuição deste bem essencial para a vida das pessoas.
Com efeito, a Constituição da República Portuguesa consagra que as autarquias locais visam a prossecução de interesses próprios das populações respectivas. E não restam dúvidas de que fornecer de água uma determinada população é satisfazer o seu interesse próprio.
Porém, nada isto parece importar a Armindo Jacinto, para quem as festas, as homenagens, as feiras, os mercadinhos, o aparecer e promover-se pessoalmente na televisão e na imprensa, e o satisfazer os seus caprichos e interesses pessoais, são efectivamente as primeiríssimas das suas prioridades.
Tanto que, apesar de na minha aldeia ainda não estar garantida a satisfação de uma necessidade tão básica, como é o fornecimento contínuo de água potável, Armindo Jacinto torra o dinheiro do orçamento municipal a contratar, para a Feira Raiana, 50 chefes de “haute cuisine”, para fazer um festival de cozinha gourmet, francesismo que se poderia traduzir por fino, ou requintado (ou será finório)?
Bem, seja como for, a falta de água no Ladoeiro tem um rosto, e esse rosto é o de Armindo Jacinto, a quem já está associada a tentativa de acabar com a água do regadio, nas hortas e quintais do Ladoeiro. Agora, acaba-nos com a água potável! Mas, afinal, que mal fizeram os ladoeirenses a Armindo Jacinto, para que os maltrate sempre desta forma? Porquê, tanto desprezo por nós? Porquê?