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Portugal em Chamas: O Negócio do Fogo e a Incompetência Nacional

Mais um verão, mais uma vez o país a arder. A tragédia anual repete-se com a previsibilidade de um relógio suíço, mas com a eficácia de um relógio de feira. As florestas ardem, as casas ardem, vidas são ceifadas e, no final, o que resta? A promessa de que “para o ano será diferente”. Só que nunca é.

Este inferno em que Portugal se transforma ciclicamente tem muito mais a ver com interesses obscuros do que com fenómenos naturais. As aeronaves envelhecidas, com manutenção duvidosa e mais horas de voo que o próprio D. Afonso Henriques, continuam a ser alugadas a preços absurdos. Um negócio que enriquece uns poucos e condena o país a uma luta inglória. O ciclo é claro: alugam-se aviões com mais remendos que a capa de um estudante do 12.º ano, que depois caem (literalmente) do céu por falhas mecânicas. Quem diria que gastar o mínimo em manutenção podia ter consequências?

E não nos esqueçamos da prevenção, essa “estratégia de futuro” que por cá é tratada como um boato. Só se fala dela quando o país já está a arder, e, mesmo assim, com pouca convicção. Como se as matas limpas e a organização do território fossem um luxo para tempos de bonança. Quando o fogo chega, é tarde demais e, claro, a tragédia repete-se: casas destruídas, vidas perdidas, património reduzido a cinzas. O fogo não pede licença, não dá tréguas e, no final, o choro e o lamento, como se ninguém tivesse visto o filme no ano anterior, e no anterior ao anterior…

Entretanto, ligamos a televisão e lá estão os comentadores profissionais, especialistas de sofá, debitando opiniões com a leveza de quem nunca sujou as mãos com a realidade. São tantos que, em vez de ajudarem a apagar incêndios, bem podiam montar uma linha de frente. Afinal, é sempre mais fácil falar depois da tragédia, quando as cinzas já voam pelo ar.

E o Governo? Ah, o Governo, sempre com a desculpa pronta e o discurso ensaiado. Falta “uma política assertiva”, dizem-nos. Sim, claro, assertividade, essa palavra mágica que resolve todos os problemas quando já é tarde demais. Mas onde está a verdadeira ação? Onde está o braço forte da justiça, que parece só agir quando já não há nada para salvar? Crimes de fogo posto são tratados com uma leviandade quase criminosa. Será pedir demasiado que haja mão de ferro contra os incendiários, que se condene quem destrói um país inteiro por interesses mesquinhos?

Ano após ano, o país é refém de um sistema podre, onde o fogo é um negócio rentável para alguns, e um pesadelo para todos os outros. Que futuro nos espera quando a nossa floresta é vista como combustível e não como património? Quando a prevenção é uma piada e a justiça uma sombra? Portugal arde, mas não é só a floresta que se consome; é o nosso futuro que se perde, entre o fumo e as chamas, enquanto os verdadeiros culpados continuam a fazer negócios da China… com a nossa terra em cinzas.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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