Num evento que pode marcar um divisor de águas no Oriente Médio, forças rebeldes sírias anunciaram hoje a fuga do presidente Bashar al-Assad, após tomarem o controle da capital, Damasco. A queda do regime, que há mais de cinco décadas esteve sob o comando da família Assad, sinaliza uma mudança significativa no cenário geopolítico da região

Queda de Damasco e Fuga de Assad
Em mensagens publicadas na televisão estatal e em plataformas como o Telegram, a coalizão rebelde celebrou a conquista de Damasco e declarou a cidade “livre” após décadas de opressão sob o governo do Partido Baas.
“O tirano Bashar al-Assad fugiu (…) proclamamos a cidade de Damasco livre”, anunciaram, prometendo aos cidadãos uma “nova era para a Síria”. Eles também apelaram ao retorno dos refugiados sírios ao país e à preservação de propriedades estatais.
O paradeiro de Assad, que teria deixado a cidade em um avião antes da chegada dos rebeldes, permanece desconhecido. Informações contraditórias surgiram, com a presidência a negar a fuga e aliados como o Irã insistindo que o presidente permanece em território sírio. No entanto, relatos de sua ausência alimentam especulações sobre o colapso de seu poder.
Reação do Regime e do Exército
Enquanto os rebeldes comemoravam, o exército sírio emitiu um comunicado garantindo que as operações militares continuam nas províncias de Hama, Homs e Deraa. “Estamos determinados a combater grupos terroristas até o fim”, declarou a instituição.
Por outro lado, o primeiro-ministro sírio, Mohamed al-Jalali, adotou um tom conciliador, indicando que está pronto para colaborar com a “nova liderança” emergente. Em um vídeo publicado no Facebook, ele afirmou que a transição de poder pode representar o início de um período de reconstrução e normalização no país.
Impacto Regional e Internacional
A tomada de Damasco também expôs fissuras na influência de potências aliadas ao regime sírio. A embaixada iraniana na capital foi ocupada pelos rebeldes, marcando uma derrota simbólica para Teerã, que apoiou Assad durante toda a guerra civil.
A Rússia, outro pilar fundamental do regime sírio, enfrenta desafios em manter sua influência no Oriente Médio enquanto direciona esforços para a guerra na Ucrânia. Paralelamente, ataques israelenses contra líderes do Hezbollah, aliado de Assad, enfraqueceram ainda mais a rede de suporte ao regime.
Celebrando a Liberdade e Olhando para o Futuro
Milhares de sírios foram às ruas para celebrar o que chamaram de “fim de uma era de opressão”. No coração de Damasco, gritos de “Liberdade” ecoaram enquanto os rebeldes libertavam prisioneiros do complexo de Sednaya, conhecido como um dos símbolos mais cruéis do regime Assad.
Os insurgentes afirmaram estar comprometidos com uma transição de poder ordenada, liderada por uma entidade governamental provisória. “Entramos em uma nova fase, deixando para trás a resistência armada para construir juntos uma Síria digna dos sacrifícios de seu povo”, afirmaram em comunicado.
Um Novo Capítulo para a Síria
A queda do regime Assad encerra mais de uma década de guerra civil que devastou a Síria, deslocou milhões e causou uma catástrofe humanitária de proporções históricas. No entanto, desafios significativos permanecem: a reconstrução, a reunificação do país e a construção de instituições democráticas são passos necessários para transformar as promessas de uma “Síria livre” em realidade.
Com o destino de Bashar al-Assad incerto e o colapso de seu regime consolidado, o Oriente Médio encara um momento de reconfiguração de forças, enquanto os olhos do mundo se voltam para o povo sírio e sua capacidade de moldar seu próprio futuro.