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Templários, Feijões e Negociatas: Um Banquete de Contas Recheadas

No interior das muralhas do “Castelo” de Castelo Branco, onde outrora soaram as espadas dos templários, da Ordem do Templo, ergueu-se esta sexta feira uma tenda, não de batalha, mas de banquete. Um jantar templário, dizem eles. Um certame histórico? Talvez. Uma encenação para encher os olhos e, mais ainda, os bolsos. Mas se olharmos para o panorama albicastrense com olhos de ver, não é o cenário medieval que chama a atenção (um jantar com pouco mais de uma dúzia à mesa, os que importa), mas sim as negociatas modernas que fervilham por trás das bandeiras da Ordem. Entre um gole de vinho e uma garfada, o “dinheiro público escorre”, sempre para os mesmos bolsos, claro está

Temos, por um lado, o Templário Moura, sempre à frente destas manobras teatrais. Não fosse este, grande impulsinador da causa Templária. No passado e no presente, envolvido numa associação bem conhecida por ser a principal beneficiada das feiras medievais que por aqui se fazem, Moura continua a gozar de uma posição privilegiada. As feiras medievais, organizadas em nome da tradição, não são mais do que um excelente pretexto para alguns embolsarem uns bons milhares de euros — e tudo à vista de todos. É claro que o presidente Leopoldo Rodrigues não faz parte da “empresa das barracas”, como lhe chamam, mas já fez antes de ser presidente de câmara, mas o seu assessor e ex-sócio Moura, esse, é um dos mais ativos membros deste circo medieval.

Do outro lado da estrada, a caminho da Lardosa, acontece a Feira do Feijão Frade. Um certame de simplicidade rural, quase inocente, onde os produtos da terra são vendidos e a comunidade se junta para celebrar as suas raízes. Ali, o dinheiro também circula, mas para outros fins. Não há templários ou cruzes a adornar os feijões, e os agricultores locais são o oposto desta elite que se senta nas mesas na tenda do castelo. Eles trabalham, suam e esperam que a feira traga algum retorno ao seu esforço, um retorno modesto e honesto.

De volta ao castelo, vemos a história a ser reescrita — ou melhor, fabricada. Para alguns, o passado serve de palco para uma representação cuidadosamente orquestrada, onde o verdadeiro herói é sempre o vil metal mesmo que não esteja à vista na mesa. Os templários que outrora defendiam a fé e os fracos foram substituídos por reformados em modo de sem gravata, que em vez de espadas, manuseiam “influências” contratos. Até os “historiadores”, aqueles que deviam ser os guardiões da verdade, parecem alinhar-se nesta farsa, com um olho nos prémios literários e o outro nas edições patrocinadas pelos municípios da região que surgem sempre a tempo de um novo evento medieval.

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E assim, entre jantares templários e feiras de feijão, entre tenda e bancas de produtos locais, o dinheiro vai e vem. Os verdadeiros templários, se regressassem, provavelmente não reconheceriam o que se passa por aqui. Mas, talvez, quem sabe, até se sentissem em casa. Afinal, naquela época, tal como hoje, o poder e o dinheiro andavam de mãos dadas, ainda que envoltos em diferentes mantos.

Não seria de admirar que um ou outro templário de outrora, ao espreitar este espetáculo moderno, desse uma gargalhada. De espada em punho, cortavam a direito; hoje, cortam-se os cheques, as faturas e os subsídios. Talvez o “gordo” dos suspensários, sempre à espreita de mais uma publicação sobre a história local, já esteja a sonhar com o próximo livro sobre as epopeias templárias… E assim, continuamos. Enquanto uns vendem feijão, outros vendem fantasias e embolsam o lucro.

Neste reino de negociatas templárias e feiras rurais, há sempre quem saia a ganhar — e sabemos bem quem. Porque, enquanto houver quem agite a bandeira do passado, haverá sempre uns quantos prontos a encher-se de dinheiro no presente.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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