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Gisela João no Festival do Maranho na Sertã

Foi no dia 21 de Julho que tive a oportunidade de ouvir um belíssimo concerto de uma fadista de alma, Gisela João, inserido no programa cultural do Festival do Maranho na Sertã, uma vila da Beira Baixa

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D.R.

Gisela João já atingiu um patamar que dispensa apresentações, sendo bastante conhecida no panorama musical português, tanto pela sua carreira artística em palco, como jurada em programas de TV.

Acompanhada por 4 instrumentistas (guitarra portuguesa, guitarra clássica, baixo e teclado), iniciou sentada, no meio do palco, num fado calmo e nostálgico, numa calmaria comovente. Ao longo da atuação, esta calmaria foi crescendo, acabando numa glorificação das «modas antigas», como o vira e o malhão (característica da zona do Minho) como que a lembrar que Gisela é o que é hoje,  porque nunca esqueceu as suas raízes de Barcelos. Saltou da cadeira e percorreu todo o palco numa dança minhota juntamente com as palmas do público.

Gisela João no Festival do Maranho na Sertã
Foto: O Regiões

Muito conversadora com a assistência, toda ela é emoção, estado de alma em puras sensações e sentimentalismos. E o que na verdade se quer no fado? É trazer ao de cima todas as emoções humanas, para serem mastigadas, remoídas, faladas, sentidas, e isso, o público sentiu muito bem. Gisela é a alma do fado em expressão corporal e  de voz.

Cantou canções dos seus discos, canções de alguns amigos, nomeadamente de Jorge Cruz, fundador da Banda «Diabo Na Cruz», que percorre hoje uma carreira a solo. Assim cantou Gisela «Já Não Choro Por Ti», onde aproveitou para aconselhar o público para que, em primeiro lugar, todos deveríamos tentar estar bem para bem estar no mundo. Aliás, quase todas as músicas foram ponteadas por elementos de diálogo construtivos, positivos, passando a mensagem de que a felicidade interna que é possível ser alcançada pontualmente.

«Que Amor Não Me Engana» fez também parte do reportório, onde realçou a importância da mensagem da liberdade do saudoso Zeca Afonso.

«Hostel da Mariquinhas» também marcou presença numa tentativa de recontar a história da Casa da Mariquinhas dos tempo atuais. A meu ver, este fado tem uma extensão bastante alternada e rápida de graves, médios e agudos, que não favorece as vozes de tessitura rouca e sensual, como é o caso da voz de Gisela.

«Vieste do Fim do Mundo», «Madrugadas sem sono», foram fados onde Gisela pode explorar toda a sua emoção e sentimento à flor da pele.

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Um dos momentos altos, pelo menos para nós, mulheres, foi uma música que entoou, que dedicou a todas as mulheres que vivem oprimidas pela sociedade patriarcal. Onde a mulher é ensinada «a não incomodar», «não se manifestar muito», e fazer tudo o que o homem mandar. Ovação com a música «De Loucas Não Temos Nada».

Claro que quando o concerto finalizou, houve uma grande aclamação pelo público e Gisela decide acabar em festa, exatamente para que a assistência participe com as suas palmas juntamente com a energia contagiante da fadista, num embale ritmado de um fado corrido.

Gisela João é uma fadista portuguesa da nova geração. Nasceu em Barcelos, conheceu o fado na rádio e começou a reproduzi-lo para a família, primeiro, para os amigos e vizinhos, depois, em concursos de talentos infantis. Mudou-se para o Porto com a intenção de estudar design de moda, mas o fado foi mais forte. Com 16/17 anos, Gisela começou a cantar na “Adega Lusitana”, em Barcelos, e depois entrou no circuito marialva do Porto. Foi ali que passou alguns anos antes de se mudar para a Mouraria em Lisboa, onde consolidou a sua carreira.

Em 2008, Gisela gravou o seu primeiro álbum a solo “O Meu Fado”. Em 2009, gravou um álbum com o grupo Atlantihda e participou no disco de Fernando Alvim. Apontada por Camané como uma grande promessa musical para 2013, Gisela João tem pisado palcos em Lisboa como o Centro Cultural de Belém, a discoteca Lux, o Teatro do Bairro, o clube Frágil, o Sr. Vinho e a Tasca da Bela, em Alfama. Reconhecida com prêmios como Blitz, Time Out, Expresso e o Globo de Ouro para Melhor Intérprete Nacional, a sua presença em palcos nacionais e internacionais consagrou-a como uma importante intérprete da música portuguesa contemporânea.

Gisela João no Festival do Maranho na Sertã
D.R.

O ano de 2013 foi um marco na carreira de Gisela João com a edição do seu disco de estreia “Gisela João”, que rapidamente alcançou o primeiro lugar no Top de Vendas Nacional e foi aclamado pela crítica. Este álbum valeu-lhe o Prêmio Revelação Amália e o Globo de Ouro para Melhor Intérprete Individual.

Gisela João no Festival do Maranho na Sertã
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Em 2016, lançou “Nua”, um álbum que mistura clássicos do fado com obras contemporâneas de compositores diversos, incluindo Cartola e Carlos Paião.

Gisela João no Festival do Maranho na Sertã
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Após um intervalo de cinco anos sem gravar, Gisela lançou o videoclipe “Louca” em 2021, seguido do álbum “AuRora”. Este álbum marca a estreia de Gisela também como compositora, explorando novos caminhos para o fado.

O concerto no Festival do Maranho foi uma verdadeira celebração do fado. A voz de Gisela João vem bem de dentro e não se limita a sair pela garganta: é rosto, músculo, pernas, braços e mãos, tudo é envolvido no fado. Os seus gestos no palco são tão naturais que ninguém os acha desapropriados.

Gisela João conseguiu engrandecer uma geração já rica em talentos fadistas. A sua presença luminosa não ofusca os outros, pois ela preenche um lugar único. Como ela mesma refere, a sua vida parece um conto de fadas, vindo de uma família humilde de Barcelos para se tornar uma das grandes damas da música portuguesa.

Assistir ao concerto de Gisela João no Festival do Maranho foi uma experiência inesquecível. A autenticidade e paixão que ela transmite em cada fado são inspiradoras. Gisela João não é apenas uma fadista, mas uma contadora de histórias cuja jornada toca profundamente quem a escuta. Ela continua a descobrir e a mostrar novos caminhos para o fado, mantendo viva a tradição e a emoção deste estilo musical tão português.

Gisela João no Festival do Maranho na Sertã
Foto: O Regiões

Como diz a canção que Gisela fez questão de oferecer às mulheres:

«Exagerada / Dizes que eu sou exagerada /mas procura saber / das noites em que eu não vivi / de tantas bocas que medi / dizes que eu sou exagerada…»

Mas no fado, a voz e a expressão tem de ser exagerada… e Gisela João, exageradamente, está na sua praia!

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Anabela Beirão
Anabela Beirão
Apresentadora do ORegiões web tv e compositora de genéricos musicais para ORegiões. Professora de música e terapeuta holística. Colabora semanalmente com seus artigos de opinião e crónica.

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