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Num país onde o calendário político se tornou um interminável desfile de urnas e cadáveres de promessas vazias, os portugueses já começam a sentir os primeiros sinais de fadiga eleitoral. Em apenas sete meses, ser-nos-á proposto ir às urnas para eleições legislativas, autárquicas e, para rematar, presidenciais – num ciclo tão vertiginoso que, segundo os rumores mais absurdos, acabar-nos-á por levar a votar no próprio Manuel Luís Goucha. Este cenário, que mais parece uma tragicomédia escrita por um autor satírico, revela não só a agitação desmedida do sistema político, mas também a clara falta de calma, bom senso e, sobretudo, de respeito pelas pessoas, tão ausentes na maioria dos políticos actuais

Assistimos agora à apresentação dos problemas e desafios: a repetição de eleições antecipadas transforma o sufrágio num evento de rotina esquizo, quase como se o cidadão se dirigisse diariamente ao supermercado. Mas, ao contrário dos preciosos produtos frescos, as promessas eleitorais vêm murchas e sem o aroma da integridade. Num ambiente onde as decisões se tomam à velocidade das manchetes e as campanhas se sucedem sem pausa, a política transforma-se num espectáculo cansativo, em que cada nova eleição parece confirmar a tendência de acção precipitada e desmedida.

Somos levados a crer que não há salvação para o bom senso nem para a decência: a falta de tranquilidade e de humanismo impregna cada discurso político. Os debates, impregnados de segundas intenções – tal como quando se diz que numa feira de empregos para militantes não se sabe só quanto o Estado vai engordar, mas também quanto os próprios políticos se carregam de peso – parecem confirmar que o ciclo de eleições antecipadas é, na verdade, um inexorável ritual de desgaste. Os políticos actuais, desprovidos de respeito e de compromisso com o interesse público, demonstram que a qualidade do discurso nunca foi tão em falta, deixando-nos a questionar se o problema não reside também na nossa pouca exigência.

Mas eis que, numa reviravolta surpreendente e profundamente irónica, a exaustão do eleitorado culmina na eleição presidencial – e, num ímpeto de absurdo e sarcasmo, o carismático e inusitado Manuel Luís Goucha surge como o candidato da última esperança. A sua vitória, que à primeira vista parece o resultado de uma capitulação do bom senso, revela-se como a última paródia do sistema: se tudo está para desmoronar, por que não optar por um rosto conhecido e simpático, mesmo que inesperado? Num cenário caótico, a escolha por Goucha é, paradoxalmente, uma celebração da capacidade do povo de rir-se dos próprios infortúnios políticos.

No fundo, a ironia aguda deste desfecho, que termina num tom alegre e quase festivo, convida-nos a reflectir sobre a nossa complacência. É curioso constatar que, mesmo com a evidente falta de qualidade dos nossos dirigentes, somos nós – o povo – os que permitimos que o circo continue. Talvez o melhor, antes das eleições, seja organizar uma feira de empregos para militantes, para sabermos de antemão quanto o Estado virá a engordar – não só em recursos, mas também em vaidade.

Assim, entre sátiras e acções precipitadas, resta-nos manter a esperança e o optimismo de que, apesar do desgaste, o nosso futuro político poderá, enfim, encontrar uma alvura genuína. Afinal, se até o absurdo se torna motivo de riso, não há razão para não acreditar que, num certo ponto, a política se transformará num verdadeiro palco onde o bom humor e o respeito triunfarão.

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Joao Vasco Almeida
Joao Vasco Almeida
Jornalista 2554, autor de obras de ficção e humor, radialista, compositor, ‘blogger’,' vlogger' e produtor. Agricultor devido às sobreirinhas.

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