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Sabores de Perdição: Banquete de Vaidades com Mesas Vazias

Vila das Nuvens (Espaço da Feira) — Inaugurou-se com grande aparato, palanque reluzente e colunas de som preparadas para impressionar… mas faltou o mais difícil de importar: gente. O Festival Sabores de Tradição abriu portas ao estilo das grandes produções — dois milhões de euros no orçamento, um alinhamento de luxo e discursos afinados — mas quem faltou foi o povo. E não por esquecimento. Por desinteresse

No centro do palco, Leopoldo Rodrigues, presidente da câmara e orador de serviço, discursou para uma sala quase vazia, com excepção dos fiéis do costume, daqueles que aplaudem por obrigação ou cargo. Uma mão cheia de funcionários, assessores e entusiastas da fotografia institucional deram alguma vida ao momento, mas nem eles conseguiam esconder o eco desconfortável que percorreu o recinto.

O discurso de Leopoldo, sem chama e sem alma, foi uma composição reciclada, mais preocupada em semear promessas do que em honrar tradições. Uma espécie de ensaio geral para as eleições autárquicas de 2025, com anúncios embrulhados em autopromoção. Quem esperava ouvir falar de cultura, sabores locais ou memória coletiva encontrou apenas mais um episódio da saga “Eu, Leopoldo”.

Do Governo, nem sinal. Nem ministro, nem secretário de Estado, nem uma representação simbólica que pudesse emprestar algum peso institucional ao momento. A ausência foi notória e embaraçosa. Um silêncio governamental que parece ter dito mais do que qualquer discurso.

Mas o verdadeiro momento de sátira esteve fora do microfone: a população simplesmente não apareceu. Não por falta de aviso — cartazes não faltaram —, mas por falta de paciência. Ao que tudo indica, muitos decidiram reservar-se para o jantar e os concertos, onde a presença do presidente é mais diluída e o aplauso, se houver, será para a música e não para o monólogo político.

No fundo, a mensagem foi clara: a população não está disposta a ser figurante de campanha. Vai pelo convívio, pela comida e pela tradição verdadeira, mas dispensa os discursos de autoelogio e o teatro de bastidores.

O Festival Sabores de Tradição, com os seus milhões e promessas, começou como um banquete feito para alimentar egos. Resta saber se, no meio de tanta encenação, ainda há lugar à mesa para o que realmente interessa: o povo. Porque sem ele, não há sabor que valha.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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