Castelo Branco, cidade de outrora animada e vibrante, colorida, com o passar dos anos, um dos seus maiores tesouros: a sua alma noturna. Quem teve o privilégio de viver na cidade durante as últimas décadas do século passado e até há bem pouco tempo até meados de 2018/2019, lembra-se bem do pulsar incansável das noites Albicastrenses. As ruas preenchiam-se de jovens ansiosos por diversão e convívio, procurando um espaço onde dançar, conversar e beber.
Onde o destino de muitos da cidade passa pelas portas de locais como Swing, Jymis e Manobras depois a República, Rubro, Platinium, Roxanne, Hiltons, Domus, Metalúgica, o Património e a Ti Lurdes ou o eterno “Aqui ao Lado” fechado mais recentemente. Estes não eram apenas bares ou discotecas; eram lugares de encontros, de formação de amizades, de criação de memórias que, por mais que o tempo passe, continuassem a viver na memória coletiva da cidade. Mas o que aconteceu com tudo isso? A noite de Castelo Branco esmoreceu, como se a cidade tivesse decidido apagar-se lentamente.
Hoje, a realidade é bem diferente. Não mais se ouvem risadas nas calçadas ou o som da música a ecoar pelas ruas. As luzes dos bares e discotecas estão apagadas e, com elas, uma energia contagiante que se espalhava pela cidade. A juventude, que outrora se divertia até altas horas, vê-se agora limitada à busca incessante por um qualquer cantinho de diversão por outros concelhos. Ó divertidos em casa!
Mas como chegámos até aqui? Como foi possível que uma cidade com uma juventude tão vibrante e cheia de vida tenha, de um momento para o outro, perdido a sua alma noturna? A resposta, como em muitas outras situações, é simples: indiferença e falta de visão. Não é difícil perceber que o desaparecimento dos bares e discotecas de Castelo Branco não é resultado de uma fatalidade do destino, mas sim de uma gestão municipal onde o retrocesso atual nos faz lembrar à quarenta anos onde a juventude tinha que ir divertir-se ao Fundão e à Covilhã.
Hoje, o que se assiste é uma cidade marcada pela ausência de vida noturna, onde os espaços restantes são ineficazes para preencher o vazio que se abate sobre os castelos brancos. O Politécnico, com as suas várias escolas e um número crescente de estudantes, seria um excelente ponto de partida para revitalizar a cidade. No entanto, essa juventude encontra-se, na maior parte das vezes, sem opções para usufruir do seu tempo livre na cidade que escolheu para estudar. Não existe um ciclo económico saudável em que a diversão noturna e os estabelecimentos de entretenimento possam circular e estimular outros com a economia circular a ficar na cidade.
Assim, uma cidade que outrora pulsava com uma energia única, que atraía jovens de todos os cantos para as suas noites de diversão, hoje vê-se limitada a uma realidade cinzenta e sem alegria. A economia de Castelo Branco, que em tempos circulava pelas esferas de diversão, cultura e lazer, parece agora restrita a um ciclo de monótonas horas de trabalho e poucas opções de lazer. No entanto, é possível sonhar. Talvez um dia, as gerações vindouras, com a sua energia, se revoltem contra esta quietude e tragam de volta a alma noturna que tanto falta. Até lá, resta-nos gravar o que foi e lamentar o que se perdeu. A cidade tem, sem dúvida, muito a oferecer – mas falta-lhe a vontade política e o espírito jovem para resgatar a sua alma noturna. Até lá, a noite continuará a ser apenas mais uma incógnita que a cidade teima em pernoitar num silêncio sombrio e sem cor!