Víamo-lo na secretária, ao computador, com os headphones, pensávamos que estava seguro.
O acesso à net, sem controlo, é um perigo. Para os jovens e adolescentes, porque podem encontrar respostas simplistas e falsas, baralhando as suas fragilidades e pouca auto-estima, para os adultos, porque são embrulhados em teorias e ideologias que são construídas com base em inverdade e Fake News.

Pelas estatísticas (em Portugal e no estrangeiro) que consultei, não existe um aumento acentuado da dependência da droga ou mesmo de criminalidade violenta, salvo no caso da violência doméstica contra as mulheres. Todavia, há alguma alteração no tipo de substâncias mais consumidas e nos objetivos com que são consumidas. Há produtos que
estão mais associadas ao prazer ou ao lazer, em ambientes de diversão, e outros que têm a ver com a tentativa de alívio do stress, da depressão em alguns casos, mesmo no âmbito profissional. Numa palavra, o consumo e o tipo de drogas está associado aos ciclos que a
sociedade vai vivendo.
Na verdade, Portugal foi pioneiro no combate à toxicodependência com programas de descriminalização e reabilitação dos consumidores de drogas ilícitas. O programa de troca de seringas e o consumo assistido permitiram um decréscimo importante nas infeções relacionadas com o uso destas substâncias. Contudo, o relatório anual do Observatório
Europeu das Drogas e da Toxicodependência aponta para um aumento do consumo de opiáceos e João Goulão, diretor-geral do Instituto para os Comportamentos Aditivos e as Dependências, alerta para a necessidade de se impedir uma nova epidemia como aquela que marcou as décadas de 80 e 90 em Portugal e noutros países.
Pois, os anos 80/ 90! Quem não tem um familiar, mais velho ou mais novo, que não tenha passado por tempos difíceis nesses anos de excessos e quase ou nenhum apoio do estado? Estaremos em situação semelhante ou existe exagero nos perigos?
Tudo vem a propósito do filme “Adolescência”, onde se atribui grande parte da culpa aos pais (que, em muitos casos, não têm tempo ou não entendem os perigos) e à escola (que não têm recursos para o devido controle). Mas existem mais culpados, como os traficantes que usam a net (não só a Darknet…) para atrair jovens e menos jovens, falta de controlo policial sobre o que é divulgado nas redes, devendo também existir responsabilidade criminal por parte dos próprios detentores das redes sociais. A Austrália e Espanha proibiram o acesso às redes sociais aos jovens até aos 16 anos, o mesmo que se faz para o álcool ou o fumo. Poderá também ser um caminho a seguir – há formas eficazes de confirmar a identidade de quem se inscreve nas redes – embora dê a ideia que as redes só têm aspetos negativos, o que não é verdade.
Jamie vivia com o pai, mãe e irmã num ambiente aparentemente normal, saudável, mas esfaqueou e matou uma colega da escola, enquanto os pais achavam que o filho estava seguro, por estar sempre no quarto e não a meter-se em problemas na rua, como assume o próprio pai do adolescente de 13 anos no final da série, em que chega à conclusão: como pai, não fez o suficiente pelo seu filho. E depois há a idiotice do Incel, que não é mais que uma forma de demonstrar que os homens já não têm poder, pois estamos no mundo
das mulheres (o que é mentira, continuamos numa sociedade com largos sintomas machistas) ! “Incel” é uma abreviação do termo inglês “involuntary celibate”. É uma atitude reacionária, conservadora, de machos despeitados! Em português significa, “celibatário involuntário”.
O termo é uma referência a membros de uma subcultura virtual – geralmente homens heterossexuais – que não conseguem ter relações sexuais ou românticas. Apesar de desejarem ter esse contacto sexual, os “incels” costumam sentir-se excluídos ou rejeitados – particularmente pelas mulheres. Estas circunstâncias fazem com que os membros desta
comunidade tenham sentimentos de ódio em relação às mulheres e homens sexualmente ativos. Quem quiser saber mais sobre estas teorias (acho que só vão perder tempo), pesquisem Jordan Peterson, Roger Scruton, Julius Evola e até mesmo Andrew Tate. E “cheira” muito a misoginia trumpesca…
Gostei do filme, é intenso e muito bem interpretado. Está a ser comentado em todo o mundo. Mas uma das características do tempo atual – a tal sociedade da informação que não é do conhecimento – é transformar pouco em muito, casos pontuais em babel (não me estou a referir ao filme mas ao seu conteúdo). Embora o susto (o termo exato é
Pânico Moral, vale a pena pesquisarem o significado, e já existe desde há séculos, como vim a descobrir) possa fazer pensar sobre o assunto, o que é bom.
Contatei amigos jovens, no sentido de saber se conheciam o significado dos diversos emojis divulgados pela PSP (lembro que, desde sempre, os jovens usaram símbolos e calão próprio para comunicarem entre si). Todos disseram que não… eu sei, podem não ter querido entrar em pormenores. De qualquer forma insisto que, muitas vezes, o que se passa na net é apenas em bolsas limitadas, mas quando aparece a noticia na televisão e nos jornais, tudo é amplificado e divulgado. E existe a tal percepção, que faz com que se formem opiniões que não correspondem à realidade… além de que a Netflix vai fazer muito
dinheiro com a série.
Querem saber a minha opinião? Acho que haverá uma minoria de jovens doentes ou marginais, mas na sua grande maioria são miúdos normais e, direi mesmo, sem grandes traumas (sigo a ideia do psicólogo clínico e psicanalista Eduardo Sá)! E, repito, falta controlo policial sobre o que é divulgado nas redes, devendo também existir responsabilidade criminal por parte dos próprios detentores das redes sociais.
Apetecia-me agora discorrer sobre o uso de telemóveis nos ainda mais novos, 8,9,10 anos, que passam horas a ver videos rápidos e estupidificantes, que “fritam os neurónios”, mas fica para a próxima.
Confesso que meu neto já precisa de ser controlado…