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Cruz Vermelha de Castelo Branco: Entre a Competência e os Favores Políticos – Uma Nova Administração em Tempo de Campanha

Em pleno turbilhão da campanha para as eleições autárquicas de 2025, onde até a cor do céu parece carregar uma agenda política, Leopoldo Rodrigues, qual mestre de xadrez camuflado, vai avançando pela cidade de Castelo Branco como quem traça movimentos estratégicos. Nesta quarta-feira dia 26 de março, um evento na Biblioteca Municipal prometia dar que falar: a tomada de posse e apresentação da nova comissão administrativa da delegação da Cruz Vermelha de Castelo Branco

A Cruz Vermelha Portuguesa (CVP) é uma instituição de utilidade pública, com mais de 160 anos de história, dedicada a defender a paz, promover a saúde e garantir a dignidade humana, acima de tudo. Fundada em 1865, é um símbolo do que deveria ser uma organização imparcial e focada no apoio àqueles que mais necessitam. A sede nacional da CVP, localizada no Palácio dos Condes de Óbidos em Lisboa, coordena estruturas locais espalhadas pelo país. E, em Castelo Branco, uma nova equipa toma as rédeas desta instituição de renome. Mas, como tudo o que envolve a política portuguesa, há algo que nos faz questionar: competência ou favores políticos?

João Belém, um nome do PSD, foi eleito presidente da comissão administrativa da delegação da Cruz Vermelha de Castelo Branco. Numa região onde as linhas entre a política e as instituições sociais se confundem de forma quase orgânica, a presença de um membro da oposição no comando da CVP não podia passar despercebida. Ao seu lado, uma equipa de vice-presidentes que, se analisada por um olhar atento, reflete a mistura de cores políticas que dominam o território: José Ribeiro, veterano do voluntariado; Amândio Nunes, do PS, responsável pela Proteção Civil; Francisco Ribeiro, o tesoureiro; e Lúcia Robalo, vogal, a assistente social. Uma equipa composta, na sua maioria, por figuras de destaque nos respetivos partidos. A questão que paira no ar é óbvia: será esta a melhor composição para uma instituição que deveria ser acima de tudo imparcial e dedicada ao bem-estar das populações?

Durante a cerimónia, Leopoldo Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Castelo Branco, sublinhou a importância da Cruz Vermelha como “um pilar de apoio social” na região, enaltecendo a dedicação dos voluntários e o impacto da instituição nas comunidades locais. Mas, por entre os elogios e promessas de “continuidade”, surgia uma dúvida, que se tornou inevitável: será que estamos a assistir a uma distribuição de favores entre partidos ou a uma escolha realmente competente e capaz de garantir a continuidade do trabalho solidário da Cruz Vermelha? Não se pode ignorar a sombra da política, que paira sobre cada decisão, por mais altruísta que se queira que ela seja. O cheiro a jogo de bastidores é inegável.

A política, com o seu aroma a favores e acordos, entra em todos os campos, mesmo nos mais nobres. E, quando nomes com ligações partidárias tão evidentes ocupam cargos de relevância numa instituição como a Cruz Vermelha, é difícil não fazer essa associação. A linha entre competência e favorecimento político é ténue e, muitas vezes, não se sabe onde termina uma e começa a outra. Será que a CVP está a avançar para o futuro com a força e independência que a caracterizaram ao longo dos seus 160 anos de história, ou será que a sua função está agora à mercê de negociações políticas que pouco têm a ver com o seu verdadeiro propósito? O tempo dirá.

Num país onde a desconfiança em relação à classe política atinge níveis elevados, torna-se difícil não olhar para a Cruz Vermelha de Castelo Branco e questionar se este não será mais um exemplo de que as instituições sociais se tornaram uma extensão do jogo político. Será que a nomeação desta nova administração é mesmo um reflexo da melhor escolha para a instituição, ou é apenas uma tentativa de alavancar a influência política local, com um sorriso e um aperto de mão, à custa de um suposto bem-estar social?

A composição da nova direção – que mistura figuras de diferentes quadrantes políticos – é combustível para especulações. Estaremos perante uma equipa sólida, capaz de manter o legado de uma instituição com um histórico de relevância social, ou estamos apenas a assistir à mais recente jogada de um tabuleiro político onde a boa vontade e a competência ficam em segundo plano? Quem conhece bem os meandros da política sabe que, no final, a resposta raramente é clara e, muitas vezes, fica no ar.

Por agora, só nos resta esperar, entre discursos cheios de promessas e gestos de aparente boa vontade, que as verdadeiras vítimas desta história – as populações mais vulneráveis, aquelas que mais precisam de apoio social – não sejam esquecidas no altar do cálculo político. A Cruz Vermelha de Castelo Branco tem a responsabilidade de preservar a sua missão humanitária, independentemente das cores políticas que a governem. E talvez, só talvez, as competências individuais com os seus voluntários possam, por fim, sobrepor-se às agendas partidárias. O tempo, como sempre, será o único juiz imparcial.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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