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Em carta aos franceses, Macron diz que “ninguém ganhou”

Numa “carta aos franceses” publicada esta quarta-feira, 10 de julho, o presidente francês considera que “ninguém ganhou” as legislativas francesas. É a sua primeira declaração à nação desde a segunda volta das eleições. Emmanuel Macron, que se encontra em Washington para participar na Cimeira da NATO, apelou através da missiva às “forças republicanas” para que “construam uma maioria sólida” e avançou que “decidirá sobre a nomeação do primeiro-ministro” assim que os partidos tenham “chegado a acordo” sobre os “compromissos”.

-Emmanuel Macron pede “diálogo sincero e legal” às forças políticas “que se reconhecem nas instituicoes republicanas, no Estado de Direito, no parlamentarismo, na orientação europeia e na defesa da independência francesa”, com o objetivo de “construir uma maioria sólida, necessariamente plural”. O Presidente francês, que não falava desde as eleições de 30 de julho e 7 de julho, exprimiu-se numa carta aos cidadãos, publicada pelo jornal “Le Parisien” esta quarta-feira.

Macron reconhece que a sua proposta isso exige “deixar algum tempo às forças políticas para construírem esses compromissos” antes de indigitar um novo primeiro-ministro. “Ninguém ganhou. Nenhuma força política obteve, sozinha, uma maioria suficiente, e os blocos ou coligações resultantes destas eleições são todos minoritários”, frisa o chefe de Estado.

Macron vê no veredicto das urnas “um pedido claro de mudança e partilha do poder” e lembra que “só as forças republicanas representam uma maioria absoluta”. Devem, no seu entender, pôr “ideias e programas à frente de cargos e personalidades”, para encontrarem uma fórmula pragmática que “tenha em conta as preocupações” expressas pelos franceses na ida às urnas.

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O presidente francês espera também que as “ideias e os programas” prevaleçam sobre as “posições e as personalidades”.”É à luz destes princípios que decidirei sobre a nomeação do primeiro-Ministro”.

Macron explica que “isto significa dar um pouco de tempo às forças políticas para que possam chegar a estes compromissos e de uma forma clara e respeitosa” e afirma que o atual Governo, liderado por Gabriel Attal, “continuará a exercer as suas responsabilidades”, como é tradição republicana.

Parecendo excluir a participação do Reagrupamento Nacional (RN, de Marine Le Pen e Jordan Bardella), escreve Macron, dirigindo-se aos cidadãos: “Embora a extrema-direita tenha ficado à frente na primeira volta, com quase 11 milhões de votos, recusastes claramente que ela acedesse ao Governo”. O Presidente elogia a “mobilização” e a “vitalidade” do povo francês.

Coligação de projeto

No mesmo dia, deputados do partido Renascimento (centro liberal), de Macron, defendeu uma “coligação de projeto que vá dos sociais-democratas à direita de Governo”. Fecha a porta, portanto, ao RN e à França Insubmissa (LFI), partido de esquerda radical chefiado por Jean-Luc Mélenchon e que é a força dominante da Nova Frente Popular (NFP), aglomeração que forma o maior bloco parlamentar, que inclui socialistas, ecologistas, comunistas e outros progressistas.

Outra fação dos macronistas preferia que a futura coligação governamental não incluísse a esquerda, voltando-se apenas para os Republicanos (direita tradicional). O novo líder parlamentar deste partido, Laurent Waquiez, assegura, porém, que a direita tradicional “não participará em coligações

governamentais”. Os Republicanos têm 39 dos 577 deputados, pelo que nem somados aos 159 do Renascimento serviriam para alcançar a maioria absoluta (289).

A NFP tem 180 lugares e a extrema-direita 142, cifra que compreende uma parte dos Republicanos que resolveu aliar-se a Le Pen. Há ainda umas dezenas de parlamentares de forças menores, quer de esquerda quer de direita, e ainda regionalistas.

Um entendimento entre a esquerda (excluindo a LFI), os adeptos do Presidente e a direita tradicional seria preferida dos franceses, segundo sondagem divulgada pelo jornal conservador “Le Figaro”. Nela, 39% defendem esta saída para a crise política; 34% preferem uma aliança entre macronistas e direita democrática; 30% decantam-se por uma coligação só de esquerda que inclua a LFI; 25% preferem toda a esquerda aliada ao centro presidencial, sem direita; e 24% querem toda a esquerda, centro e direita, deixando apenas de fora o RN.

Acresce que metade dos inquiridos penas que caso a NFP apresente um candidato a primeiro-ministro acordado entre as formações que a compõem, Macron deve indigitá-lo. Quanto a nomes, a lista de preferências é encabeçada pelo atual ocupante do cargo e demissionário Gabriel Attal (38%), seguido de Bardella (35%), Raphaël Glucksmann (centro-esquerda, 31%), François Ruffin (esquerda, 26%), Olivier Faure (socialista 24%) e François Bayrou (centro, 24%).

“Ninguém ganhou.” Macron escreve aos franceses enquanto o seu partido propõe aliança do centro-esquerda à direita

Sossegar Bruxelas

À esquerda, Mélenchon — que parece descartado como futuro primeiro-ministro — tenta assegurar os mercados de que não será problemático a esquerda ir para o Governo. A NFP, assegurou o seu chefe numa visita ao Parlamento Europeu, em Bruxelas, não tem “qualquer interesse em entrar em choque frontal” com as instituições comunitárias no tocante às regras orçamentais. Pretende equilibrar as despesas que prometeu com mais receita. Impostos sobre grandes fortunas ou alterações ao regime de ajuda às empresas poderão estar na calha.

A Comissão Europeia abriu, em junho, um processo disciplinar contra França por ter registado um défice superior a 3% do produto interno bruto (PIB). Já a agência de notação Standard & Poor’s avisa que a ausência de maioria clara pode dificultar a ação do futuro Executivo.

Também na NFP, a deputada ecologista Sandrine Rousseau defende que um Governo da esquerda não deveria recorrer, como os Executivos fiéis a Macron, ao artigo 49.3 da Constituição para fazer passar leis sem as sujeitar a votações no Parlamento. “Será difícil e fastidioso, mas podemos conseguir”, defende, enumerando a eutanásia, a polícia de proximidade, políticas para idosos e famílias monoparentais ou reformas da saúde como assuntos em que acredita ser possível formar maiorias no Parlamento, caso a caso. Contraria assim Mélenchon, que admitia usar aquele dispositivo para revogar medidas como o aumento da idade da reforma para os 64 anos, decretada por decisão de Macron na última legislatura.

A carta escrita por Macron

“Caras francesas, caros franceses,

Nos dias 30 de junho e 7 de julho, foram às urnas em grande número para escolher os vossos deputados.

Saúdo esta mobilização, um sinal de vitalidade da nossa República, da qual penso que podemos tirar algumas conclusões.

Em primeiro lugar, há uma necessidade de expressão democrática neste país.

Em seguida, apesar de a extrema-direita ter ficado em primeiro lugar na primeira volta, com quase 11 milhões de votos, vocês recusaram-se claramente a permitir a sua entrada em funções. Por último, ninguém ganhou. Nenhuma força política obteve uma maioria suficiente, os blocos ou coligações que saíram destas eleições eram todos minoritários.

Divididos na primeira volta, unidos na segunda por desistências mútuas na segunda volta, eleitos graças aos votos dos seus antigos, apenas as forças republicanas representam uma maioria absoluta. A natureza destas eleições, marcadas por uma clara exigência de mudança e de partilha do poder, obriga-os a construir uma ampla união.

Como presidente da República, sou simultaneamente o protetor do interesse supremo da nação e, ao mesmo tempo, garante das instituições e do respeito pela vossa escolha.

É nesta qualidade que peço a todas as forças políticas que se identificam com as instituições republicanas, o Estado de direito, parlamentarismo, orientação europeia e defesa da independência, que se empenhem num diálogo sincero e leal para construir uma maioria sólida, necessariamente plural, para o país.

Ideias e programas antes de posições e personalidades: esta união deve ser construída em torno de alguns grandes princípios para o país, valores republicanos claros e partilhados, um projeto pragmático e legível, tendo em conta as preocupações que manifestaram aquando das eleições.

Deverá garantir a maior estabilidade institucional possível. Reunirá homens e mulheres que, na tradição da Quinta República, colocam o seu país acima do seu partido a nação acima das suas próprias ambições.

O que o povo francês escolheu nas urnas – a Frente Republicana, as forças políticas devem traduzi-lo em ações.

É à luz destes princípios que decidirei sobre a nomeação do primeiro-Ministro.

Isto significa dar às forças políticas um pouco de tempo para que possam chegar a esses compromissos com calma e respeito uns pelos outros. Entretanto, o atual Governo continuará a exercer as suas responsabilidades e depois ocupar-se-á da vida quotidiana, como é tradição republicana.

A nossa esperança reside na capacidade dos nossos líderes políticos demonstrarem um sentido de harmonia e de apaziguamento dos vossos interesses e dos interesses do país.

O nosso país tem de ser capaz de dar vida, como fazem tantos dos nossos vizinhos europeus, ao espírito de superação a que sempre apelei nos meus votos. O vosso voto obriga a todos a estar à altura do momento. De trabalhar em conjunto.

No domingo passado, apelaram à invenção de uma nova cultura política francesa.

Em vosso nome, eu vou tratar disso. Em vosso nome, eu serei o garante.

Em confiança.

Emmanuel Macron”

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