Foi descoberto no sítio das cataratas do rio Kalambo, na Zâmbia, por um grupo de arqueólogos, a estrutura de madeira mais antiga. Com 476 mil anos, anterior ao aparecimento do homem moderno, é facto suficiente para mudar nos livros de História. Este achado poderá colocar em causa o que pensávamos saber sobre a “Idade da Pedra”.
“Esta pode ser a construção de madeira mais antiga conhecida e talvez seja obra do Homo heidelbergensis, antepassado do Homo sapiens”, diz a equipa de investigadores das universidades de Liverpool e de Aberystwyth, no Reino Unido, num artigo publicado na revista Nature, na quarta-feira.
“Esqueçam o rótulo de ‘Idade da Pedra'” diz arqueóloga depois de encontrar uma estrutura de madeira com 476 mil anos. Descoberta mostra que os humanos dessa época não eram só nómadas.
Objeto fabricado na Idade da Pedra, antes mesmo da evolução do “Homo sapiens”, pode ter sido uma habitação – sugerindo que humanos já eram sedentários naquela época.
Os especialistas usaram técnicas de datação por luminescência, que revelaram a última vez que os minerais da areia do sítio arqueológico foram expostos à luz solar. Segundo conta o professor Geoff Duller, da Universidade de Aberystwyth, que colaborou com o estudo, esses métodos permitem datar “muitos anos atrás, para juntar locais que nos dão um vislumbre da evolução humana”.
“A área das cataratas do Kalambo havia sido escavada na década de 1960, quando pedaços de madeira semelhantes foram recuperados; mas não havia sido possível datá-los, de modo que a verdadeira importância do local não havia ficado clara até agora”, acrescenta Duller, em comunicado.
A madeira é raramente encontrada em locais tão antigos, pois geralmente apodrece e desaparece. Mas, nas cataratas do Kalambo, os níveis permanentemente altos de água preservaram o material.
A estrutura em questão era uma provável base de uma plataforma ou parte de uma habitação da Idade da Pedra. Apesar do nome dado a este período, os hominídeos não trabalhavam só com pedras naquela época.
“Esqueça o rótulo ‘Idade da Pedra’, veja o que essas pessoas estavam fazendo: elas criaram algo novo e grande a partir da madeira”, observa Larry Barham, líder do projeto de pesquisa, intitulado “Raízes Profundas da Humanidade” (Deep Roots of Humanity).
Barham nota que os hominídeos usaram sua inteligência, imaginação e habilidades para criar algo que nunca tinham visto antes. “Eles transformaram o ambiente para facilitar a vida, mesmo que fosse apenas fazendo uma plataforma para sentar à beira do rio e fazer suas tarefas diárias”, diz o pesquisador. “Essas pessoas eram mais parecidas connosco do que pensávamos”.
Até agora, as evidências do uso humano da madeira se limitavam à sua utilização para fazer fogo, paus e lanças. Mas os hominídeos das quedas d’água do rio Kalambo podem ter usado o material para construir habitações – o que sugere que os humanos da Idade da Pedra não eram nômades, como se pensa atualmente, mas sedentários.
Nessa região, os humanos não só tinham uma fonte perene de água, mas a floresta ao seu redor com alimento suficiente para se estabelecer e construir estruturas. Este local no Rio Kalambo fica acima de uma queda d’água de 235 metros na fronteira da Zâmbia com a região de Rukwa, na Tanzânia, às margens do Lago Tanganica.
A área está em uma lista “provisória” da Unesco para se tornar um Patrimônio Mundial devido à sua importância arqueológica. “As cataratas do Kalambo formam um local extraordinário e um patrimônio importante para a Zâmbia”, disse Barham. “A equipe do Deep Roots está ansiosa para que mais descobertas interessantes surjam de suas areias alagadas”.