O Museu Calouste Gulbenkian, em Lisboa, vai estar encerrado para obras que começam a 18 de Março deste ano e vão durar até Julho de 2026, anunciou a fundação esta segunda-feira. Para minorar o impacto deste encerramento, a Fundação Calouste Gulbenkian mostrará de 11 de Abril a 1 de Setembro deste ano cerca de 200 obras da colecção do museu na galeria do piso inferior da sede.
As portas do Museu Gulbenkian, em Lisboa, irão encerrar a 16 de março, um domingo, para só voltarem a abrir em julho de 2026. Nesses dezasseis meses de permeio, as instalações sofrerão uma remodelação geral, tanto a nível técnico como da apresentação das peças e acessibilidade.
Uma seleção de cerca de duas centenas de obras da coleção será entretanto transferida para a galeria do piso inferior da sede, onde estará em exposição – mas só entre 11 de abril e 1 de setembro deste ano.
«Os trabalhos […] preveem a renovação do sistema de climatização, de iluminação e de segurança, de modo a adequar o Museu aos padrões e requisitos atuais no que toca à conservação e apresentação da coleção», avança a Fundação.
«Será ainda realizada uma harmonização geral das várias galerias, sujeitas a intervenções ao longo dos anos, com o objetivo de reafirmar o ideário do projeto original do Museu Gulbenkian. Esta intervenção vai também garantir uma maior clareza e legibilidade no acesso às obras expostas, incluindo mais informação com enfoque na figura do colecionador e na investigação sobre a Coleção».
O arquitecto francês Frédéric Ladonne, habituado a trabalhar em espaços culturais, e a portuguesa Teresa Nunes da Ponte, que foi já responsável pela intervenção no auditório da fundação, são os autores do projecto que vai orientar a requalificação do museu.
“O que vamos fazer é refrescar o museu sem grandes alterações no seu discurso expositivo, cuja medula está muito bem definida em torno das principais obras que Gulbenkian reuniu ao longo da vida”, diz a Fundação Gulbenkian, explicando que esta “revisão” da museografia e da disposição das próprias galerias foi apenas a resposta natural à oportunidade criada pela necessidade de renovar os sistemas de iluminação, climatização e segurança do museu.
A renovação do museu passará, sobretudo, pela “quantidade e qualidade da informação” que será posta à disposição de todos e, também, por uma melhoria evidente na forma como se dão a ver as muitas pinturas, esculturas e outras peças do acervo. “A nova iluminação vai trazer uma revolução total na percepção das obras”, assegura o historiador de arte que dirige o Museu Gulbenkian desde 2021, António Filipe Pimentel, para quem esta requalificação, ao tornar mais homogénea a exposição permanente do acervo do coleccionador arménio, representa um regresso ao “espírito original” do museu.
Cinco mil anos de história
Inaugurado há 56 anos, em outubro de 1969, o Museu Gulbenkian já foi objeto de diversas intervenções ao longo da sua história. A Sala Lalique, por exemplo, esteve encerrada ao público entre
1985 e 1996. Mas uma das mais marcantes foi a que se realizou entre 1999 e 2001, em que se procedeu à substituição de sistemas de iluminação e de ar condicionado.
Na altura, um conjunto de cerca de 80 obras da coleção viajou para Nova Iorque, estando em destaque no Museu Metropolitan, na exposição Only the Best. Em 2016, foi a vez de a Galeria de Artes Decorativas Francesas do Século XVIII ser alvo de renovação.
Esta campanha de obras segue-se à recente reabertura, após remodelação profunda, do Centro de Arte de Moderna, com projeto do arquiteto japonês Kengo Kuma. Enquanto o museu estiver encerrado, algumas pinturas serão restauradas e analisadas num processo que conta com a colaboração do Laboratório Hércules da Universidade de Évora.
“Há galerias do museu, como a que tem as peças de René Lalique (1860-1945, artista e ourives francês), que já teve três versões e outras, como as da arte islâmica e oriental, com obras do Egipto ao Japão, que está quase intocada desde a inauguração, com as mesmas vitrines de sempre”, exemplifica o director. “As obras vão tornar mais harmonioso o conjunto sem lhe alterar a essência.
Para não defraudar as expectativas dos que se dirigirem à fundação do coleccionador em busca das obras que conservou até ao fim da vida, Pimentel e a sua equipa prepararam a exposição Colecção Gulbenkian: Grandes Obras (11 de Abril a 1 de Setembro de 2025), partindo da ideia de que a relevância de uma obra nada tem a ver com o seu tamanho. “Na galeria de exposições temporárias que vamos usar [a do piso inferior da sede] o tecto é muito mais baixo do que no museu, pelo que há peças com uma escala maior que nunca poderíamos mostrar lá. Foi também por isso que optámos para chamar a atenção para pequenas obras que podem passar despercebidas.”
Abrangendo cinco mil anos de história, a colecção do museu instalado na zona norte do icónico jardim da fundação, reunida em vida por Calouste Gulbenkian, inclui cerca de seis mil peças, das quais apenas um sexto integra a exposição permanente, pode ler-se num pequeno texto do seu site, que em seguida elenca os vários núcleos que a compõem: arte egípcia, greco-romana, Mesopotâmia, oriente islâmico, Arménia, Extremo Oriente e, na arte do ocidente, escultura, arte do livro, pintura, artes decorativas francesas do século XVIII e obras de René Lalique.