Fátima continua a ser o altar do mundo onde, por Maria, se chega a Cristo Senhor. Por estes meses, e não só, todos os caminhos ali vão ter. Gente das mais variadas origens geográficas e culturais para lá converge com fé e devoção, sentindo-se acolhida sob o manto da Senhora e Mãe, “uma Senhora mais brilhante do que o Sol”
Em ambiente de paz e serenidade interior, há lágrimas de sofrimento que as vergastadas da vida sempre provocam, há sentimentos de gratidão por benefícios recebidos, há manifestações de alegria por se ter chegado e estar em lugar tão privilegiado e envolvente, há desejo de libertação do peso do cansaço e da fragilidade, há propósitos para anunciar o fogo que Jesus trouxe e acendeu no mundo e Maria nos veio recordar, há troca de olhares entre a imagem da Senhora e os peregrinos.
Olhares de ternura e de esperança, de quem, apesar das dificuldades da vida e de caminhos tantas vezes tortuosos e sem sentido, se sente acolhido e amado por Deus. Em silêncio interior, escutando os apelos da Senhora, tantos têm vivido, com encanto e inesquecível alegria, o encontro vivo e pessoal com Cristo Jesus, que os leva a regressar a casa por outro caminho, o caminho da verdade, da misericórdia e da esperança. Ali, tal como no Evangelho, continua-se a apelar à conversão, à penitência, à oração com referência especial ao terço diário. Faz-se apelo à caridade por meio do abandono do pecado, à solidariedade que está na base da reparação, à vida sacramental sobretudo através dos Sacramentos da Eucaristia e da Reconciliação, apela-se à comunhão eclesial e hierárquica.
Torna-se presente a escatologia, referindo-se o Céu, o Inferno e o Purgatório, põe-se em relevo o Coração Imaculado de Maria e dá-se o sentido à penitência e à oração. Faz-se apelo à oração pela paz no interior de cada um, nas famílias, na sociedade e no mundo que teima em viver imerso na tragédia da guerra, apela-se à coerência de vida cristã e à santidade, tendo na vida dos Pastorinhos um exemplo e um estímulo.
Recordemos a Aparição de 13 de maio de 1917, servindo-nos das Memórias da Irmã Lúcia:
“Andando a brincar com a Jacinta e o Francisco no cimo da encosta da Cova da iria a fazer uma paredita em volta duma moita, vimos, de repente, como que um relâmpago.
– É melhor irmo-nos embora para casa – disse a meus primos – que estão a fazer relâmpagos e pode vir trovoada.
– Pois sim!
E começamos a descer a encosta, tocando as ovelhas em direção à estrada. Ao chegar mais ou menos a meio da encosta, quase junto duma azinheira grande que aí havia, vimos outro relâmpago e, dados alguns passos mais, vimos sobre uma carrasqueira uma Senhora vestida toda de branco, mais brilhante que o sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios do sol mais ardente.
Parámos, surpreendidos pela Aparição. Estávamos tão perto que ficávamos dentro da luz que a cercava ou que ela espargia, talvez a metro e meio de distância, mais ou menos. Então Nossa Senhora disse-nos:
– Não tenhais medo! Eu não vos faço mal!
– De onde é Vossemecê? – lhe perguntei.
– Sou do Céu.
– E que é que Vossemecê me quer?
– Vim para vos pedir que venhais aqui, seis meses seguidos, no dia 13 a esta mesma hora. Depois direi quem sou e o que quero. Depois voltarei ainda aqui uma sétima vez.
– E eu também vou para o Céu?
– Sim, vais.
– E a Jacinta?
– Também.
– E o Francisco?
– Também, mas tem que rezar muitos Terços.
Lembrei-me, então, de perguntar por duas raparigas que tinham morrido há pouco. Eram minhas amigas e estavam em minha casa a aprender a tecedeiras com a minha irmã mais velha:
– E a Maria das Neves já está no Céu?
– Sim, está.
– E a Amélia?
– Estará no purgatório até ao fim do mundo.
– Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?
– Sim, queremos!
– Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto.
Foi ao pronunciar estas últimas palavras (a graça de Deus, etc.) que abriu pela primeira vez as mãos, comunicando-nos uma luz tão intensa, como que reflexo que delas expedia, que nos penetrando no peito e no mais íntimo da alma, fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente que nos vemos no melhor dos espelhos. Então por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetíamos intimamente:
– Ó Santíssima Trindade, eu vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento.
Passados os primeiros momentos, Nossa Senhora acrescentou:
– Rezem o Terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra.»
Em seguida começou a elevar-se serenamente, subindo em direção ao nascente, até desaparecer na imensidade da distância. A luz que A circundava como que abrindo um caminho no cerrado dos astros, motivo por que alguma vez dissemos que vimos abrir-se o Céu. Quando nessa mesma tarde, absorvidos pela surpresa, permanecemos pensativos, a Jacinta, de vez em quando, exclamava com entusiasmo: “Ai que Senhora tão Bonita!”.