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O Castigo da Inércia: Quando a História Cai com o Peso da Indiferença

Na madrugada de 21 de janeiro, a cidade de Castelo Branco viu cair um pedaço da sua alma. Às 4 horas da manhã, o que restava da muralha histórica, testemunha silenciosa de 800 anos de história, sucumbiu ao peso de décadas de desleixo, incompetência e, em última instância, à inércia de quem deveria cuidar daquilo que ainda conseguimos chamar de património. E não é que a queda do muro se deu com a mesma pontualidade das promessas eleitorais, que, essas sim, permanecem intactas e bem vivas no papel?

Não é a primeira vez que o problema das muralhas de Castelo Branco vem a público. Já o executivo anterior, liderado por Luís Correia, tinha erradicado o gabinete responsável (com o arquiteto José Afonso, coordenador do gabinete de reabilitação do centro histórico) pela preservação da zona histórica. Um erro crasso, é certo, mas a história tem a estranha capacidade de se repetir. O que foi destruído antes, tem sido negligenciado após. Quem imaginaria que a queda de um troço da muralha seria um evento previsível, uma catástrofe anunciada, com a sinalização de risco a ser dada desde setembro do ano passado? E não, não se trata de um filme de terror, mas da realidade da nossa cidade. Com a atual administração de Leopoldo Rodrigues à frente da Câmara Municipal, o que mais surpreende não é a queda da muralha, mas sim o facto de nada ter sido feito para evitar que isso acontecesse.

Leopoldo Rodrigues, que com formação em história, tinha feito da requalificação da zona histórica um dos principais pontos da sua campanha eleitoral, deixou a história escorrer-lhe pelos dedos. Três anos depois de promessas e anúncios vazios, a muralha ruiu. E a resposta? Um silêncio ensurdecedor, uma burocracia imensa e uma total incapacidade de ação. Entre um ministério da Cultura distante e um poder local que não passa de uma sombra das suas próprias promessas, o património da cidade continua a cair. Literalmente.

A derrocada de 21 de janeiro afetou a esquina da Rua Vaz Preto com a Mouzinho Magro, e com ela, mais de oito séculos de história. É irónico que, no momento em que as chuvas parecem não dar tréguas, a cidade se afunde no seu próprio atraso. E não, não podemos culpar o clima. O problema está em como a água da incompetência e da indiferença vai escorrendo pelas frentes de quem deveria, ou poderia, ter dado um melhor sistema de escoamento para o que ainda restava da muralha.

Mas não sejamos tão ingênuos. O que está em causa não são as intempéries, mas sim a gestão do património, que tem sido feita com o mesmo zelo que uma criança daria a um brinquedo quebrado. Entre gabinetes extintos, promessas vazias e uma administração obsoleta, o que aconteceu foi quase previsível: o desmoronar de uma parte da nossa história. E, como se já não fosse suficiente, a cidade vive na constante expectativa de que a Proteção Civil venha ao resgate, enquanto se gastam exorbitantes quantias em obras provisórias, que só adiam o inevitável. A muralha vai caindo e, com ela, a confiança da população.

Leopoldo Rodrigues tem agora a responsabilidade de agir. Não amanhã, não depois das eleições, mas já, porque a cidade de Castelo Branco não pode continuar a ver o seu legado desmoronar-se sem que se faça nada para impedir. Não se trata de uma questão de oportunidade política, mas de uma questão de preservação daquilo que nos pertence. Se a gestão da cidade continuar nesta inércia, o Castelo Branco que conhecemos não passará de um conjunto de ruínas, uma memória distante, uma cidade que, como as suas muralhas, desapareceu por maldade, desleixo e incompetência.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

2 COMENTÁRIOS

  1. E as Ruas dos Ferreiros, Santa Maria e Relógio, dão pavor, quando se circula lá. Há fachadas que fazem inveja à torre de Pisa, tal a inclinação que têm.

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