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O Interior e a Arte de Renovar a Política: Entre Tradições e Desafios do Futuro

Quando se olha para as autárquicas, uma questão inevitavelmente se impõe: porque há cada vez mais candidatos independentes? E, talvez mais importante ainda, o que é que está em jogo quando, além dos tradicionais partidos como o PS, PSD, Chega, IL, PCP, Livre, PAN, CDS, PPM ou BE, surgem movimentos de cidadãos que desafiam o statu quo da política local? Ou, em bom português, o que raio se passa no interior do país?

Longe do glamour dos grandes centros urbanos, o interior continua a ser um campo fértil de promessas de mudança, mas também de resistência às mudanças. A tensão entre a preservação das tradições locais e a necessidade de inovação tem sido o fio condutor de várias campanhas, tanto nas legislativas como nas autárquicas. Um paradoxo curioso: ao mesmo tempo que se fala em revitalizar, alguns preferem enterrar-se no glorioso passado, como quem remexe em velhos papéis de fotos desbotadas, na esperança de encontrar uma solução para os problemas de hoje.

Ora, o interior não pode ser apenas uma cápsula do tempo. Embora as raízes sejam importantes, é também vital perceber que o mundo já não é o mesmo de há 50 anos. Ou 100. Nem sequer o de há 20. Enquanto alguns insistem em viver numa nostalgia romântica da terra dos avós, o país vai mudando à velocidade da internet. A política não deve ser, como se diz por aí, uma mera máquina de reciclar promessas e velhos discursos. Ao contrário, deve ser um motor de mudança, capaz de olhar para o futuro, de se adaptar aos tempos e de criar soluções para os problemas reais da população.

O interior não pode continuar a ser uma terra de velhas festas de aldeia e procissões que mais parecem uma réplica das anteriores. Não pode ser apenas uma linha num roteiro turístico ou uma relíquia do passado, onde a juventude continua a emigrar em busca de uma vida mais “vibrante” – ou, como dizem, “com mais futuro”. Em vez disso, a política no interior precisa de se tornar dinâmica. Não basta manter as tradições e os rituais. Não se pode pretender que, por colocar uma velha banda filarmónica na praça central, o emprego surja do nada, ou que, com promessas de menos impostos, as novas infraestruturas apareçam como por magia.

Mas será que é mesmo possível equilibrar a preservação da identidade com o progresso? Claro que sim. Mas é preciso uma revolução suave, uma mudança de mentalidade. Não se trata de abafar as raízes, mas de fortalecer a capacidade do interior de se renovar, de ser uma terra que ofereça não só qualidade de vida, mas também oportunidades reais para as gerações que lá nasceram. Porque a verdadeira transformação não passa pela repetição das mesmas fórmulas falhadas do passado. A verdadeira transformação está em criar oportunidades de emprego e dar às pessoas as condições que elas realmente necessitam: saúde, educação e, acima de tudo, dignidade.

E é aqui que entram os novos candidatos, esses supostos “heróis” que surgem de todos os lados, cheios de sangue fresco, ideias ousadas, ou simplesmente com uma vontade férrea de mudar o curso da história política do interior. Uns mais experientes, outros mais entusiastas, mas todos com uma coisa em comum: a possibilidade de escrever uma nova página na história política das suas terras. Uma página que, ao contrário das anteriores, não seja uma folha em branco, esperando a tinta da próxima promessa não cumprida.

Mas, claro, não podemos esquecer os emigrantes. Aqueles que partiram, mas que continuam a ter uma ligação forte ao território. São muitos, e são esses, na maioria, que têm as melhores ideias sobre como revitalizar o interior. Não estamos a falar de utopias, mas de pessoas que têm uma visão cosmopolita, que sabem o que é viver num mundo globalizado e que trazem consigo uma perspetiva mais alargada sobre o futuro. A política do interior não pode ser algo fechado. Deve ser inclusiva, deve olhar para o mundo, não como uma ameaça, mas como uma oportunidade.

Por fim, o grande desafio para os políticos do interior – e aqui a ironia já não é só uma estratégia literária – é entender que não basta a política ser um jogo de promessas vazias. Não se trata apenas de discursos brilhantes e de promessas de mudança rápida. A verdadeira arte de renovar a política não está em enganar o eleitorado com slogans vazios. Está, antes, em construir um futuro melhor, em oferecer soluções concretas, em não esquecer o passado, mas também em não se deixar aprisionar por ele.

A arte de renovar a política no interior começa aqui: na coragem de construir um futuro melhor sem esquecer as raízes, mas sem deixar que elas nos prendam ao que já foi. E, quem sabe, com a ousadia de fazer o interior pulsar com as mesmas energias vibrantes que marcam as grandes cidades. Porque, ao fim e ao cabo, o que não falta no interior são terras com potencial. O que falta é quem saiba transformá-las. E é essa a verdadeira arte.

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Fernando Jesus Pires
Fernando Jesus Pireshttps://oregioes.pt/fotojornalista-fernando-pires-jesus/
Jornalista há 35 anos, trabalhou como enviado especial em Macau, República Popular da China, Tailândia, Taiwan, Hong Kong, Coréia do Sul e Paralelo 38, Espanha, Andorra, França, Marrocos, Argélia, Sahara e Mauritânia.

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