Em tempos de promessas vazias e discursos desconexos, a cidadania – conceito que deveria ser um pilar da democracia – ressurge como uma formalidade, uma palavra repetida até à exaustão sem grande consequência prática. Mas o cidadão Luís Vicente Barroso, ao interpelar a Câmara Municipal de Castelo Branco na sessão pública de 20 de janeiro de 2025, revelou o abismo entre a retórica política e a realidade prática. Ele não pediu favores, nem apelou ao favor de um executivo que, ao contrário, teima em omitir-se, em calar-se, na mais pura indiferença pela cidade e pelos seus cidadãos.
Quando o Executivo de Leopoldo Rodrigues se limita a anunciar “melhorias” superficiais, como a plantação de algumas árvores na Avenida do Empresário, a boa-vontade cívica de Barroso logo se afasta da festa do marketing político. O que interessa, questiona ele, é saber quando outras zonas da cidade vão ser contempladas com o mesmo tratamento, ou melhor, por que razão a segurança básica, como a remoção das palmeiras doentes na Avenida General Ramalho Eanes, permanece negligenciada, uma ameaça constante para os cidadãos. A resposta? O silêncio, um silêncio tão ensurdecedor quanto confrangedor, mas que revela, acima de tudo, a incomodativa incompetência do presidente.
O Bairro da Carapalha, palco de milhões de euros em investimentos, é um espelho claro do desperdício de recursos e de uma política urbana que não entende a necessidade de integração entre requalificação e sustentabilidade. O vazio verde, a ausência de áreas arborizadas, é mais do que uma falha de planeamento: é um atestado de ignorância ambiental. Barroso, sempre atento, não poupou críticas, alertando que a preocupação com as alterações climáticas não deveria ser limitada a momentos ou zonas específicas, mas sim uma prática diária, constante. Uma crítica pungente, já que, para o presidente, questões como a preservação ambiental parecem ser secundárias, ou até inexistem, à medida que o futuro da cidade se constrói sem uma visão sustentável.
A destruição do Jardim do Antigo Governo Civil, um espaço que poderia ser um ícone da cidade, é outro exemplo da ausência de visão do executivo. O jardim, que poderia ter sido revitalizado como um centro de convivência e cultura, foi deixado a definhar, reduzido a um espaço sem identidade e sem alma. A falta de ação para devolver-lhe o encanto é, mais uma vez, um reflexo direto da apatia do executivo. Quando Barroso perguntou pelo futuro desse jardim, a resposta de Leopoldo Rodrigues foi vaga, uma preocupação sem substância. Mas preocupação, como sabemos, não resolve problemas.
E se a falta de ação em áreas como o ambiente e o património histórico já são por si alarmantes, o caso do fogo-de-artifício da passagem de ano serve de metáfora para a forma como o executivo aborda as questões realmente importantes: com cegueira voluntária e um sorriso amarelo. Barroso não deixou de alertar para o impacto ambiental das explosões de pólvora, que contribuem para a poluição sonora e a emissão de partículas metálicas no ar. E qual foi a resposta do executivo? Nada, ou melhor, a eterna política do “não sei”, uma forma eficaz de evitar responsabilidades, adiar soluções e preservar a confortável inércia do poder.
O património histórico da cidade, como as chaminés da antiga Metalúrgica, também tem sido tratado com a mesma desconsideração. A falta de iluminação nas chaminés, símbolo da memória coletiva da cidade, é mais uma evidência da negligência. Se as chaminés estão a ser apagadas da memória da cidade, talvez seja porque o executivo também quer apagar o seu próprio histórico de promessas não cumpridas. O passado é incómodo para quem se esquece de como se chega ao futuro.
O estado do parque de estacionamento da Praça da Devesa, prometido como uma melhoria desde 2022, é outro triste reflexo da desídia. O espaço continua a ser um campo minado, com infiltrações e calcário a cair do teto, e o presidente, como de costume, responde com o mantra do “estamos a trabalhar nisso”, um tipo de promessa que nunca sai do papel.
E como não falar da antiga estrada nacional 18, que liga a rotunda das Benquerenças à cidade? A via, que deveria ser uma porta de entrada para o turismo, é hoje um depósito clandestino de lixo, com as bermas a servirem de lixão improvisado. A resposta de Leopoldo Rodrigues? O silêncio. Mais uma vez, um silencio ensurdecedor, que revela a falta de compromisso com a cidade e com os seus cidadãos.
O que mais dizer de uma cidade que se afasta da sua própria identidade? Talvez a palavra “desilusão” seja a mais justa. Com um presidente que prefere ignorar os problemas, que prefere um silêncio confortável a assumir responsabilidades, a cidade de Castelo Branco parece estar a caminhar para um futuro sombrio. A crítica de Luís Vicente Barroso, com a sua veemência e clareza, expõe a verdadeira face de um executivo que vive no autoelogio e no anúncio de medidas que nunca se concretizam. O legado de Leopoldo Rodrigues, se não for interrompido, será esse: um mandato repleto de promessas vazias e de uma gestão desinteressada, incapaz de responder aos problemas reais da cidade.
A cidade é feita pelas mãos de todos nós, mas quando as mãos do executivo estão ausentes, quem paga o preço são todos os cidadãos. E a fatura, essa, já está a ser paga há demasiado tempo.